Morre o bambuiense Alysson Paolinelli, conhecido internacionalmente

Em entrevista ao Jornal CCO em 2021, ele disse que "[...] Arcos vai se transformar em uma das trincheiras importantes para a produção e o desenvolvimento nacional"

Morre o bambuiense Alysson Paolinelli, conhecido internacionalmente

A Folha de São Paulo, Valor Econômico, Jornal O Tempo e várias outras mídias noticiaram, no final de dezembro, que o engenheiro agrônomo e ex-ministro da Agricultura, Alysson Paolinelli, de 84 anos, natural de Bambuí, será indicado ao Prêmio Nobel da Paz 2021.

De acordo com divulgação do Canal Rural, em matéria assinada por Fábio Santos, de São Paulo, o Brasil indicou Alysson pela vida dedicada ao desenvolvimento da agricultura tropical sustentável.

A indicação foi liderada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo. Conta com o apoio de dezenas de universidades e institutos de pesquisa do Brasil. É descrito como um homem que dedicou a vida à procura de soluções para a produção de alimentos.


Preocupação com o agronegócio vem desde a infância

Em entrevista ao Jornal CCO, Alysson Paolinelli falou do que o motivou a se dedicar ao desenvolvimento da agricultura. "Minha experiência no setor agrícola vem de uma motivação, em primeiro lugar, provocada pelo meu pai, que era engenheiro agrônomo. Desde o início da minha vida, ele procurou me orientar no sentido de ser um observador do que se passa no meio rural, com o produtor, com as suas famílias e também com o resultado da produção para o consumidor. Essa preocupação vem desde a minha época de infância", contou. 

Alysson, então, decidiu estudar agronomia e procurar por respostas sobre os problemas que a agronomia enfrentava, como se seria possível aumentar a produção no Brasil, se o produtor está usando a forma certa para produzir, se era possível melhorar o sistema de produção. "Com todas essas perguntas que eu tinha, eu procurei, detalhadamente, estudá-las; e eu vi que tudo isso era possível. Bastava que houvesse um entendimento melhor entre produtores, consumidores e também ações do governo".


Incentivos e inovações tecnológicas

Em 1971, o governador de Minas Gerais, Rodon Pacheco, o convidou para ser seu Secretário de Agricultura, porque viu que suas ideias poderiam ser perfeitamente executadas por parte do Governo. Como secretário, ele criou  incentivos e inovações tecnológicas que transformaram o Estado no maior produtor de café do Brasil.


Foi Ministro da Adricultura em 1974

Em 1974, aceitou o convite do presidente Ernesto Geisel para tornar-se ministro da Agricultura. Modernizou a Embrapa e promoveu a ocupação econômica do Cerrado brasileiro. Nesse mesmo período, implantou um programa de bolsas de estudos para estudantes brasileiros nos maiores centros de pesquisa em agricultura do mundo. Cuidou também da reestruturação do crédito agrícola e de um novo equacionamento da ocupação do bioma amazônico. 

"Nessa época, o Brasil tentava crescer. O nosso forte era o café, mas uma crise climática no Hemisfério Norte fez com que o preço dos alimentos dobrasse. Foi quando, sob a minha gestão, passamos a investir fortemente em ciência e tecnologia para tornar o Brasil autossuficiente em alimentação. Mas esse era um desafio muito grande, pois até então não existia agricultura tropical competitiva no planeta", explicou. 


Agricultura tropical sustentável

Com a iniciativa de Paolinelli, o Brasil se tornou uma potência alimentar para todo o planeta. "A Embrapa foi reestruturada, mandamos 1.530 jovens brasileiros para os melhores centros do mundo. Demos à Embrapa uma forma muito racional para atingir biomas diferentes, produtos diferentes e regiões diferentes. Isso foi muito importante", conta.

Nos anos 1970, o Brasil começou a produzir alimentos em um bioma considerado degradado e infértil, o Cerrado. "Conseguimos ativar o programa e fomos felizes, pois em muito pouco tempo o Brasil mostrou que seria viável esse esforço. Em cinco anos, conseguimos empatar a balança. Nos anos 1980 começamos a exportar e mostrar competitividade. Nosso país mostrou a força da agricultura tropical, permanecendo 12 meses no ano [com plantios no campo]. O mundo começou a ver que havia uma tecnologia tropical muito mais sustentável do que a deles, que desenvolveu não só a agricultura como também a pecuária. [...]", disse Paolinelli.


 "[...] Arcos vai se transformar em uma das trincheiras importantes para a produção e o desenvolvimento nacional" - Alysson Paolinelli 


Por ser natural de Bambuí, Alysson disse que conhece Arcos e que a vê como uma cidade com grande potencial de crescimento: "Conheço muito e gosto muito dessa região. Arcos é privilegiada, ela está em uma das melhores regiões de Minas, com muitas possibilidades no campo agrícola, na pecuária de leite, de corte e tem se desenvolvido na pecuária de pequenos animais, de suínos e aves. Tem um potencial imenso na disputa de mercados internacionais. Arcos é uma cidade privilegiada também pela sua localização, junto a fontes minerais importantíssimas. Aí ao lado nós temos as maiores jazidas de carbonato de cálcio que o mundo conhece, maiores que essas ou iguais só na França. Arcos vai se transformar em uma das trincheiras importantes para a produção e o desenvolvimento nacional". 

Atualmente, ele mora em Lagoa Santa - MG, próximo de Belo Horizonte. Sempre que vai à cidade de Bambuí, ele também passa em Arcos. 

Toda a documentação enviada sobre Paolinelli para a indicação ao Nobel da Paz 2021 será avaliada pelo conselho da premiação em Oslo, na Noruega. Até novembro, novos dados podem ser complementados à candidatura.