Menina de 4 anos, de Arcos, sempre comemora a chegada dos amigos do caminhão de lixo

Segundo Júlio César, um dos servidores, muitas crianças de Arcos gostam de se comunicar com eles

Menina de 4 anos, de Arcos, sempre comemora a chegada dos amigos do caminhão de lixo
Os amigos Sérgio Virgílio, Júlio César, Antonella e Walviker de Alcântara

Antonella Lopes de Oliveira, de 4 anos, fica animada quando escuta o barulho do “caminhão de lixo” e logo corre para vê-lo. Em uma dessas vezes, com o olhar de quem está “explorando” o que existe por aí, num mundo cheio de novidades para quem está começando a vida, ela viu que não era só um veículo grande e barulhento que, às vezes, obviamente, exala mau cheiro. Havia, ali, alguns homens trabalhando – apressados devido à grande quantidade de tarefas, mas bem-humorados e comunicativos.

No imaginário da pequena Antonella, quando está lá no interior da casa dela, no bairro Sion em Arcos, o barulho do caminhão de lixo chegando está associado à alegria e ao reencontro com seus amigos. Sim, amigos. Afinal, quando ela começou a se comunicar com eles, fazendo o símbolo de um coração com as mãos e demostrando a felicidade em vê-los, logo passaram a retribuir o gesto e, assim, construiu-se uma amizade com ela e os pais.

A garota é filha do casal Mariana e Bruno César de Oliveira, que são empresários. Mariana conta como tudo começou: “Quando ouvíamos o caminhão chegando, ela ficava toda animada e gritava a gente para abrir a porta para ela ver eles. Todos os dias que eles passam em nosso bairro, já ficamos esperando por eles”.

Esses trabalhadores já conhecem a menina e retribuem com amor e carinho. “Já nomearam ela de princesa, de lindinha, dão tchau e fazem coração para ela. É muito emocionante ver como o carinho deles é recíproco”, diz Mariana.
Não é somente no bairro Sion que ela demonstra esse afeto. “Onde ela encontra eles, temos que parar o carro; ela abre o vidro e começa a dar tchau e gritar: ‘Oi, meus amigos!’, acrescenta a mãe.

Como se vê, desde o início, o gesto não tem interferência direta dos pais; é um comportamento natural da menina. Eles incentivam porque admiram a atitude. “Para nós, pais, não tem uma gratidão maior do que ver o carinho e amor da nossa filha pelo outro. Agradecemos muito a Deus por nos ajudar a educar a nossa filha e por ela ter esse coração puro”, comenta Mariana.

Com o Natal chegando, é claro que Antonella não ia deixar os amigos sem presentes. Ela entregou panetones na terça-feira (19 de dezembro), para os servidores municipais Sérgio Virgílio, Júlio César Rocha, Walviker de Alcântara e Pablo Ferreira.

 “A gente fica muito satisfeito e ‘espantados’ ”, diz o servidor Júlio César

O CCO falou com Júlio César e descobriu que Antonella não é a única criança em Arcos que gosta de ver o pessoal do caminhão de lixo. Ele contou que todas as crianças têm esse carinho com eles: “Enquanto a gente não para, não cumprimenta, não tira foto, elas não ficam satisfeitas. A gente só tem a agradecer pela atitude de todas essas crianças e aos pais também. Que Deus abençoe muito essas famílias delas. A gente fica muito satisfeito e ‘espantados’ ”.
Sobre Antonella, ele disse: “Achei a atitude dela muito linda. Toda vez que a gente começa a coletar no bairro dela, ela espera ali, faz coraçãozinho; é uma criança muito abençoada. A gente fica satisfeito”.  

Júlio citou, também, um menino que mora bairro Floresta e que, na última quarta-feira (19), pediu pra mãe dele levar chup-chup para eles. “Enquanto a gente não cumprimentou, ele não entrou para a casa dele”.

Antonella e os pais, Mariana e Bruno César de Oliveira 

Educação pelo bom exemplo, no combate às más influências da sociedade 

Não é raro ouvirmos relatos ou mesmo presenciarmos comportamentos afetuosos e acolhedores de crianças em geral, seja naturalmente – como no exemplo de Antonella – ou como resultado de um ensinamento direto dos pais ou responsáveis.

O gesto da pequena moradora do bairro Sion em Arcos tem seus significados. É importante ressaltar que, segundo a própria mãe dela, foi algo natural; ela não foi induzida a se aproximar deles.

Portanto, ela não foi orientada especificamente para esse comportamento. Não se trata de uma criança que está cumprindo um dever de ser gentil com as pessoas, afinal, ela tem apenas 4 anos e talvez ainda não faça esse tipo de reflexão sobre como viver em sociedade. Em síntese, é bem simples e virtuoso, o que torna tudo mais especial: ela gosta de estar perto desses trabalhadores e falar com eles! É uma criança amorosa.

É fato que nem sempre é necessário “falar” para os filhos como eles devem se comportar, quando se dá o “exemplo”. Essa história remete à importância de educar com “aulas práticas” no dia a dia – com ações, afinal, as crianças são observadoras. Nesse contexto, conviver bem com as pessoas em geral já é uma “aula”.

O contrário também acontece. Não é raro assistirmos a cenas de crianças, adolescentes e jovens maltratando os pais, avós, colegas de escola e também as pessoas desconhecidas para eles (e até mesmo cometendo crimes). Como e onde aprendem isso? Se “o homem nasce bom e a sociedade o corrompe“ – teoria do filósofo Rousseau (Suíça – 1712/1778) –, cabe à família estar sempre atenta e ensinar às crianças, desde pequenas, o caminho correto; assim, a influência da sociedade sobre elas poderá ser menor. Existem muitas pessoas que vivem em comunidades onde a criminalidade domina e, nem por isso, são criminosas. Mesmo diante das dificuldades, dedicam tempo e energia para se tornarem pessoas de bem. Têm um emprego honesto e não se consideram “vítimas da sociedade” – a sociedade/o meio não as corrompe.  [Se o tema sobre vitimismo te interessa, assista à análise do filósofo Pondé no lançamento do livro “Podres de Mimados”, do psiquiatra Theodore Dalrymple; refere-se a adultos e está no You Tube.

Quem discorda da teoria de Rousseau e pensa que uma criança não nasce 100% “boazinha”, pode ter presenciado, por exemplo, uma menina com menos de 3 anos batendo no irmão recém-nascido, assim como os casos de crianças que ferem animais de estimação. Então, irá concluir que os pequeninos precisam ser monitorados desde os primeiros anos de vida e orientados sobre o que estão fazendo de errado, para que não repitam a atitude. No final da análise, para quem concorda e para quem não concorda com a teoria de Rousseau, pode haver um consenso: a educação familiar parece essencial. Não dá para se limitar à educação obtida na escola que, nem sempre, será pautada nos valores defendidos pelos pais.    

Gentileza

Sobre a importância de ensinar os filhos a serem gentis e conviverem bem com as pessoas de maneira geral, a mãe de Antonella comenta:

“Para nós, todos somos iguais, independentemente da profissão, raça, cor e situação financeira, isso nós aprendemos com nossos pais e é a maior herança que queremos ensinar a nossa filha: a igualdade, pois não existe ninguém melhor que ninguém.  Acreditamos que ela saber conviver com todas as diferenças existentes é extremamente importante para sua educação, onde ela aprenderá a respeitar, colocando-se no lugar do próximo. Eu, como mãe, ver minha filha tendo essa atitude de carinho pelo próximo, me dá a sensação de que estamos no caminho certo”.

Para os cristãos, Natal é tempo de relembrar o nascimento de Jesus e seus ensinamentos. Sem dúvida, o gesto de afeto de Antonella mostra que, na casa dela, o espírito natalino não se restringe ao mês de dezembro.

Uma das profissões mais importantes
 
Sobre o trabalho de coleta de lixo, Mariana disse: “No meu ver, é uma das profissões mais importantes. Imagina se não tivéssemos eles para nos ajudar a manter nossa cidade limpa?! E ainda temos a honra dos servidores da nossa cidade, além de nos auxiliar nessa limpeza, ainda levam a alegria por onde passam, sempre cantando e brincando”.

Por falar em “auxiliar”, vale reforçar que a população de Arcos precisa colaborar com a limpeza da cidade, fazendo a sua parte na separação correta de lixo seco e lixo úmido.

(Redação: Rita Miranda).