Gestor da Santa Casa fala das primeiras impressões e ações já realizadas

Gestor da Santa Casa fala das primeiras impressões e ações já realizadas

A Santa Casa de Arcos está sob intervenção judicial desde o dia 14 de setembro, há mais de três meses. O gestor contratado por meio da Comissão de Intervenção iniciou as atividades em 17 de outubro. Trata-se de Carlos Magno Bernardo Rodrigues, 45 anos, bacharel em Administração e atuante há 18 anos exclusivamente na área de saúde (detalhes no final da matéria). 

Contratado há pouco mais de dois meses,  Carlos Magno ainda não se estabeleceu definitivamente em Arcos. Mora em Belo Horizonte e trabalha na Santa Casa durante a semana. 

Ao perguntarmos o que o surpreendeu em seu novo ambiente de trabalho, ele respondeu: “Um dos principais fatores que me surpreendeu positivamente ao iniciar minhas atividades na Santa Casa foi a estrutura física, a localização estratégica e acessível do hospital. Um ponto que precisamos desenvolver é a percepção positiva da população com a prestação dos serviços ofertados pela Santa Casa, buscando atender de forma assertiva e eficiente, todos os casos possíveis de atendimento dentro de nossa cidade, evitando assim, o translado dos pacientes para outros municípios, minimizando os riscos, desgastes e custo aos usuários e à Prefeitura”. 

Ele relata que está elaborando um diagnóstico organizacional para identificar o cenário atual do hospital e quais são os projetos necessários e prioritários para melhorar os processos e, principalmente, a qualidade dos serviços à população. “A percepção que tive, ao iniciar na Santa Casa de Arcos, é de que se trata de um hospital extremamente importante para a população do município e que, assim como várias instituições filantrópicas existentes no Brasil, passa por dificuldades financeiras e desafios diários na melhoria de seus processos”.

Primeiras ações

A abertura do novo Bloco Cirúrgico e inauguração da nova CME (Central de Material e Esterilização) são as principais. 

No Bloco, são quatro salas cirúrgicas com equipamentos de ponta e um espaço físico confortável e seguro. O gestor informa que “os equipamentos já tinham sido adquiridos em gestões passadas e estavam sem utilização”.  

A nova CME está em novo espaço, para acompanhar as demandas do novo Bloco Cirúrgico, “com equipamentos e estrutura física robusta e adequada perante as legislações vigentes”.

Informou que estão desenvolvendo e implantando várias ferramentas de gestão, como BSC (Balanced Scorecard), POP (Procedimento Operacional Padrão), Orçamento (BUDGET), definição de KPIs Estratégicos (indicadores), entre outras, buscando desenvolver um Planejamento Estratégico para o hospital.

Carlos Magno respondeu às perguntas de interesse da população em geral. Leia na sequência. 

O que está impedindo a reativação da UTI?

Na fase crítica da pandemia de Covid-19, o espaço do novo bloco cirúrgico da Santa Casa de Arcos foi adaptado para implantação da UTI, com a instalação dos equipamentos disponíveis. Isso foi possível devido à parceria entre o Município e o hospital. “Esse projeto certamente salvou várias vidas, não só pela estrutura física, mas pelos vários profissionais de saúde envolvidos, e foi fundamental durante esse triste e crítico período”, ressalta.

O fato é que a abertura e o credenciamento de UTIs e CTIs nas instituições hospitalares durante a pandemia de COVID resultaram de uma estratégia emergencial conjunta dos Governos Municipal, Estadual e Federal, por meio do Ministério da Saúde (MS), lembra Carlos Magno. “Para a manutenção e o credenciamento definitivo desses leitos, os estabelecimentos de saúde devem atender aos critérios previstos na legislação vigente, além de atender aos critérios da RDC nº 07/2010”.   

A Santa Casa tem atendido a todas as solicitações de internações de pacientes encaminhados pelo Pronto Socorro São José?

O gestor respondeu que a Santa Casa tem contratualizada com o Município essa parceria, com registros pelo SUS Fácil, sistema estadual de Minas responsável pela regulação de leitos.  Afirmou que buscam, constantemente, absorver essa demanda, dentro da habilitação de Média Complexidade da Santa Casa. 

Ressaltou que alguns pacientes que chegam ao Pronto Socorro São José necessitam de um suporte de hospitais de Alta Complexidade e outros necessitam de cirurgias que dependem de um suporte de CTI. “Nesses casos exemplificados, para agilizar o atendimento dos pacientes, por vezes, os mesmos já são direcionados a hospitais de Alta Complexidade. Apesar dessas ponderações, a Santa Casa busca receber todos os pacientes encaminhados, que nossa instituição tenha capacidade técnica, estrutural, resolutiva e humanizada para acolher de forma segura”.  

Informou que a Prefeitura de Arcos vem cumprindo suas obrigações e “apoiado muito neste momento de dificuldades”. “Após alguns levantamentos realizados quando iniciei minhas atividades na Santa Casa de Arcos, tive a confirmação de que o município havia adiantado as três últimas parcelas da subvenção de 2022 em Setembro\22 para o hospital. Agora estamos aguardando a nova celebração da subvenção para o ano de 2023”.  

Repasse da Prefeitura para a Santa Casa em 2023; valor previsto será suficiente? 

A previsão de subvenção destinada pelo Município à Santa Casa de Arcos para todo ano de 2023, proposta pelo Executivo, é de R$ 1.635.000,00 (um milhão, seiscentos e trinta e cinco mil reais), pouca diferença em relação ao valor de 2022, que é R$1.631.858,33. 

Quanto ao destino previsto para o recurso, “será, certamente, a manutenção de todos os custos envolvidos nos atendimentos aos pacientes”, diz o gestor. 

O CCO perguntou se esse valor previsto atende à necessidade da Santa Casa, lembrando que, agora, as despesas são maiores em virtude das cirurgias que estão sendo realizadas. 

O gestor respondeu: “Parece ser necessário uma análise mais profunda, que estou buscando realizar neste primeiro momento. Mas com o objetivo de aumentar os atendimentos no hospital, teremos que reavaliar esses valores com o município, caso seja possível”.

Também disse que as subvenções municipais são fundamentais para uma instituição filantrópica, principalmente no caso da Santa Casa, que é habilitada como Média Complexidade e os valores repassados pelo SUS (Sistema Único de Saúde) estão defasados há muitos anos.

Na última segunda-feira (26), o CCO confirmou, junto ao secretário municipal de Fazenda, Cleomar Silva, que há, ainda, as emendas impositivas dos vereadores, cujos valores somam R$165.111,11. Somando com R$1.635.000,00, será R$ 1.800.111,11 (mais de R$ 1,8 milhão) no total.

Há pouco mais de cinco meses, no dia 13 de julho, o Setor Financeiro da Santa Casa informou ao CCO os valores referentes à subvenção da Prefeitura (Ano 2022): R$ 1.031.858,33 ao ano (sendo R$ 85.988,14 por mês) destinados à Santa Casa + R$ 600 mil ao ano para o pagamento do sobreaviso médico (sendo 50 mil por mês). O Setor também informou que "seriam necessários, para o bom funcionamento do hospital, os seguintes valores: R$ 4.200.000,00 para a Santa Casa, ou seja, R$ 350.000,00 por mês; R$ 3.240.000,00 para o sobreaviso, ou seja, 270.000,00 por mês (para sobreaviso presencial 24 horas). Somando, o valor total da subvenção deveria ser R$ 7.440.000,00 (sete milhões, quatrocentos e quarenta mil) ao ano, mas é R$1.631.858,33 (um milhão, seiscentos e trinta e um mil, oitocentos e cinquenta e oito reais e trinta e três centavos) ao ano. O Jornal CCO constatou que o valor corresponde a apenas 5% da arrecadação prevista pelo Município para este ano de 2022, que é R$148 milhões.

Pagamento dos médicos de sobreaviso

Em julho, quando a Santa Casa de Arcos foi proibida de realizar partos por não manter pediatras 24 horas, o CCO foi informado que os pediatras estavam solicitando um reajuste no valor pago pelo sobreaviso médico, uma vez que a remuneração deles seria inferior ao valor de mercado. Também foi mencionado que os valores de sobreavisos pagos para médicos da unidade estão realmente defasados (de todas as clínicas médicas, não somente pediatria). Perguntamos ao gestor se ele confirma essas informações. Ele respondeu: 

“Referente à remuneração de sobreaviso praticado anteriormente ao Corpo Clínico, não possuo dados precisos para avaliação desse cenário; a única certeza que tenho é que o mercado, independente do segmento, é regulado pela lei da ‘oferta e demanda’, o que influencia diretamente nas remunerações dos profissionais médicos”.

A possível defasagem nos vencimentos dos médicos é um dos motivos pelos quais a Santa Casa de Arcos não atrai um número maior de especialistas para seu corpo clínico?

“Acredito que a definição de remuneração é um ponto importante para os médicos, contudo, não é o único ponto considerado por eles no momento da escolha de uma instituição. Outros pontos relevantes e certamente considerados por eles são: a estrutura física, tecnológica (equipamentos), suporte de Serviço de Apoio Diagnóstico Terapêutico (SADT) e infraestrutura da cidade”.

Carlos Magno acredita que, buscando a melhoria continua nesses principais pontos, a Santa Casa conseguirá tornar mais atrativa a permanência dos médicos na Santa Casa e a vinda de outros. Ele lembra que a falta de cobertura de algumas especialidades médicas, entre elas a Pediatria, é uma realidade em todo o estado de Minas Gerais e no Brasil.

A Santa Casa de Arcos precisa atingir uma meta de internações pelo SUS? Qual é essa meta? Essa meta sempre é atingida?

O gestor responde que todos os convênios celebrados entre as instituições de saúde, sejam municipais, estaduais ou programas do SUS definidos pelo Ministério da Saúde, têm como principal objetivo a assistência integral dos usuários do SUS em procedimentos ambulatoriais e de internação, voltados principalmente para absorver possíveis “filas de espera” em algumas especialidades.  Explica que é prática usual de controle e contrapartida, a definição de metas quantitativas e qualitativas destes acordos e, com a Santa Casa de Arcos, não é diferente. “Possuímos essas mesmas metas e o atingimento delas vem ao encontro, com indicadores essenciais para as boas práticas, segurança e resolutividade aos pacientes. Observando a série histórica do hospital, não posso afirmar que ‘as metas são sempre atingidas’. Isso varia de acordo com o convênio e as metas pactuadas e, conforme citado anteriormente, existem algumas dificuldades e ajustes necessários na instituição para atingirmos plenamente os objetivos”.    

O que é mais comum na enfermaria e nos apartamentos da Santa Casa de Arcos: sobrar leitos vazios ou faltar leitos?

Ele respondeu que um entre os principais desafios que identificou ao assumir a Santa Casa é a baixa taxa de ocupação. “No último quadrimestre, tivemos uma taxa de ocupação de 42%; isso impacta diretamente nas metas pactuadas em nível Municipal, Estadual e Federal, além refletir diretamente na performance da instituição, devido a seus custos fixos de operação, ou seja, seria como ‘utilizar um ônibus para transportar cinco passageiros’ ”.  

Cirurgias 

Carlos Magno disse que não houve interrupção nos agendamentos e na realização de todas as cirurgias devido a mudança do espaço físico do Bloco Cirúrgico. “Realizamos um cronograma bem estruturado, com o apoio da equipe do hospital, para que essa mudança não gerasse interrupção; todas as cirurgias estão sendo realizadas normalmente”.

Em resposta à pergunta do CCO sobre a contratação de cirurgiões, disse que a Santa Casa não chegou a contratar formalmente novos médicos. “Conforme citei acima, com a melhoria da estrutura física, equipamentos e condições adequadas de segurança do paciente para realização das cirurgias, identificamos um aumento no interesse de nossos cirurgiões em todas as especialidades e de alguns novos cirurgiões que não estavam habituados a operar no hospital. Isso vem se refletindo na taxa de utilização do Bloco Cirúrgico, que está em elevação”, informou.

 Cirurgias custeadas pelo SUS ou particulares?

Segundo o gestor, “a Santa Casa de Arcos, por se tratar de uma entidade filantrópica, presta atendimento em sua maioria aos pacientes do SUS, aproximadamente 75% de todos os atendimentos; os demais 25% estão na Saúde Suplementar e atendimentos particulares”.

O gestor informa que, atualmente, estão atuando para realização de cirurgias em várias especialidades por meio do convênio de Subvenção 2022 celebrado junto ao Município. Além disso, relata que a Santa Casa de Arcos está habilitada no programa Valora Minas. Ele explica que é uma Política de Atenção Hospitalar do Estado de Minas Gerais que busca ampliar o acesso e aumentar a produção de procedimentos cirúrgicos em Minas Gerais, principalmente para atender à demanda residual não ofertada pela Rede SUS. Esse incentivo financeiro é estadual e incrementa o valor inicial da tabela do SUS (SIGTAP). É uma das fontes para remuneração médica, equipe multidisciplinar e aquisição de insumos necessários para a realização de cirurgias.    

Climatização, Esterilização e Projeto de combate a incêndio do novo bloco

Houve quatro propostas para a instalação dos equipamentos de climatização no novo Bloco Cirúrgico, tendo sido considerados, para a escolha, valores, plano de execução, condições técnicas e expertise. “Definimos o prestador no final de novembro\22 e, considerando o cronograma definido, temos a previsão de realização desta instalação para abril de 2023, de forma que não seja necessária a interrupção do funcionamento do Bloco Cirúrgico”, disse.

Quanto ao projeto de combate a incêndio, Carlos Magno informa que está sendo desenvolvido o projeto de obtenção do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) em toda a instituição. “Já foi apresentado ao Corpo de Bombeiros de Minas Gerais (CBMG) um projeto, contudo, diante de algumas mudanças estruturais no hospital, dentre elas a mudança do Bloco Cirúrgico, Central de Material e Esterilização (CME), Maternidade, como exemplo, estamos adequando esse projeto para nossa realidade atual, para protocolar junto ao CBMG esses ajustes e solicitar a vistoria e emissão do AVCB”.  

No dia 18 de novembro, o CCO foi informado que o projeto de combate a incêndio estava sendo executado, mas essa informação não procede. Pode ter havido uma falha na comunicação. 

Em referência à Central de Material e Esterilização (CME), o gestor informou que, em novembro, mês em que o Alvará Sanitário da Santa Casa necessitaria ser renovado, foi realizada a inspeção sanitária da Vigilância Sanitária em toda a estrutura do hospital, inclusive na CME. Na oportunidade, representantes da Santa Casa apresentaram a estrutura física e de processos do novo Bloco Cirúrgico e da CME, para a equipe técnica que realizou a inspeção. “Foi uma excelente oportunidade de identificação de melhoria de processos, através dos apontamentos nesta visita, que, ao final, culminou com renovação do Alvará NUVISA/SRS/DIV nº 071/2022, válido até 30/11/2023”, informa.       

O gestor 

Carlos Magno iniciou a trajetória na Fundação Cristiano Varella (Hospital do Câncer de Muriaé-MG) como Coordenador de Faturamento entre 2004 a 2013, quando conheceu todas as etapas e processos de uma instituição de saúde, começando no acolhimento do paciente na recepção, passando pelo atendimento multidisciplinar (Médicos, Enfermagem etc), suporte de Serviço de Apoio Diagnóstico Terapêutico (SADT), até a alta. Ao longo dos anos, vivenciou outras experiências na área. Foi gerente geral do Instituto Mário Penna, em Belo Horizonte, inicialmente no Hospital Mário Penna e logo em seguida, do Hospital Luxemburgo, do mesmo grupo; trabalhou no Grupo Oncoclínicas como Gerente de Operações; na Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, como gestor do Escritório de Projeto, onde acompanhou e contribuiu no desenvolvimento de todos os projetos do Grupo Santa Casa (Hospital São Lucas, Funerária Santa Casa, Faculdade Santa Casa).

Nos últimos anos, 2020 e 2022, esteve atuando na multinacional alemã Fresenius Medical Care, ocupando a posição de Coordenador de Operações Clínicas de Minas Gerais, responsável pelas operações de todas as unidades do estado.

A entrevista foi concedida ao CCO na quarta-feira (21).