Seu cão não é e nem será seu filho, ele é um cão

Os adestradores Whaubert e Higor falam sobre a importância do adestramento de cães como proteção para humanos e os próprios cães, enquanto faziam demonstrações com um 'husky siberiano', que atende por Tony e um 'border collie', chamado Chico. Confira o vídeo.

Seu cão não é e nem será seu filho, ele é um cão
Whaubert conduzindo Chico na pista de Agility

O adestramento de cães é uma ideia tão antiga quanto a humanidade, desde o dia em que um ser humano se propôs a treinar um cão para uma função específica. É o que comentou Higor Gabriel da Fonseca Assis, médico veterinário graduado pela UNA de Bom Despacho. “Adestrar é orientar os cães para que possam ter um bom comportamento que facilitará, não só a vida do tutor, como a do próprio cão”. Ele explicou que um animal sem controle, sem saber lidar com as situações adversas do dia a dia, torna-se ansioso, reativo e agressivo, tanto com outros cães e quanto com pessoas.

“Quando o cão é orientado, direcionado, com adestramento correto, ele saberá lidar com essas situações e saberá se comportar, facilitando sua própria vida e a do seu tutor”. Higor exemplificou dizendo que facilitar a vida é, por exemplo, evitar que o cão saia correndo sem controle, coma coisas do chão possibilitando o envenenamento, entre outras situações inadequadas às rotinas diárias.

Tipos de adestramento

Falando sobre os tipos de adestramento, o veterinário continuou detalhando: “Existe o adestramento comportamental, que é orientar como cão deve se comportar nas diversas situações de convívio”. Higor também destacou o adestramento para guarda e proteção, cuja denominação se explica por si só, além do treinamento para a prática de “agility” que tem tido crescente aceitação no mundo ‘pet’. O Agility é um esporte praticado pela dupla ‘cão e condutor’ onde o cão deve superar uma série de obstáculos, no menor tempo possível.



Whaubert Junio de Almeida Barbosa, também adestrador de cães, esclareceu: “Os cães são treinados para desempenhar um tipo de função, tais como: acompanhamento de pessoas com autismo, deficientes visuais, farejamento, guarda e proteção, entre outros, tais como o pastoreio”. Assim, conforme o adestrador, em decorrência das inúmeras atividades e finalidades possíveis, são incontáveis as funções que estarão voltadas para a satisfação das necessidades dos respectivos tutores.

Raças e características

Além da questão funcionalidade é importante considerar as raças e suas características, alertou Whaubert: “É necessário e importante pesquisar, antes de adquirir uma raça de cão”. Como exemplo ele cita o caso de uma pessoa que reside em apartamento, sem tempo para dedicar-se a um cão de raça que demande grande consumo de energia, tal como um pastor belga malinois, um husky siberiano, um golden retriever ou um border collie estará proporcionando maus tratos ao animal.

“Um cão ideal para apartamento seria um buldogue inglês, pug e buldogue francês. Estes são animais que não demandam grande gasto de energia, são cães mais ‘parados’”. Segundo ele, não tem necessariamente a ver com o tamanho do animal: um chihuahua, mesmo que seja de pequeno porte, exige passear, gastar muita energia física e mental.

Para pesquisar um cão adequado à função desejada pelo tutor, também devem ser considerados outros fatores, disse Whaubert e sublinhou: “Não basta pensar no objetivo que se deseja do desempenho do animal, mas também e principalmente de suas diversas características para o cumprimento de sua missão”.

Muita gente comenta sobre sua relação com os cães sem linhagem definida, mais conhecidos como ‘vira-latas’ (‘caramelos’ ou não). Conforme esclareceu Whaubert, as características comportamentais desses cães serão consequência das raças envolvidas no cruzamento, sendo difícil avaliar sobre suas características comportamentais, sem saber quais são as linhagens que resultaram naquele determinado animal.

Quanto mais cedo melhor

Whalbert afirmou que, com 45 dias, é recomendável que seja iniciado o adestramento e disse que não há idade limite. O cão aprenderá desde seu nascimento até a idade longeva. Porém, destacou que, à medida que o tempo passa, o animal poderá demorar mais para aprender. “Enfim, dependerá da persistência do tutor. É igual a academia [de ginástica]: se você pagar e não for praticar, não terá o resultado desejado”.

Whaubert com 'Tony'

Whaubert disse que, para uma obediência básica, envolvendo os comandos básicos: “junto”, “senta”, “deita”, “fica" e "aqui”, são de três a quatro meses de adestramento. “Porém, este tempo varia muito de cão para cão e de tutor para tutor”. Ele explicou que o adestramento vai além de ensinar comandos. Os resultados dependerão do trabalho que o tutor terá com seu cão diariamente, pois, segundo ele, 70% do adestramento é manejo (a forma como se lida com o cão no dia a dia).

Whaubert destacou uma questão recorrente: “Há que acredite que o cão é ou se tornará seu filho e o trata com beijos, abraços e carinho excessivo. Será a maneira mais eficiente para transformar seu cão, num animal agressivo. Seu cão não deseja ser seu filho ele quer ser um cão”. O adestrador diz que, embora, o cão precise de muita atenção, será diferente de seu filho e que, não for suprida de maneira adequada ao animal, o comportamento dele resultará indesejado no convívio.

O cão disciplinado é aquele cujo tutor é disciplinado. Ele finalizou, avaliando: “90% dos cães de Arcos necessitam de reabilitação, cães e tutores”.