Brasileira foi abandonada após ser picada por cobra na fronteira México-EUA

Confira o relato de uma valadarense que conseguiu entrar de forma ilegal nos Estados Unidos

Brasileira foi abandonada após ser picada por cobra na fronteira México-EUA

O sonho de um salário digno, que proporcione estabilidade e conforto, é almejado por qualquer brasileiro. Para concretizar esse desejo, muitos buscam a vida em outro país. Vários casos de valadarenses que conseguiram mudar a realidade se mudando para os Estados Unidos são contados em todas as rodas sociais. O que muitos não contam, porém, são os desafios para conseguir chegar lá e viver longe do Brasil.

Além da dificuldade de comunicação por conta do idioma e da carga horária excessiva de trabalho, o emigrante precisa lidar, diariamente, com o preconceito. Contudo, essa é uma dificuldade pequena se comparada a tudo que eles passam para entrar ilegalmente nos países de destino.

Eu cheguei a ficar escondida em um porão de uma casa por dias. Um lugar escuro e lotado, onde fiquei sem comer e sem banho. Mas isso não chega nem próximo das coisas horríveis que passei na fronteira do México com os Estados Unidos”, conta uma valadarense, de 53 anos, que largou o serviço de doméstica e os filhos para ir ilegalmente para os Estados Unidos. O nome dela e de outros que entrevistaremos nesta seção serão mantidos em sigilo.

Para conseguir entrar nos Estados Unidos ela entrou em contato com um “coiote”, em 2018, e saiu de Valadares rumo ao México no mesmo ano. Quando saiu de Valadares só pensava em chegar aos Estados Unidos, trabalhar para juntar dinheiro e voltar. Chegando ao país latino, ela foi muito bem recebida. Só que não imaginava como seria a travessia para os Estados Unidos

“Quando saí de Valadares estava boba, sonhando em ganhar dinheiro e poder arrumar minha casa, comprar um bom carro e curtir melhor a vida, já que meus filhos já estavam estudando e trabalhando. Mas foi um completo terror. Tive que atravessar o rio em um bote muito vazio, que achei que nem aguentaria meu peso. Cheguei a ficar presa em lugares lotados, sem comer direito, com vários desconhecidos usando drogas o tempo todo. Chegou um momento em que tivemos que correr em uma mata muito fechada e muito escura. Eu estava com um pequeno grupo e éramos guiados por homens que nem ligavam se estávamos atrás deles. Só víamos as lanternas e corríamos sem ligar para os galhos e espinhos que nos cortavam o tempo todo. Cheguei a torcer o pé e só consegui finalizar o caminho com a ajuda de um rapaz”, conta.

Infelizmente, segundo a emigrante, nem todos conseguiram atravessar a fronteira com vida. “Uma menina brasileira que estava com a gente acabou sendo picada por uma cobra e precisou ser deixada para trás. A cena da prima dela, que a acompanhava, chorando e gritando por ter que abandoná-la ainda viva me perturba. Foi horrível. Ela teve que decidir: ou ficava para trás com a prima ou continuava o trajeto atrás dos coiotes”.

Felizmente, nossa entrevistada conseguiu completar o trajeto. Já faz cinco anos que ela vive fora do Brasil. Mesmo tendo completado o sonho, hoje, seu maior desejo é retornar para casa.

Por Agnaldo Souza agnaldo@drd.com.br

Díario do Rio Doce

FOTO: Alexis Chateau

O DESERTO do México é conhecido por ser o habitat natural de várias espécies de cobras, uma delas é a cascavel