A vida das mulheres nas décadas de 1960 a 1980

Dorinha Caetano conta fatos curiosos e fala de superação

A vida das mulheres nas décadas de 1960 a 1980

Maria das Dores Siqueira Caetano (Dorinha) nasceu na capital mineira, em 1949. É filha da dona de casa Hortência Bernardes Siqueira e do engenheiro agrônomo Ayrard Alves Siqueira, ambos falecidos. Veio para o município de Arcos ainda criança. Morou na zona rural do Corumbá. O pai dela era chefe da Fazenda do Estado.

Casou-se aos 20 anos, em 1970, com o arcoense José de Oliveira Caetano (Zeca). É professora, especializada em Pedagogia, tendo começado a trabalhar em 1971. Lecionou ao longo de 25 anos nas escolas estaduais “Maricota Pinto” e “Yolanda Jovino Vaz”, tendo se aposentado em 1999, quando estava no cargo de vice-diretora na Gestão de Maria Inês Rocha de Carvalho.

Dorinha e Zeca tiveram quatro filhos: Carlos Eduardo (faleceu bebê), Cláudia – professora universitária na área de Jornalismo e Publicidade, Leonardo – formado em Administração de Empresa e empresário, Rogério – formado em Engenharia de Controle de Automático. “Tive também dois filhos de coração: Eduardo (que é especialista em Gestão Financeira) e Felipe (encarregado de mecânica)”, ambos com curso superior. 

Os filhos deram seis netos ao casal: Carlos Eduardo, formado em Engenharia Elétrica; Maria Eduarda, que está fazendo Odontologia; Henrique, que está cursando Engenharia Elétrica; André, Rafael e Mateus, que são estudantes. 

A qualidade do tempo com os filhos

Dorinha conciliou a vida de dona de casa, esposa e mãe com a carreira profissional, graças à ajuda da mãe dela e de ajudantes que colaboraram na criação dos filhos. Ela considera importante que a mulher tenha sua independência financeira. “Faz parte, faz falta e acho muito importante para a mulher. Ficar fora não é o problema; o problema não é a quantidade do tempo que você fica com os filhos, mas é a qualidade desse tempo que vai pesar. Seja realmente presente e eduque pelo exemplo”, dá a dica.

Mulheres malvistas 

Nascida em 1949, ela viveu em uma época bem diferente da atual. Na década de 1960, havia muito preconceito em relação às mulheres. “Eram educadas para serem donas de casa, mães de família, esposas. Então, quando chegavam a uma certa idade, 20, 25 anos, já eram consideradas beatas. As moças achavam que tinham que casar cedo”. 

O divórcio era outro problema. As mulheres divorciadas ficavam “faladas” – malfaladas. Alguns trajes femininos eram censurados, como por exemplos os shorts e as minissaias. Aliás, a minissaia surgiu no início da década de 1960. Dorinha aderiu à moda e o local de passeio em Arcos, na época, era um clube social. No local havia as “Horas Dançantes”. Ela conta que a minissaia, naquela época, ficava, quatro dedos acima dos joelhos. “A primeira minissaia, hoje é considerada uma saia grande, viu! Não era tão curta assim”, disse, sorrindo.

Naquele tempo, as mulheres, mesmo maiores de idade, não podiam sair sozinhas. Quando iam namorar, tinham que levar acompanhante: a “vela”. 

O preconceito contra as mulheres que pintavam os cabelos

Pintar os cabelos de loiro não era aconselhável, pelo menos até o final da década de 1980. De maneira geral, as mulheres que não se adequavam ao padrão eram malvistas.  “Conforme o jeito que as mulheres trajavam, eram consideradas prostitutas. Era uma discriminação enorme!” 

A evolução foi importante. “A mulher tem que ter seu papel na sociedade, tem que ter direitos iguais aos dos homens, não pode ser subjugada ao homem hora nenhuma”.

O que falta para elas conquistarem?

Dorinha responde: “No mercado de trabalho, geralmente o homem ganha mais que a mulher, então, isso tem que ser equiparado. Na política, são poucas as mulheres que fazem parte”. Ela diz que as mulheres precisam se realizar nos diferentes aspectos: amoroso, social, financeiro e também político. Nesse momento da entrevista, enfatizou que, no Brasil, as mulheres só passaram a ter direito ao voto em 1932. Nessa questão, o Brasil foi pinheiro na América Latina.

Emancipação feminina e “efeito colateral” 

Com toda a evolução feminina, principalmente em termos de carreira profissional, muitas mulheres estão tendo uma renda maior que a dos maridos e, pela falta de condição financeira deles e/ou por outros motivos, elas acabam tendo que assumir muitas despesas domésticas. Com isso, além de trabalharem fora e realizarem algumas ou todas as tarefas do lar, estão se tornando as provedoras. 

Muito se fala em inversão de papéis, fato que deixa algumas mulheres insatisfeitas. A emancipação feminina teve seus pontos negativos, o que não reduz sua relevância. Dorinha refere-se a esse cenário como um efeito colateral. “Essa nossa liberdade nos custou alto, mas valeu a pena”. Nesse sentido, deve haver um equilíbrio entre o casal: “É importante que os dois tenham uma parceria”.

Nesse aspecto, comenta nossa entrevistada, os homens evoluíram, porque muitos contribuem nos cuidados com os filhos – trocando fraldas e dando banho, por exemplo – e realizam tarefas domésticas. “Na minha época, quando eu casei, isso não podia acontecer. Era uma desonra para os homens; mas o meu marido não foi assim e me ajudava muito”.

Dicas para as mulheres se tornarem elegantes no comportamento e no vestuário 

A vulgaridade na moda e também no modo de agir têm sido marcantes nas últimas décadas, quando muitas meninas têm referências inadequadas de artistas que usam roupas muito justas, curtas e decotadas, além de fazerem apologia ao uso de drogas e ao aborto. 

Dorinha diz: “Tudo pode, mas nem tudo nos convém. A liberdade tem que ter limite”.  Acrescenta que, para serem valorizadas na família, no trabalho e no convívio social, é importante que as mulheres sejam íntegras e tenham cuidado com a exposição excessiva, evitando situações que podem prejudicá-las. 

Para educar bem os filhos

“Eu diria para as mulheres educarem seus filhos com amor, carinho, diálogo e ensinar valores como Respeito, Honestidade, Justiça, Educação, Solidariedade, Ética, Fé – que orientam o comportamento e as ações do ser humano. Devemos educar mais pelo exemplo do que pelas palavras”.

As perdas 

 “Já passei por muitas dores. Já entreguei para Deus: pai, mãe, filho, marido e muitos amigos, mas nisso a gente se fortalece, a gente cresce. A dor é uma oportunidade de crescimento. A gente sai mais forte. O que me sustenta é a fé e também a família, os amigos, o trabalho voluntário, que foi onde eu encontrei as forças para continuar sem o Zeca”.  

Aproximadamente cinco anos depois que Dorinha se aposentou, em outubro de 2004, foi inaugurada a Loja da família (Duzeka), onde ela também passou a trabalhar. Antes disso, o marido foi sócio da Casa Caetano, ao longo de 37 anos, tendo começado em 1967. Zeca faleceu em agosto de 2012.

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Matéria produzida na Redação do Jornal e Portal Correio Centro Oeste. Jornalistas e proprietários de veículos de comunicação que desejam reproduzir nosso conteúdo devem citar a fonte: Jornal e Portal CCO.