Série Ex-prefeitos de Arcos: Zizo marcou a história de Arcos com a disputa entre ‘gravetos e toras’ e obras

Olívio Guimarães de Faria ('Zizo') nasceu em 27 de agosto de 1945 e faleceu em 1996. Era arcoense, filho do ex-prefeito Edgar Faria Gontijo (mandato 1959/1963 e 1967/1971) e de Juracy Guimarães Faria.
Casou-se com Maria Helena Carvalho Faria, com quem teve três filhos: Adriana Carvalho Faria Fontes, Eduardo Carvalho Faria e Luciana Carvalho Faria Arruda.
Foi prefeito de Arcos na gestão de 1973 a 1977, tendo como vice-prefeito Etelvino Teixeira Borges. O prefeito anterior a ele foi José Teixeira Rezende (gestão 1971/1973).
O Jornal CCO entrevistou Adriana Fontes, filha de Zizo, para que contasse a história de seu pai. Adriana disse que ele iniciou na carreira política muito novo, com apenas 26 anos. Era formado em Contabilidade e trabalhava na área contábil da empresa 'Construtora Faria Limitada', onde era sócio juntamente ao seu tio.
A convite do pai, decidiu iniciar na carreira política. Na primeira tentativa para o cargo de prefeito, foi vitorioso. Segundo Adriana, ele se dedicou muito como prefeito e chegou a utilizar dos próprios bens pessoais para ajudar outras pessoas: "Naquele tempo a política era bem diferente, não era igual nos dias de hoje, que envolve dinheiro. Naquela época foi muito pelo contrário, meu pai colocou dinheiro na Prefeitura. Ele entrou bem [financeiramente] e saiu mal, porque teve que vender vários imóveis para poder pagar despesas do povo", contou.
Ela também ressaltou que naquele período os prefeitos tinham que trabalhar com recursos próprios, porque não tinha muitos recursos na Prefeitura, como atualmente, com verbas para saúde e educação. “Na época do meu pai, não tinha isso, a pessoa trabalhava com recurso próprio".
Em 1994, ele foi candidato a deputado estadual. Segundo ela, Zizo precisava de 18 mil votos para ganhar. Em Arcos ele conquistou 10.991 votos e, em outras cidades, teve de 3 a 4 mil votos, com isso, faltou bem pouco. Adriana comentou que provavelmente ele já estava doente, porém não sabia. Faleceu em 1996.
Ao longo da trajetória, ele ajudou muitas pessoas na política: "Ele ajudou a Dona Hilda e o Plácido. Ele ajudava com as estratégias políticas, porque ele gostava muito, mas, entrar de novo na política ele não entrou", contou.
Obras
De acordo com o livro Histórias de Arcos, de Lázaro Barreto, Olívio Guimarães realizou as seguintes obras: calçamento de muitas ruas; instalação do sistema DDD da Telemig; instalação da Delegacia Florestal; instalação da Agência do Banco do Brasil; asfaltamento da Av. Rondon Pacheco; limpeza e drenagem dos rios Preto e Arcos; alargamento e recapeamento da Av. Governador Valadares; abastecimento de água potável nos bairros e comunidades rurais; construção de escolas municipais em São Domingos, Usina Velha, Santana, Boa Vista; início da construção do atual prédio da Prefeitura; eletrificação rural da Ilha, Boca da Mata e bairro Cruzeiro; reforma e ampliação da rede de abastecimento de água potável.
Adriana também disse que seu pai foi quem trouxe a Copasa para o Município e foi o responsável por conseguir o terreno do prédio da Prefeitura. Na época da administração política dele, a Prefeitura ficava localizada onde é atualmente a Fumusa.
Toras e Gravetos
Segundo Adriana, a candidatura política de seu pai ficou marcada na história política de Arcos e na memória da população da época, pois havia uma ferrenha competição entre os 'Toras' e 'Gravetos'. "O que mais marcou a política dele e que o pessoal mais antigo vai lembrar, é da época dos gravetos e das toras. Foi uma política muito disputada e ele representava a classe pobre, dos gravetos; e as toras era a parte mais rica da cidade", explicou.
Ela disse que havia uma rivalidade muito forte entre cada grupo político e que seu pai ganhou para prefeito com muitos votos de diferença. "Foi uma política histórica, porque ele era muito novo e era apoiado pelo meu avô; e ninguém imaginou que ele ia ganhar. Os gravetos se consolidaram e ganharam a eleição".
Segundo Adriana, os apoiadores políticos tinham um amor tão grande pelos 'Gravetos', que quando o pai dela faleceu, um homem fez uma homenagem para ele: "No sepultamento dele, um senhor chegou lá com um graveto pequeno e enterrou junto com ele. Ele falou que tinha guardado aquele graveto da época, estava até seco. Esse fato me marcou muito, no dia do velório do meu pai. Meu pai morreu com 51 anos, então ele guardou esse graveto por mais de 20 anos", relembrou.
"Ele dava o dele para os outros, ele não conseguia ver uma pessoa pedindo e não ajudar" - Adriana Fontes
Quem era Olívio Guimarães de Faria como pai? "Meu pai era daqueles que levantava de noite e trocava fraldas, aquele pai que dava mamadeira na cama, se chovesse à noite ele ia até os quartos para ver se estávamos cobertos e se não tinha goteira".
Olívio Guimarães também era um homem caseiro, amoroso com as pessoas e com a família. "Meu pai não ficava um dia sem ir na casa do meu avô e da minha avó para dar bênção, mesmo ele estando casado. Ele tinha loucura pelos pais dele, pelos filhos e pelos irmãos. [...] Ele também dava o dele para os outros, ele não conseguia ver uma pessoa pedindo e não ajudar", finalizou.
Reportagem: Cecília Calixto
Matéria publicada pelo Jornal CCO impresso em 26/09/2020 - Edição 2070