Em maio, 250 pessoas foram atendidas por médicos psiquiatras no CAPS em Arcos

Em maio, 250 pessoas foram atendidas por médicos psiquiatras no CAPS em Arcos

Com a finalidade de saber o número aproximado de moradores de Arcos que estão em tratamento de saúde mental atualmente, no serviço público, o CCO recorreu à diretora da unidade local do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), Amanda Franco. 

Ela informou que, no mês de maio, foram realizados 250 atendimentos com os médicos psiquiatras e uma média de 110 atendimentos com os psicólogos. A unidade conta com dois médicos psiquiatras e quatro psicólogos.  

Há, ainda, os acolhimentos: uma média de 50 por mês. Geralmente, são pessoas que retornam para o atendimento, assim como novos casos. Desses 50 acolhidos no mês de maio, 10 precisaram do serviço devido a questões relacionadas ao uso de álcool e drogas.

Se consideramos que a cada mês são realizados 250 atendimentos com médicos psiquiatras, mantendo o padrão do mês do mês passado (maio), em um ano serão 3 mil atendimentos – que representam 7,37% da população de Arcos (40.658 habitantes – estimativa de 2021). Quanto aos atendimentos com psicólogos, seriam 1.320 em 12 meses (3,24% da população). 

Para uma população superior a 40 mil habitantes, o número não parece ser alarmante.

“Epidemia de transtornos mentais”. Será?

Em fevereiro de 2020, antes da pandemia de Covid no Brasil, encontramos uma série de divulgações, em nível nacional, que noticiavam o crescimento nos números de casos de depressão, bipolaridade, Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). De acordo com essas publicações, o Ocidente estaria vivendo uma “epidemia de transtornos mentais”. 

Ao continuarmos com a pesquisa na Internet, também encontramos questionamentos sobre esses números. Em uma publicação no Portal da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a conferencista e professora Maria Aparecida Moysés, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), argumenta: “O número de diagnósticos de transtorno mental é absurdo, e isso impede que muitas pessoas que realmente possuem o problema consigam ser tratadas na saúde pública”. Para ela, “a epidemia é de diagnósticos, não de transtornos mentais”. 

No entanto, aproximadamente três anos depois, de acordo com divulgação feita no site da Confederação Nacional de Enfermagem em 13 de outubro de 2022, o Brasil estava vivendo uma “segunda epidemia, agora na Saúde Mental”. Foi relatado que, no primeiro ano da pandemia de Covid-19, a prevalência global de ansiedade e depressão aumentou cerca 25%, de acordo com estimativa da Organização Mundial da Saúde. 

Ao consideramos os noticiários de nível nacional, assim como as situações de nosso conhecimento, não há como negar a existência de transtornos mentais e a necessidade de tratamento adequado, ou seja, não se pode negligenciá-los. Mas, por outro lado, também NÃO é prudente ignorar que algumas pessoas podem induzir os profissionais de saúde ao erro de diagnóstico, seja intencionalmente ou não.

Ao falarmos especificamente em depressão, observe que: em algumas circunstâncias da vida, que podem ser passageiras, a exemplo de um quadro de luto ou fim de relacionamento, as pessoas não suportam a tristeza e querem tomar as “pílulas da felicidade”. Em outros casos, talvez estejam cansadas de trabalhar e, embora não tenham nenhuma doença, desejam apenas obter um “diagnóstico” e um laudo, para receberem o “auxílio doença” – nesse último caso, reside a “má-fé”. 

Também existem os casos em que as pessoas têm sintomas parecidos com os de depressão, ataques de pânico e psicose e, na verdade, sinalizam outras doenças, a exemplo de transtornos hormonais, doenças neurológicas e problemas cardíacos. Daí a importância dos exames e da observação da condição clínica, para um diagnóstico adequado. Mas isso é assunto para médico. Leia na sequência: 


Orientações do Dr. Tarcísio Silva

Em fevereiro de 2020, o CCO entrevistou o médico Tarcísio Silva, especialista nas áreas de Endocrinologia e Clínica Médica. Na época, publicamos a matéria intitulada: Medicamentos psiquiátricos: quando eles realmente são necessários e os males que podem causar. Devido à importância desse conteúdo, republicamos, a seguir, os tópicos abordados:


A importância da avaliação do paciente por completo

Segundo Dr. Tarcísio Silva, principalmente em pessoas debilitadas, crianças e idosos, “é fundamental que doenças orgânicas sejam afastadas antes de se atribuir o fato a doenças psíquicas”. Quanto aos demais pacientes, principalmente adultos jovens, “um bom exame físico e anamnese (história detalhada dos sintomas bem como dos antecedentes do paciente) podem dar uma pista se o caso se deve a uma doença orgânica ou puramente mental. Na suspeita, o clínico ou mesmo o psiquiatra devem solicitar exames apropriados”.

O médico relata que diversas condições clínicas podem cursar com alterações psíquicas que são revertidas com o tratamento específico. Tais condições podem ser confundidas com ataques de pânico, depressão, ansiedade e psicoses. “É o caso de transtornos hormonais (tireoide, suprarrenal, hipófise, menopausa, andropausa, etc), metabólicas (intoxicações medicamentosas, anemias, hipóxia, acidose, diabetes descompensado, deficiências de vitaminas e minerais, porfirias), doenças neurológicas (isquemias e tumores cerebrais, hidrocefalia, delirium em idosos, epilepsias), doenças reumatológicas (lúpus, vasculites), doenças pulmonares (enfisema, asma), cardíacos (arritmias, insuficiência cardíaca, valvulopatias), dentre outras”, descreve.

Portanto, o médico que faz o atendimento inicial deve estar atento e, se houver suspeita, realizar a investigação. “O médico precisa ter cuidado ao medicar o paciente até que a avaliação seja realizada. Alguns problemas orgânicos podem ser agravados com uso de psicofármacos (medicamentos psiquiátricos), mas existem alternativas de medicações para serem utilizadas nessas situações”, diz Dr. Tarcísio Silva.


Males causados pelos medicamentos psiquiátricos (psicofármacos)

Segundo Dr. Tarcísio Silva, como toda medicação, os psicofármacos apresentam inúmeros efeitos colaterais, desde mais simples até mais graves, inclusive óbito. Os mais comuns em curto prazo são sedação, sensação de cabeça aérea, boca seca, taquicardia, alterações do funcionamento intestinal, do sono e do apetite. Em longo prazo, os danos podem ser maiores, como alterações de memória, perda de destreza motora, síndrome de Parkinson, distúrbios sexuais, dentre outros.

Nesse sentido, a escolha de cada psicofármaco leva em consideração não apenas a condição mental do paciente, mas também sua idade e outras doenças que já possui, como cardiopatias, doenças do fígado e dos rins, diabetes, pressão alta, etc.

É importante ressaltar que a maioria dos efeitos colaterais, inclusive os mais graves, pode ser evitada avaliando as condições de saúde de cada paciente e acompanhando periodicamente com exames clínico e laboratorial. “Isso significa que o paciente precisa ter acompanhamento periódico rigoroso. Por essa razão, tais medicações são de uso controlado, exigindo receitas especiais que comprovam que estão sob acompanhamento profissional. Se o paciente não puder ter esse acompanhamento periódico, melhor seria não usar essas medicações”, diz o médico, que também alerta sobre a necessidade de avaliar a real necessidade de uso dessas medicações. “Nem toda queixa psíquica é doença; em muitos casos, é apenas uma reação natural e passageira a certas ocorrências da vida diária. De fato, tem-se verificado um exagero nos diagnósticos de transtornos psiquiátricos e indicação inapropriada de psicofármacos. Uso de medicações sem necessidade traz terríveis consequências sociais, tanto quanto doenças mentais não tratadas ou tratadas inadequadamente”.


Em que casos é possível evitar os medicamentos psiquiátricos?

Dr. Tarcísio Silva relata que, na última década, uma das principais recomendações que passaram a ser rotina no tratamento dos vários distúrbios mentais foram as mudanças de estilo de vida com hábitos saudáveis. “É considerado uma falta grave deixar de recomendar aos pacientes com queixas psíquicas, hábitos e práticas tipo exercícios físicos regulares, dieta balanceada, técnicas de relaxamento, yoga, acupuntura, atividades filantrópicas (religiosas ou não)”, orienta e afirma que todas essas práticas, comprovadamente, trazem benefício em maior ou menor grau para diversos sintomas psíquicos. “Dependendo da condição do paciente, podem otimizar o tratamento com medicações ou serem usadas como tratamento isolado em casos mais simples”.

No entanto, diz o médico, é preciso “manter os pés no chão”, uma vez que existem transtornos psiquiátricos que exigem, necessariamente, uso de medicações para que o paciente tenha uma vida normal. “Isso ocorre porque a grande maioria dos transtornos psiquiátricos mais sérios (depressão maior, transtorno bipolar, TDAH, esquizofrenia) são doenças neuropsicológicas, ou seja, apresentam um fundo bioquímico e genético. Tais pacientes têm um mau funcionamento de alguns neurotransmissores que só podem ser corrigidos com medicação. Nesses casos, hábitos saudáveis melhoram os efeitos dos medicamentos, permitindo utilizar doses menores das medicações e, portanto, reduzir os efeitos colaterais e gastos em saúde. No entanto, seria incorreto dizer que tais pacientes podem ser tratados sem uso de medicações. Alguns raros pacientes abandonam o tratamento medicamentoso e conseguem se adaptar com muito esforço à rotina diária; mas isso é exceção e não é recomendado”, explica. 


Apoio psicológico é essencial

Dr. Tarcísio Silva orienta sobre a importância do apoio psicológico aos pacientes com queixas psíquicas. Ele diz que, para casos mais leves ou até moderados, pode ser o único tratamento, dispensando uso de medicações. Para casos mais graves, ajuda a aliviar os sintomas mais rapidamente (depressão, pânico, fobias) e reduz a necessidade de doses exageradas de medicamento. “Praticamente todos os pacientes devem ter um acompanhamento com um psicólogo mais especializado para seu caso. Aliás, indico que toda pessoa, sem exceção, realize pelo menos uma vez na vida uma avaliação psicológica. Não é ‘coisa de pessoa doida da cabeça’, como muitos pensam. Pelo contrário, é uma importante ferramenta de autoconhecimento e nos ajuda a prevenir diversos conflitos desnecessários que nos fazem ficar doentes fisicamente e mentalmente”, sugere.


Os benefícios da fé na restauração da saúde mental

Vários estudos científicos comprovam os benefícios da fé na restauração da saúde mental. Segundo Dr. Tarcísio Silva, mesmo médicos assumidamente ateus estimulam seus pacientes que não abandonem suas práticas religiosas, objetivando um maior suporte no tratamento.