A urgente necessidade de planos de manejo para usufruto dos patrimônios históricos, arqueológicos, geológicos e ambientais de Arcos

A urgente necessidade de planos de manejo para usufruto dos patrimônios históricos, arqueológicos, geológicos e ambientais de Arcos
Entrada da gruta. Créditos: Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Arcos, Foto: Aender.M.F e Assscom Prefeitura de Arcos, disponível em https://www.arcos.mg.gov.br/noticia/gruta-da-cazanga-tem-grande-importancia-cultural-para-a-cidade-de-arcos

A história da mineração em terras arcoenses conta mais de dois séculos.  Neste episódio, resgataremos os relatos que descrevem a visita do alemão, Barão Von Eschwege, pai da geologia brasileira, que em 1816 visitou a fábrica de salitre Boa Vista, naquela época, no município de Formiga, porção hoje correspondente ao município de Arcos, no local conhecido atualmente como gruta da Cazanga, no passado, como Loca Grande. 

O naturalista descreveu com detalhes a referida caverna, a vegetação, os afloramentos rochosos e a operação da exploração do salitre, matéria-prima utilizada na fabricação de pólvora. Contratado pela coroa portuguesa para avaliar o potencial minerário do Brasil, Eschwege foi responsável pelo primeiro registro detalhado da caverna, bem como autor das primeiras descobertas arqueológicas e paleontológicas locais. 

Tombada pelo Decreto nº 3182/2009, a Gruta da Cazanga, uma das riquezas naturais do município de Arcos, é um local rico em história e considerada um patrimônio arqueológico. Todavia, não há plano de manejo que regulamente sua visitação, o que limita atividades turísticas e educacionais nesse importante patrimônio arcoense.

Wilhelm Ludwig von Eschwege, Nascimento: 10 de novembro de 1777; Morte: 1 de fevereiro de 1855 ; Nacionalidade: Alemão;  Campo(s)  Geologia, geografia, metalurgia, arquitectura, Mineralogia, Paleontologia. Créditos https://pt.wikipedia.org/wiki/Wilhelm_Ludwig_von_Eschwege

“Em 1816, visitei as grutas calcárias da região de Formiga, na comarca do Rio das Mortes. Da estrada principal que, pelo campo, atravessando o rio São Francisco, vai de Formiga a Bambuí, à esquerda da fazenda do Alferes João Francisco, o caminho vai ter em uma mata espessa, que acompanha o Ribeirão da Mata e a Serra do Salitre. Essa serra de calcário, pouco alta, acompanha, a partir de Piumhi, a margem direita do rio São Francisco, aproximadamente por 50 quilômetros em direção norte-sul. Após caminharmos cerca de 3 km dentro da mata, foi um espetáculo maravilhoso avistar uma longa fila de paredes rochosas exóticas, coroadas de cumes admiráveis. Uma vegetação deslumbrante, composta de grandes árvores, curtos arbustos e inúmeros cipós, crescia em rochedos justapostos e as paredes de rochas fendilhadas. Aqui e ali se notam a profundidade das grutas, de onde são extraídas as terras salitrosas. Havia ainda, nos conglomerados das grutas, ossadas fósseis de animais, como o veado, também, espalhados pelo solo, ossos e crânios humanos, de infelizes assassinados ou talvez de selvagens que morreram de morte natural. As entradas das cavernas eram vistas em meio a uma vegetação luxuriosa, de onde ouviam os gritos de milhares de Psittacidae (família dos periquitos, maracanãs, papagaios), que haviam feito seus ninhos nas fendas dos rochedos. Essa agitação contrastava com a calmaria da preguiça-de-três-dedos (Bradypus Tridactylus Linnaeus, 1758), como que petrificada, procurava o seu alimento. Na base das pedreiras, serpenteavam as águas escuras, quase pardas, do Ribeirão do Salitre, que, ao longo dos rochedos, dirige-se para o Ribeirão da Mata, (atualmente Rio Candongas) que deságua no Rio São Miguel, que se lança no São Francisco. Às margens do Ribeirão do Salitre, laranjeiras carregadas de frutos dourados contrastam com as casinhas brancas da fábrica de salitre Boa Vista. Tudo isso constituía um espetáculo maravilhoso entre a cultura e a natureza selvagem. O lado oeste, apresenta-se como uma encosta íngreme e longa, fendida em colunas e pirâmides, formando um pitoresco quadro de milhares de picos em forma de pirâmides, que a semelhança de tubos de órgãos, se levantam uns sobre os outros. Padre Inácio Pamplona, dono de toda a circunvizinhança, cedeu a exploração das grutas ao alferes Capitão José Rodrigues, que há sete anos estabeleceu uma fábrica com instalações adequadas. Nas operações da fábrica, escravos, alguns alugados, extraíam as terras da caverna e transportavam em carrinhos de mão, depois de carros de boi até a fábrica, onde os pedaços duros de terra eram quebrados com o uso de macetes e então levadas as caixas de lavagem cavadas em grossos troncos. As águas de lavagem eram fervidas em caldeiras e depois juntadas a uma mistura alcalina, preparada com cinzas de madeiras mais rijas, como aroeira (Myracrodruon urundeuva M. Allemão) e novamente fervidas e então filtradas num vaso de madeira, onde o salitre cristalizava. Como esse processo ocorre antes da cristalização do cloreto de sódio, aproveitavam-se os restos de água mãe para preparar um sal de cozinha impuro, utilizado na alimentação do gado” (ESCHWEGE, 1883, p.191- 194). Trechos extraídos do capítulo “A Vegetação Da Região Cárstica De Pains” do livro “A região cárstica de Pains”.

Entrada da gruta. Créditos: Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Arcos, Foto: Aender.M.F e Assscom Prefeitura de Arcos, disponível em https://www.arcos.mg.gov.br/noticia/gruta-da-cazanga-tem-grande-importancia-cultural-para-a-cidade-de-arcos

Entre as finalidades do Coletivo Arcos Socioambiental, fundado em 12 de fevereiro de 2021, podemos destacar: promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; a defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável; estudos e pesquisas, desenvolvimentos de tecnologias alternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos aplicados a defesa do meio ambiente, do patrimônio cultural e dos direitos humanos; realizar a gestão compartilhada, promover a implantação, participar de conselhos e outros colegiados que atuem na conservação de recursos naturais, prestar assistência técnica e auxiliar na manutenção de Unidades de Conservação e seus planos de manejo.

Nesse sentido, ressaltamos a urgência para a elaboração de planos de manejo que suportem a visitação responsável dos principais patrimônios históricos, geológicos e ambientais de Arcos e região. Medidas que promoverão a valorização do patrimônio natural municipal, o desenvolvimento do turismo e educação ambiental no município.

Referências:

ESCHWEGE, W. L. VON. Pluto brasiliensis. Berlin: Reimer, 1883. 

MELO, Pablo Hendrigo Alves de; PIVARI, M. O. D. . A Vegetação Da Região Cárstica De Pains. In: Luís B. Piló; Jocy Brandão Cruz. (Org.). A região cárstica de Pains. 1ed.Brasília: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2022, v. , p. 81-101.

COLETIVO ARCOS SOCIOAMBIENTAL

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Pablo Hendrigo Alves de Melo, Biólogo

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