Suspeitos do homicídio que vitimou jovem arcoense serão julgados dia 23
Foram 34 perfurações com arma branca; crime ocorreu na casa da vítima, um jovem de 22 anos; um dos suspeitos continua foragido
Está agendado para o dia 23 de janeiro, no Fórum da Comarca de Arcos, às 9 horas, o julgamento dos dois suspeitos do crime que vitimou o jovem arcoense Macaulay Fernandes Rodrigues, aos 22 anos. O fato ocorreu há aproximadamente dois anos, em janeiro de 2022. Macaulay era ajudante de carregamento de caminhão.
Um dos suspeitos de envolvimento foi preso aproximadamente três meses depois – em operação montada pela Polícia Civil – e o outro continua foragido.
Segundo familiares da vítima, Macaulay foi morto na casa dele, no bairro Márcia Faria, na noite de 29 para 30 de janeiro de 2022, com 34 perfurações feitas com arma branca.
De acordo com o registro feito pela Polícia Militar à meia-noite e 45 minutos da madrugada de 31 de janeiro de 2022, a vítima encontrava-se caída, com muito sangue ao seu redor e com várias perfurações pelo corpo. A Perícia Técnica foi acionada e demais providências foram tomadas para o rastreamento, na tentativa de identificação e localização do autor do crime. Em seguida, todas as informações foram repassadas à Polícia Civil, que assumiu a investigação do caso.
Os suspeitos– que identificaremos como “X” (foragido – idade: 36 anos na época) e “Y” (preso – idade: 25 anos na época) – eram considerados amigos de Macaulay – uma amizade de aproximadamente sete meses. “X”, o principal suspeito, trabalhava com Macaulay “fazendo bicos” na área de construção civil.
O CCO telefonou para os advogados dos suspeitos em novembro de 2022. A advogada de Y (que está preso) conversou com a família dele, que optou por não se manifestar, naquela ocasião, uma vez que as investigações ainda não estavam concluídas. O advogado de X nos enviou Nota, por e-mail, assinada com o nome do escritório, no dia 11 de novembro de 2022, confirmando que ele estava foragido: “Assim permanecerá até quando julgarmos conveniente e oportuno”, escreveu. Acrescentou que seria marcada outra audiência para interrogatório dos réus, bem como para oitiva de duas testemunhas, oportunidade na qual seu cliente seria interrogado.
Alegações dos suspeitos (no processo)
Na tarde de hoje, 10 de janeiro de 2024, o CCO pesquisou o Processo, disponível para consulta pública. Consta que, em junho de 2022, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) ofereceu denúncia em desfavor dos dois, pela suposta prática de crime de homicídio qualificado. Em Relatório com data de 21 de novembro de 2023, é informado que a defesa de “X” [foragido] apresentou alegação de que “a denúncia é inepta”, “sem justa causa” e que não apresenta todas as circunstâncias do crime. Foi requerida a “impronúncia do acusado, sustentando a inexistência de indícios suficientes de autoria”.
A defesa do acusado X [que está preso] também requereu a impronúncia dele, “sustentando que não há indícios suficientes de autoria, bem como formulou novo pedido de revogação da prisão preventiva”.
Foram mantidas as prisões preventivas dos acusados.
Esses dados foram publicados dia 21 de novembro de 2023, em relatório assinado pela juíza Vanessa Torzeczki Trage, da 2ª Vara Cível, Criminal e de Execuções Penais da Comarca de Arcos. Foi determinado que o réu foragido deveria ser intimado por edital com prazo de 15 dias.
Macaulay deixou dois filhos pequenos
Além da mãe, pai, padrasto e irmãos, Macaulay deixou um filho que hoje está com aproximadamente 5 anos (do relacionamento com a primeira mulher) e a nova companheira, que estava grávida quando ele morreu. O bebê nasceu 22 dias depois da morte do pai. Atualmente, está com aproximadamente 2 anos de idade. O casal estava junto há um ano e dois meses.
Uma das irmãs de Macaulay, Jenifer Moreira Lopes, enviou ao CCO a imagem pedindo “Justiça por Macaulay Fernandes” e convidando a todos os familiares e amigos a estarem, com a família, em 15 dias de oração e jejum (8 a 22 de janeiro).
Relatos feitos ao CCO pela mãe e irmã da vítima
A mãe de Macaulay é esteticista e o pai é operador de máquinas. No dia 28 de outubro de 2022, foi realizada a primeira audiência, no Fórum de Arcos. Na mesma data, a reportagem do CCO conversou com a mãe e duas irmãs dele. Elas estiveram na Redação. As informações sobre a vítima e os suspeitos, relatadas na reportagem publicada em 16 de novembro de 2022 e republicadas nesta reportagem, foram obtidas junto a elas.
Macaulay era ajudante de carregamento de caminhão e também fazia serviços gerais nas horas de folga. Leia na sequência.
O dia do crime
Naquele sábado (29 de janeiro de 2022), Macaulay havia retornado de Belo Horizonte, depois de quatro dias acompanhando a esposa, que estava internada. A esposa continuou internada e ele viajou de ônibus até Formiga e teria pedido ao amigo “X” para buscá-lo de carro.
O casal estava em Pains, quando ela foi levada para Belo Horizonte em ambulância e ele foi como acompanhante, deixando o carro no Hospital de Pains.
O amigo “X”, que não tinha carro, teria recorrido a “Y” – amigo dele e de Macaulay. Na ocasião, Y e a namorada estariam na casa de X e da esposa. Os dois (X e Y) teriam ido juntos para buscar Macaulay no trevo de Formiga e teriam passado em Pains para que Macaulay pegasse o carro dele no hospital.
Uma irmã de Macaulay relatou ao CCO durante entrevista concedida em 28 de outubro de 2022: “Buscaram ele em Formiga e eles foram pra Pains. O que iria matar meu irmão veio com ele no carro e o outro veio no carro dele. Chegando aqui [em Arcos], eles foram beber juntos e mataram meu irmão naquela madrugada. Nós achamos ele só no domingo” [30 de janeiro de 2022].
A mãe de Macaulay disse, em seguida, que a esposa de X, em depoimento à Polícia, relatou o que aconteceu naquele sábado. A mãe da vítima conta o que ouviu: “Quando voltaram de Pains, os três foram para a casa de X e da esposa dele. Lá eles compraram cerveja, tomaram, não teve discussão nenhuma (a mulher dele deu depoimento falando sobre isso), conversa normal de casais. Então, o Macaulay falou pra eles: ‘Agora eu vou embora, tirar essa roupa do hospital, porque estou cansado e amanhã tenho que levantar cedo porque tenho uma pescada’. [...] Lá na casa de ‘X’ não foi muito tempo, era pouca cerveja e meu filho não era de beber muito [...]. Bebeu pouco e estava cansado. [...] Quarenta minutos depois, que meu filho tinha ido embora, X e Y falaram para a esposa e para a namorada que iam buscar cerveja”.
No entanto, de acordo com investigações, os dois teriam tomado outro rumo: a casa de Macaulay. “Eles foram atrás do meu filho pra matar ele”.
Câmeras
Como a família e a Polícia chegaram à conclusão de que os assassinos seriam X e Y?. Uma irmã de Macaulay conta que seu cartão bancário estava com ele (ela havia emprestado a ele), sendo constatado que ele havia comprado cerveja em um tele-cerveja naquela noite, quando foi feito o registro dos três nas câmeras de videomonitoramento. “Na noite que meu irmão foi assassinado, ele passou meu cartão no Tele-Cerveja e no Tele-Cerveja tem a filmagem deles todos juntos”, disse uma irmã. A mãe completa dizendo que também há uma câmera de galpão no bairro onde o filho dela morava, em frente à residência, que mostra o carro de Y na porta.
Uma das irmãs da vítima disse que X teria telefonado para o dono do imóvel nas proximidades da residência de Macaulay, no dia seguinte (domingo - 30 de janeiro de 2022), perguntando se a câmera capturava imagens da porta da casa de Macaulay. “Aí que a gente foi desconfiando. Ele alegou que tinha deixado um celular dentro do carro e que tinha sido roubado, mas não, ele queria era saber se tinham pegado ele matando meu irmão”.
Corpo foi encontrado no domingo (30 de janeiro de 2022)
A mãe de Macaulay disse ao CCO que a esposa dele (que estava internada em Belo Horizonte) estava preocupada, porque não conseguia falar com o marido pelo telefone e não tinha notícias há mais de 24 horas. “Ele foi morto na noite de sábado para domingo, a gente não achou o corpo dele assim que ele morreu. Foi de domingo para segunda”, explicou.
A mãe já havia enviado mensagens pra ele, sem obter resposta. Mas como ele havia dito que iria pescar no domingo, ela não se preocupou, porque imaginou que não havia área para celular no local.
A esposa de Macaulay ligou do hospital, para um amigo próximo dele, pedindo pra ele ir na casa ver se o marido dela estava lá. “Ele pulou, viu a situação e foi na minha casa, contar para meu marido [...]”, disse a mãe dele. Os dois saíram, foram até a casa e depois retornaram, contando o que havia acontecido.
Foi encontrada uma faca suja de sangue no local indicado por um dos suspeitos. “Um dos envolvidos [Y] falou onde estavam jogadas as coisas e lá tinha uma faca, que está apreendida. O que falou onde estava é o que está preso, ele colaborou um pouco”, disse uma das irmãs.
Supostos assassinos eram considerados amigos da vítima; um era ex-pastor
Essa era a impressão causada à família. A amizade de Macaulay, X e Y era de aproximadamente sete meses. Os dois também moravam em Arcos, mas X era de Belo Horizonte (ex-pastor e ex-segurança de banco) e morava perto da casa de Macaulay. “Ficou uma amizade muito próxima porque quando fizeram amizade, meu filho trabalhava para meu marido, com material de construção; aí o assassino ficou desempregado, [...] porque ele era segurança no banco. Então, meu filho pediu pra eu arrumar emprego pra ele e os dois estavam trabalhando juntos, fazendo bicos depois do horário ‘do material de construção’, numa obra perto da minha casa. [...]. Nunca vimos eles brigando e nunca ouvi falar que eles brigavam. [...]”.
Y, que está preso, trabalhava como padeiro. Segundo relato da mãe e de irmãs de Macaulay, quando ele foi preso, atribuiu a culpa a X (foragido) e afirmou que não sabia da intenção dele. Y teria dito, em depoimento, que os dois foram à casa de Macaulay, ele abriu a porta, os dois entraram e X cometeu o crime. Disse que ficou em choque e que foi ameaçado no momento, não tendo chance de fazer nada. Em seguida, Y teria deixado X em casa, buscado a namorada e ido embora.
Foragido assistiu à audiência por videoconferência
Segundo a mãe e as duas irmãs de Macaulay que estiveram na Redação, X, que está foragido, assistiu, por videoconferência, à audiência realizada dia 28 de outubro de 2022. A família foi informada que não houve tentativa de rastreamento e prisão do suspeito naquela ocasião, por se tratar de período que antecedia as eleições. A regra está prevista no Código Eleitoral (Lei 4.737, de 1965), com a finalidade de impedir “que o poder de prisão seja usado para interferir no resultado das eleições”. Durante aquela audiência, X e Y não falaram.
Roubo
A família disse que na noite do crime foram roubados dois celulares na casa de Macaulay e alguns acessórios de celular, novos, que ele havia comprado para revender em uma loja que não deu certo.
À espera de Justiça
Em novembro de 2022, a mãe da vítima disse ao CCO: “Eu não quero ele [o assassino] morto, eu quero ele preso. Ele estando vivo, ele vai pagar pelo que ele fez, a justiça vai ser feita”, concluiu.
O CCO manterá os leitores informados, após o julgamento. Continuamos à disposição da família da vítima e dos advogados dos suspeitos.