Homenagem do Dia das Mães: Excepcional mãe de filho excepcional

A história de vida de uma excepcional mãe de um filho excepcional e seus irmãos - a homenagem do CCO pela comemoração do Dia das Mães

Homenagem do Dia das Mães: Excepcional mãe de filho excepcional
Aurora e Marcelinho

A palavra excepcional pode ser entendida como ‘especial’, mas também é sinônimo de ‘extraordinário’.

Com este enfoque o Jornal CCO presta sua homenagem a todas a mamães, entrevistando Aurora Maria da Costa (72 anos), a excepcional mãe do Marcelo Vinicius (34) - um filho excepcional. Além do ‘Marcelinho’. Aurora tem: Adriana (49), Giovani (44) e Tiago Alexandre (40)

Aurora conta que Marcelo, nascido em Arcos no dia 4 de fevereiro de 1989, é portador da Síndrome de Down e de autismo, é totalmente dependente da atenção da mãe e dos irmãos. 

A história de Aurora se confunde com a história de seus filhos, especialmente com a história de Marcelinho. “A família gira em torno dele e se não fosse ele, esta família já não existiria”. Ela explica, lembrando da relação difícil com seu marido e dos inúmeros desafios enfrentados com seus outros filhos. Ela lembra do filho que faleceu ainda bebê e do Adriano, sargento policial militar assassinado em Divinópolis, há cinco anos. 

Marcelinho dançando a valsa dos 15 anos com sua sobrinha Ana Clara (foto: arquivo pessoal)


O dia a dia com Marcelinho

“Todo o dia com Marcelinho é uma farra e você pode observar” – disse ela, enquanto Marcelinho se manifestava oralmente, embora não possa falar. “Mas, nós entendemos perfeitamente o que ele deseja. Ele se comunica, com gestos e especialmente, com seus olhos nós sabemos o que ele está ‘falando’.” – disse Aurora e seu filho Tiago que acompanhava a entrevista concordou, enquanto alimentava o irmão.

Aurora conta que ele gosta muito de música e ‘dança’. Ele se movimenta no ritmo da música, balançando o corpo na cadeira de rodas que é o seu meio de locomoção. “Ele é um ‘bebezão’. Precisamos dar água e comida. Dar banho e leva-lo ao vaso”.

“Ele e os irmãos se entendem muito bem”. Ela conta que as brincadeiras de Marcelo são mais agressivas, pois ele não tem noção. Mas, segundo ela, toda a família já se acostumou com o irmão autista, inclusive os netos de Aurora o tratam por ‘tio’. “Ele fica nas casas dos irmãos. Dorme na casa deles e eles cuidam com muito carinho. Um dos netos, o Rafael sempre pede ‘benção tio’ – ela fala sempre de seus filhos com orgulho. “Ele é a mascote da família” – diz, incluindo seus próprios irmãos. Aurora é de uma família de 15 filhos.

“Eu luto pela minha vida para poder cuidar dele. Preciso me manter forte, pois já não sou nova. Ele é um presente que Deus me deu”. Ela conta que teve Marcelinho, seis anos depois de ter feito a laqueadura.


Os desafios

Ela conta: “Meus ‘fardos’ não foram nada leves. O Marcelinho foi e é o mais leve desses fardos”. Ela agradece a Deus, que sempre lhe deu força, coragem e sabedoria para lidar com as adversidades. 

Segundo Aurora, o maior desafio veio no nascimento, pois ela já estava com 38 anos de idade e teve eclampsia. “Nós dois tivemos que lutar para sobreviver”.


A decisão mais difícil

Com dois meses de idade, ela teve que levar Marcelinho para ser hospitalizado em Belo Horizonte, com febre e foi diagnosticado com pneumonia. Ela conta que foram 11 meses no hospital e que nesse período o menino esteve em casa uma única vez. “Quando chegamos, antes de coloca-lo no bercinho, ele passou mal, chamamos a ambulância e retornamos a Belo Horizonte”. 

Também nesse  primeiro ano de vida, ela lembra de que Marcelinho foi submetido a duas cirurgias de coração e dois cateterismos. Até as cirurgias do coração,  a febre era constante.

Ela recorda de que a decisão mais difícil foi sobre a cirurgia do coração, pois o dilema, segundo os médicos era que: se não operasse, Marcelinho morreria, e se operasse morreria também. Por conta da anestesia, a possibilidade de superar a cirurgia, em seu estado, era quase zero. “Eu decidi por operá-lo. Como poderia assisti-lo morrer ao meu lado, sem fazer alguma coisa?” Ela, emocionada, conta que, pouco tempo após o término da cirurgia, Marcelinho precisou ser operado novamente, por conta de um coágulo. “Ele sobreviveu. Mas, eu tive que decidir. Foi a decisão mais difícil da minha vida. Se o pai estivesse, não deixaria operá-lo. Estava comigo e a decisão era minha.” 


O preconceito

Ela conta que eles sofreram muito com as pessoas preconceituosas. “Eu sempre lutei pelo espaço do meu filho. Ele tem direito. Direito de usar a calçada, de ser respeitado, de ser amado”. Segundo ela, foram muitas as situações. Mas, sempre foram superadas, com determinação. Apesar disso, ela acredita que o preconceito haja diminuído entre as pessoas. 


A APAE

Aurora e Marcelinho com Marlene Costa, diretora e demais pessoas ligadas à APAE

“Sem a APAE, Marcelinho não estaria como ele está hoje. É um lugar que eu o deixo despreocupada. Lá ele tem carinho e atendimento capacitado. Só quem tem um filho que necessita, sabe.” – afirma, contando que ele vai todos os dias, há 28 anos. Segundo ela, Marcelinho gosta de tudo, dos coleguinhas, das atividades, das professoras.


Mensagem para as mães

“Minha mensagem para as mães que recebem esse presente especial é  de aceitação. Mas, não é só você aceitar o filho. Você precisa abrir mão de muitas coisas”. Aurora complementa que foram muitas coisas que nós todos deixamos de fazer, em função Marcelo. É preciso aceitar, ter carinho e ter amor.

Ela encerra dizendo: “Que todas as mães que tiverem filho com deficiência deem amor e carinho. Eles nos dão muita paz e muita alegria”. 

Aurora, mãe excepcional do excepcional Marcelinho, do Tiago, Giovani, Adriana e do Adriano (in memorian) é daquelas mães que provam ao mundo que o amor de mãe é sem limites, sem fronteiras, sem barreiras. É mais forte do que qualquer deficiência ou preconceito.

Para Aurora e a todas as mães, naturais ou adotivas, que dedicam amor aos seus filhos e filhas, a homenagem singela do Jornal Correio Centro Oeste, neste Dia das Mães.

Matéria: Nando Noronha

Fotos: Jornal CCO e arquivo pessoal de Aurora da Costa