Arborização urbana de Arcos carece de legislação

O assunto tomou vulto depois da queda de mais de 40 árvores durante a tempestade do domingo, dia 29 de outubro

Arborização urbana de Arcos carece de legislação

Muitas pessoas fazem críticas à arborização urbana em Arcos. Questionam sobre a quantidade de árvores na cidade, sobre os cuidados no manejo, as necessidades de replantio, poda e corte de árvores, entre outros aspectos.

Diante desses comentários e da queda de mais de 40 árvores durante a tempestade do domingo passado (29/10), o Jornal CCO entrevistou o engenheiro florestal e advogado Evandro Marinho Siqueira. Evandro, de 44 anos, é paulista e reside em Arcos desde 2006. “Quando cheguei em Arcos, eu me apaixonei pela beleza cênica, ao entrar na cidade pelo eixo principal que já era inteiramente arborizado (avenida Magalhães Pinto e rua Jarbas Ferreira Pires)”.

Evandro, além de ser consultor em questões florestais e do meio ambiente, é coordenador do Coletivo Arcos Sócio Ambiental (CASA) e é interessado no assunto junto a outro integrante do ‘CASA’, Pablo Endrigo Alves de Melo, doutor em Biologia, também estudioso dessa área.

Arborização feita na gestão do prefeito Paulo Marques

Ele esclareceu que as espécies mais plantadas na zona urbana de Arcos, especialmente no período em que Paulo Marques era o prefeito, são: Cenostigma pluviosum (DC.) Gagnon & G.P.Lewis, popularmente conhecida como “Sibipiruna”; e a Moquilea tomentosa Benth, mais conhecida por “Oiti”.

Evandro Siqueira complementou que essas são árvores de grande porte, que cumpriram um papel muito importante na cidade e que precisariam, agora, serem avaliadas, no sentido de verificar aquelas que realmente precisariam ser substituídas.

Sobre as árvores derrubadas pelos fortes ventos do domingo (29 de outubro), ele também avaliou: “Das fotos que pude ver, poucas, dentre as árvores caídas, foram das espécies plantadas na arborização de Arcos feita há 45 anos”.

 

O engenheiro esclareceu que a árvore, além de ideal para a fauna nativa que convive no ambiente urbano (tal como os pássaros), é importante para mitigação da poeira. Ele explica: “A árvore retém a poeira que vai para o solo levada pelas chuvas”. Além disso, ela contribui para o microclima, o sombreamento e a beleza cênica. Ele acrescentou que a qualidade de vida também passa por um ambiente ‘bonito’, que traz uma sensação de paz.

Questionado sobre o tempo de vida de uma árvore, Evandro explica que a idade não é o principal fator para o manejo e remoção, é necessária uma avaliação de suas condições. Ele afirma que o profissional mais capacitado é o engenheiro florestal, mas alerta que não basta ter essa formação. Ele explica que, além de conhecer a árvore, suas características fisiológicas e as pragas que podem agredi-la, é necessário conhecer também sobre mobilidade urbana; e exemplificou: “Uma árvore plantada no lugar errado pode impedir a visibilidade e causar um acidente de trânsito”. Evandro diz que o plantio das árvores pode, ainda, interferir nas estruturas urbanas de hidrologia, drenagem e rede elétrica, entre outros aspectos.

Por conta dessa complexidade, ele afirma que o primeiro passo na arborização urbana é haver uma legislação específica e um planejamento que, segundo ele, tem sido deixado de lado pela Administração Municipal, há muito tempo. “Desde que eu cheguei em Arcos, voluntariamente, me ofereci para apoiar a Prefeitura, nesse sentido. Falei com todos os prefeitos com os quais tive acesso e, espontaneamente, me coloquei à disposição para colaborar. Nenhum se interessou”.

Causa principal das quedas

O engenheiro florestal foi taxativo ao falar dos problemas com as árvores em Arcos: “Um dos principais problemas que se vê e que pode ter sido uma das causas da queda de algumas dessas árvores durante a tempestade é a ‘poda’”. Ele avalia que a poda é mal feita.

 


Evandro afirma que também por meio do Coletivo Arcos Socioambiental, já se dispôs, com seu colega Pablo, a ministrar um curso de poda urbana, aos servidores da Prefeitura, de forma voluntária e gratuita. Mas, ninguém se interessou.



Outro problema é o plantio sem planejamento, tal como aconteceu em Arcos. Ele cita um exemplo: as árvores foram plantadas sobre calçadas muito estreitas, o que impede ou limita a passagem de pessoas com muletas, cadeiras de rodas e carrinhos de bebê, prejudicando a mobilidade.
Ele voltou a destacar: “As árvores cumpriram sua função, pois na época, não se falava em mobilidade urbana. Mas, está na hora de rever tudo”. 
Segundo Evandro, o mais urgente é a realização de um diagnóstico da arborização urbana. Ele esclarece que, numa investigação por amostragem, feita por equipe especializada, o trabalho pode ser realizado em seis meses e, a partir daí, montar um plano de trabalho.
O engenheiro concluiu, sintetizando sobre os problemas com a arborização de Arcos: “Em primeiro, poda mal feita; em segundo, falta de impermeabilização adequada; em terceiro, o vandalismo; e, por último, o plantio no lugar errado, pois quem plantou, na época, não tinha conhecimento”.

 

O CCO dará sequência ao assunto, inclusive, solicitando informações ao secretário municipal de Meio Ambiente sobre as providências a serem tomadas; afinal, o fato pode se repetir caso ocorram novas tempestades com ventania. Se houver queda de árvores em residências e atingirem fiações elétricas, aumentam os riscos para a segurança das pessoas. Também podem atingir veículos nas vias e danificar imóveis, causando prejuízos materiais. O poder público municipal precisa estar atento a mais esse problema em decorrência das chuvas, além dos alagamentos amplamente noticiados pelo CCO no início deste ano.