Aumento no número de pedintes em Arcos

Geralmente, eles ficam nas calçadas de estabelecimentos comerciais; em alguns casos, com crianças

Aumento no número de pedintes em Arcos
A unidade de Arcos do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) fica na rua Messias Macedo, 818, bairro Macedos.

É cada vez mais frequente, em Arcos, nas ruas e calçadas de comércios, pessoas pedindo dinheiro ou alimentos para elas ou para os filhos.  

Geralmente, ficam nas portas de padarias e supermercados. O CCO presenciou as seguintes situações, em uma única semana: um homem no estacionamento de um supermercado, pedindo dinheiro para comprar alimento; uma mulher jovem, com crianças, na porta de uma panificadora, pedindo às pessoas para comprarem lanche para os filhos; outra mulher jovem, com uma criança, na porta de um supermercado, também abordando as pessoas e pedindo para comprarem alimentos para ela dar às crianças.

São condições preocupantes e, por isso, recorremos aos especialistas em cenários como esses. O CCO buscou esclarecimentos no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), onde fomos prontamente respondidos pela coordenação e equipe técnica do equipamento, que confirmou ter conhecimento dessas situações. 

Leia, na sequência, as perguntas e respostas:

CCO - É uma atribuição da assistência social do CREAS ir até essas pessoas para ouvi-las, orientá-las e oferecer ajuda?

CREAS - Sim, desde que a situação seja informada ou denunciada para o equipamento. 

CCO - Essas pessoas moram em Arcos? Já recebem os benefícios do Governo e outros auxílios?  

CREAS - O equipamento possui aproximadamente 250 famílias e indivíduos em acompanhamento, sendo as pessoas descritas com perfis parecidos aos acompanhados, porém, com tais informações, não é possível esclarecer com requinte de detalhes as informações solicitadas. Todas as pessoas (famílias) abordadas pelos técnicos são devidamente encaminhadas aos serviços necessários para cada caso específico, quando são de Arcos. Aos outros, que estão de passagem pelo município, é ofertado banho, alimentação e passagem de regresso às suas cidades natais. 

CCO – O que pode ser feito por essas crianças, que ficam expostas? Não há vagas nas creches para elas? Afinal, nas creches tem alimentação adequada.

CREAS - É importante salientar que o fato de estarem expostas não justifica, em alguns casos, estarem em risco. Desde que se nota o risco envolvendo as crianças, é necessário acionar o Conselho Tutelar para as devidas providências. No que tange às vagas em creches, é de responsabilidade da Secretaria Municipal de Educação, mas o equipamento faz encaminhamento para essas inserções, quando identificada a necessidade. 

CCO – O que pode ser feito por essas mulheres [as que estão nas portas de estabelecimentos comerciais, com crianças, pedindo dinheiro ou alimentos]? De que forma o CREAS pode ajudar nesses casos? (Análise sobre o porquê de estarem nessa condição, acompanhamento para um emprego, encaminhamento para cadastramento e recebimento dos auxílios do Governo, atendimento psicológico, enfim, como ajudá-las?).  

CREAS – Quando é identificada a demanda de outros benefícios de competência de outros equipamentos, fazemos o encaminhamento, uma vez que o papel do CREAS no SUAS (Sistema Único de Assistência Social) compreende ofertar e referenciar serviços especializados de caráter continuado para famílias e indivíduos em situação de risco pessoal e social, por violação de direitos, conforme dispõe a tipificação nacional de serviços socioassistenciais. O CRAS é o equipamento de proteção básica e que faz a análise e o acompanhamento dos devidos benefícios eventuais. É importante salientar que a situação de pedintes não configura, por si, só violação de direito; e em sua maioria, diante das abordagens realizadas, já estão inseridos nos programas sociais do Governo. 

Caso acompanhado pelo CREAS desde 2019

Outra situação observada na cidade é de um jovem arcoense que precisa se submeter a uma cirurgia e que, geralmente, é visto pelas ruas. A coordenação do CREAS informou que tem conhecimento do caso. Relatou que ele é assistido no equipamento desde 2019 e a família dele é acompanhada desde 2016. “Ele não é acompanhado somente pelo CREAS, mas também por toda a rede socioassistencial e de saúde do município. Dentro de suas necessidades e diante a dificuldade de adesão do mesmo às intervenções, ele se coloca reiteradamente em situação de risco. [...]”.

Ajudar ou não? 

Ao consideramos as situações mencionadas nesta reportagem, geralmente existe a dúvida se a oferta de dinheiro ou alimento é, de fato, a melhor forma de ajudar essas pessoas. Em 2022, o CCO publicou uma série de reportagens sobre os Sete Vícios e Virtudes, sendo a Caridade uma dessas virtudes. Nosso consultor e entrevistado foi o Prof. Doutor Pedro Miranda, que leciona Filosofia Tomista (referente ao filósofo e Santo Tomás de Aquino). Argumentamos que, geralmente, a palavra “Caridade” é confundida com Assistencialismo, ao ato de “fazer caridade”, de “dar esmolas”. No entanto, Caridade e Assistencialismo não são propriamente sinônimos. “O assistencialismo nada tem a ver com caridade cristã, pois ele afasta o ato de caridade que deve, por definição, ser entre pessoas. O assistencialismo procura apenas terceirizar as obras de caridade colocando uma instituição estatal como mediadora da ajuda. Isso não significa que assistencialismo seja ruim em sua essência, só não é caridade”, explicou nosso entrevistado. Por outro lado, o professor orientou que dar esmolas, dar atenção, doar tempo a outras pessoas são atos de Caridade “quando houver uma intenção de amor e aproximação com o próximo”. Ele esclareceu: “O objeto da esmola não é tanto o ato de dar algo, mas o de igualar a dignidade humana do próximo com a sua. Pense por um minuto sobre o estado de indigência. Uma pessoa nessa circunstância não é indigente, ele está indigente. É um estado e não uma existência. Como é um estado, ele pode mudar. Assim como ele pode sair desse estado, nós podemos entrar nele. Por isso, o indigente deve ser objeto de nossa atenção sempre que pudermos, pois quando damos atenção, dinheiro, comida a ele, estamos igualando a humanidade que há nele com a nossa própria. Isso é um dos sinais de caridade”. 

A reflexão é válida!