Bairro Niterói: na origem de Arcos

SÉRIE BAIRROS DE ARCOS

Bairro Niterói: na origem de Arcos

Em continuidade à série Bairros de Arcos, nesta edição é a vez de apresentar um dos menores, senão o menor bairro, também conhecido como um dos primeiros bairros da cidade.

Niterói, nome que vem do termo yterõi da língua tupi-guarani e significa ‘águas escondidas’. Mas, Ana Maria Elmi Gondim, que é da terceira geração de um dos primeiros moradores do ‘Caminho da Ponte’, sempre ouviu de sua mãe que Niterói era assim chamado por ser “o bairro entre duas pontes”. Geograficamente é o que acontece: o bairro, que está localizado na direção norte da cidade, está delimitado pelas extremidades da Rua Professor Francisco Fernandes, caracterizadas pelas pontes ‘Vereador João Vieira da Cunha’ e ‘Avelino Gonçalves Damasceno’, na confluência da avenida João Vaz Sobrinho (Av. Sanitária) – Trecho 1. “A rua São José e Praça Dias Martins também fazem parte do ‘Niterói’” – esclarece Geraldo Moisés, presidente da Associação do Bairro Cruzeiro, na qual o ‘Niterói’ está inserido.

As origens

Ana Elmi conta um pouco da história do bairro que, de certa forma, se confunde com os primeiros tempos de Arcos e com a história da família dela, vinda de Gênova, na Itália. 

Ela relata que, na época da chegada de seu avô, o bairro era constituído de algumas casas espalhadas e era tipo um arraial. Naquela época, ainda não se chamava Niterói. Aliás, Arcos era ainda chamada de ‘São Julião’ (um distrito de Formiga).

O casal Ana Satilotti e Elmi Plácido (apelidado de Biaggio), fugindo da 1ª Grande Guerra, desembarcou no porto de Santos – ela artesã e o avô padeiro. De Santos foram trabalhar nas plantações paulistas de café. Subindo na direção de Minas Gerais, chegaram em Luz (MG) e, posteriormente, em 1911, em Arcos, que estava nascendo às margens do Rio Arcos, embora haja referências a atividades religiosas comerciais e culturais anteriores, tais como: a construção da Matriz de N.S. do Carmo (1909) e a chegada da estrada de ferro Goiás (depois RMV), conforme consta da Cronologia Sumária do livro ‘História de Arcos’, de Lázaro Barreto.

A propósito da referência à Igreja Matriz: “Ela foi construída com sua frente para o norte, pois imaginava-se que a cidade fosse se desenvolver na direção do bairro Niterói, que já contava com grande movimento comercial no início dos anos 1900”.

Casas antigas

Geraldo Elmi, Ana Elmi e Rogério Elmi

Daqueles tempos de outrora, o bairro está marcado pelos casarões e casas que margeavam a rua. Deles, segundo Ana Elmi, restaram somente três: a casa onde ela reside, a casa de D. Lídia Veloso (falecida recentemente) e a ‘Casa dos Berto’. Esta última, era considerada como sendo do ‘Niterói’, mas por situar-se na rua Floresta, faz parte do bairro de mesmo nome. Há outro casarão restaurado em frente à praça Dias Martins que, embora pareça originalmente antigo, é bem mais recente do que as casas citadas acima. A propósito, Ana Elmi, seu irmão Geraldo e seu filho Rogério acreditam que a casa adquirida por seu avô seja a mais antiga. Ana se entusiasma ao dizer o quanto gosta de sua casa. “Eu tenho conservado nossa casa o mais original possível. Mas, bem sei que após a minha morte, ela será demolida”. Geraldo, seu irmão, critica, dizendo que os mais jovens não dão valor às coisas mais antigas.

Há referências a um casarão que ia de uma esquina a outra, que era chamado ‘Casa dos Turcos’. Nessa casa, segundo Geraldo Moisés, moravam em torno de dez famílias. Geraldo Elmi detalha que havia de tudo: dentistas práticos, barbearia e outros serviços e comércio em geral.

Ana recorda que, em certa época, as pessoas trabalhavam nas lavouras e não havia pagamento em dinheiro. A remuneração era por parte da colheita. Outro fato curioso é que todas as casas tinham uma horta e um chiqueiro para a criação de porcos. “Minha avó, por exemplo, tinha criação de abelhas”.

Além das plantações [hoje conhecida como agricultura familiar], os homens aprendiam ofícios: marcenaria e carpintaria. “Meu pai, Geraldo, trabalhava muito bem em madeira”.

Comércio e atividades diversificadas

Segundo Ana, o primeiro local de comércio mais intenso em Arcos foi na via que hoje é chamada rua Prof. Francisco Fernandes. Atualmente, a comunidade conta com alternativas bem diversificadas. Ao longo da rua, há farmácia, padaria, loja de produtos voltados ao setor rural, barbearia, bar, lanchonete, loja de vestuário, oficina mecânica, entre outras que atendem às necessidades básicas e cotidianas dos moradores.

Nas proximidades também existem igrejas. Ana Elmi frequenta a Igreja da Matriz de N.S. do Carmo ou vai à missa na Igreja São Francisco, que fica no alto do vizinho bairro Cruzeiro. Ela lembra: “Minha avó era muito religiosa e ia muito à Igreja Matriz, gostava de rezar, embora não soubesse rezar em português”.

Serviços públicos 

O bairro conta com linha do transporte coletivo do programa Tarifa Zero e uma linha de ônibus interurbano que liga Formiga a Lagoa da Prata, passando pela Francisco Fernandes, com parada na praça Dias Martins.

O recolhimento de lixo é regular, tanto para o lixo orgânico, quanto para o reciclável. “Água não falta no Niterói, porque estamos na baixada. Nunca faltou”.

A única carência apontada por Ana Elmi é a falta de bueiros para o escoamento das águas das chuvas. Durante as chuvas volumosas, a água desce do morro e não há vazão suficiente, acumulando a água.

Este é mais um bairro de Arcos, um dos pioneiros, onde os primeiros arcoenses se acomodaram às margens do Rio Arcos.