Pneumologista e cardiologista orientam sobre riscos durante o inverno

Alerta: há maior incidência de infarto e AVC nos meses mais frios do ano, especialmente em populações idosas e com comorbidades

Pneumologista e cardiologista orientam sobre riscos durante o inverno

O pneumologista Caíque Menezes Dutra esclarece dúvidas do dia a dia quanto às doenças típicas do inverno, desde um simples resfriado, passando pela gripe, pneumonias, Covid, bronquite, exacerbações de doenças respiratórias crônicas, sinusites e otites médias.  
A cardiologista Izabela Cury Cardoso de Pádua orienta sobre o risco cardiovascular aumentado, no clima frio, especialmente para pessoas com hipertensão e doenças cardíacas.
Medicamentos vendidos sem prescrição podem mascarar sintomas ou piorar o quadro.
Leia as entrevistas na sequência:
De fato, as baixas temperaturas representam maior possibilidade de se contrair gripes e pneumonias? 
Dr. Caíque: Sim, as baixas temperaturas estão associadas a um maior número de infecções respiratórias, como gripes e pneumonias. Isso ocorre por múltiplos fatores: a permanência prolongada em ambientes fechados e mal ventilados facilita a transmissão de vírus respiratórios; o ar frio e seco compromete a função mucociliar das vias aéreas superiores (defesa natural do corpo) prejudicando a barreira natural contra patógenos; há também maior estabilidade de certos vírus, como influenza, em temperaturas mais baixas. Estudos epidemiológicos confirmam esse aumento sazonal das infecções respiratórias durante o outono e inverno.
Quais são as doenças que aparecem com mais frequência nesta época do ano?
Dr. Caíque: Gripe (influenza); resfriado comum (causado por rinovírus, adenovírus, vírus sincicial respiratório, etc.); pneumonias bacterianas; bronquite aguda causada também pelos vírus; exacerbações de doenças respiratórias crônicas, como asma e DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica); sinusites e otites médias. Essas condições aumentam devido à maior circulação de vírus e à resposta inflamatória aumentada pelo clima frio.
Quais são as orientações preventivas, além da higienização das mãos e uso de máscaras em locais de risco? 
Dr. Caíque: Medidas gerais para crianças: vacinação completa (incluindo gripe e pneumococo); evitar contato com pessoas doentes; boa alimentação e hidratação.
Medidas gerais para jovens e adultos: atualização vacinal; boa qualidade do sono e controle de estresse; ambientes ventilados.
Medidas gerais para idosos: vacinação contra gripe, pneumococo e COVID-19; cuidado com exposição ao frio; acompanhamento de comorbidades.
Para todos: evitar aglomerações, manter boa hidratação, não fumar e realizar atividade física regularmente e em ambientes sem grandes aglomerações.
Pessoas de todas as faixas etárias podem fazer nebulização com soro fisiológico em casa, como medida preventiva ao começar os primeiros sintomas de resfriados e/ou gripes? Ou existem contraindicações?
Dr. Caíque: Em geral, sim. Nebulizações com soro fisiológico 0,9% podem ser usadas para hidratar as vias aéreas e fluidificar secreções. Porém, não tem efeito preventivo comprovado contra infecções virais; em crianças menores de 2 anos, deve ser usada com orientação pediátrica; não se deve adicionar medicamentos sem prescrição médica.
Nesta época, os postos de saúde e prontos socorros costumam ficar lotados, inclusive com pessoas que estão com sintomas de gripe no mesmo ambiente que as demais.  É prudente ir até essas unidades de saúde aos primeiros sintomas? Ou é melhor esperar uns cinco dias, considerando que pode ser apenas um “resfriado” que melhora logo?
Dr. Caíque: Depende do quadro clínico:
• Sintomas leves (coriza, dor de garganta leve, febre baixa): é razoável aguardar até 3–5 dias, com medidas de suporte;
• Sintomas moderados ou de risco (febre alta persistente, falta de ar, dor no peito, prostração): é prudente procurar atendimento precoce;
• Idosos, crianças pequenas, imunossuprimidos e gestantes devem ser avaliados com mais rapidez, mesmo com sintomas leves.
Evitar ambientes superlotados quando possível, mas não negligenciar sinais de alarme.
Quais são os sintomas de um resfriado simples que irá passar logo?
Dr. Caíque: coriza clara; espirros; dor de garganta leve; tosse seca, que pode durar até 4 semanas após um quadro de resfriado; febre baixa (ou ausente), desconforto geral leve.
Duração típica: 5 a 7 dias.
Quais são os sintomas de gripe?
Dr. Caíque: início súbito de febre alta (>38,5°C); dor muscular intensa; cefaleia (dor de cabeça); tosse seca; fadiga e prostração.
Pode haver dor de garganta e coriza.
A gripe é mais agressiva e debilitante que o resfriado comum. Não são necessários todos os sintomas. 
Quais são os sintomas de pneumonia? 
Dr. Caíque: febre alta persistente; tosse com catarro (ou seca, em idosos); dor torácica ventilatório-dependente = dói quando respira; falta de ar; cansaço extremo; confusão mental (em idosos).
A confirmação é feita por exame clínico e radiografia de tórax. Requer atenção imediata.
Quais são os sintomas de Covid?
Dr. Caíque: Os sintomas são parecidos: febre; tosse seca; dor de garganta; perda de olfato ou paladar (menos comum nas variantes recentes); dor no corpo; dor de cabeça; cansaço.
• Em casos graves: falta de ar, hipoxemia.
Testagem é fundamental para diagnóstico e conduta.
O uso de “expectorantes naturais”, como chá de cebola e alho ou beterraba com mel, pode ajudar a evitar essas doenças, se forem tomados logo no início dos sintomas? Ou é melhor ir ao médico logo no início?
Dr. Caíque: Chás como os de alho, cebola ou beterraba não têm efeito comprovado. Mel pode ser usado como medida de conforto para tosse. Em casos de sintomas persistentes ou agravamento, procurar um profissional é essencial.
Um hábito comum é a automedicação. Existem medicamentos vendidos nas farmácias que podem complicar o quadro?
Dr. Caíque:  Sim. Medicamentos vendidos sem prescrição podem mascarar sintomas ou piorar o quadro:
•  Antibióticos: uso inadequado pode causar resistência bacteriana e efeitos adversos;
• Anti-inflamatórios (ibuprofeno, diclofenaco): podem irritar o trato gastrointestinal e sobrecarregar rins, especialmente em idosos;
• Descongestionantes orais (pseudoefedrina): aumentam a pressão arterial e frequência cardíaca;
• Corticosteroides sem indicação médica: suprimem o sistema imune.
Automedicação deve ser evitada. A avaliação médica é o melhor caminho para tratamento seguro e eficaz.
Entrevista com a cardiologista Izabela Cury Cardoso de Pádua
A baixa temperatura representa maiores riscos para pessoas que têm hipertensão, inclusive com maiores riscos de infarto e AVC? 
Dr ª. Izabela Pádua:  Sim. O frio pode representar um risco cardiovascular aumentado, especialmente para pessoas com hipertensão e doenças cardíacas. Mecanismos envolvidos:
• Vasoconstrição periférica induzida pelo frio, que eleva a pressão arterial sistêmica.
• Aumento da viscosidade sanguínea, que pode favorecer trombose.
• Ativação do sistema nervoso simpático, elevando frequência cardíaca e pressão arterial.
Estudos mostram que há maior incidência de infarto agudo do miocárdio (IAM) e acidente vascular cerebral (AVC) nos meses mais frios do ano, especialmente em populações idosas e com comorbidades.
Quais as principais orientações específicas para esta época do ano, para os hipertensos e pessoas com doenças cardíacas? 
Dr ª. Izabela Pádua: Manter o controle rigoroso da pressão arterial, mesmo que esteja bem controlada no verão — reavaliações podem ser necessárias; evitar exposição ao frio intenso, principalmente nas primeiras horas da manhã; ajustar a medicação com base na pressão aferida regularmente; não interromper o uso de medicamentos prescritos, mesmo que a pressão pareça “normal”; manter atividade física leve e indoor [ambiente fechado], se possível, para evitar esforço em ambientes frios; vacinação em dia, especialmente contra gripe e pneumococo, que podem descompensar quadros cardiovasculares.
Quais são os cuidados que devem ser redobrados nesta época do ano, para evitar complicações? 
Dr ª. Izabela Pádua: monitorar a pressão arterial com mais frequência, inclusive em casa, especialmente em idosos; evitar banhos muito quentes seguidos de exposição ao frio, o que pode provocar vasoconstrição súbita; redobrar atenção a sinais de descompensação cardíaca, como edema, cansaço e dor torácica; manter-se hidratado, mesmo que o frio reduza a sensação de sede — a desidratação aumenta a viscosidade do sangue; controlar a dieta e o consumo de sódio, que costuma aumentar com alimentos mais calóricos no inverno; evitar aglomerações e infecções respiratórias, pois gripes e pneumonias podem precipitar eventos cardíacos em pacientes vulneráveis.
Dr ª. Izabela e Dr. Caíque moram em Belo Horizonte. Eles atendem periodicamente na Fumusa, em Arcos.