'O amor está no Lar': a primeira história do Lar Pousada dos Berto

'O amor está no Lar': a primeira história do Lar Pousada dos Berto
Os namorados, Vitória e Antônio, no Lar Pousada dos Berto

Em abril passado, os residentes do Lar Pousada dos Berto: Regina Amaral, Antônio Gonçalves  e Marcos Guimarães, acompanhados da assistente social Amanda Tiago, da terapeuta ocupacional Juliana Aroni visitaram o CCO propondo um projeto: contar as histórias dos acolhidos no Lar. A primeira história foi transcrita, pela terapeuta ocupacional do Lar, Juliana, a partir dos relatos pessoais dos namorados sobre suas histórias de vida em: “O amor está no Lar!”


O amor está no Lar!


Antônio

Meu nome é Antônio de Paula Gonçalves, nasci em 1947, em Boa Esperança – MG. Meu pai era muito nervoso e a gente não se dava bem. Ele chamava José de Paula Gonçalves. A minha mãe era muito boa, chamava Maria da Conceição. Na minha família, hoje, vivem seis: eu e mais cinco irmãos. Não tive filho, só um enteado. 

Já trabalhei em uma porção de coisas: roçador, vendedor de picolé, na lavoura, charrete, entre outros. Aprendi sozinho a amolar faca, fazer cabo de machado e canga de boi. Morei por muitos anos na roça e eu era acanhado. Já pelejei para aprender a ler, mas não consegui.

Casei com mais de 50 anos. A primeira esposa acabou com tudo o que eu tinha e acabou comigo. Ela levou meus “trens” tudo embora. Eu vendi a casa e dei o dinheiro todo para ela. Ela foi embora para Piumhi. Eu pensava: “Será que Deus não deixou uma mulher no mundo para mim, não?” Casei com outra mulher e eu não tinha direito a nada, só tratava dela. Eu gosto de viver na ilusão, viver tranquilo. 

No Lar eu arrumei uma namorada, uma pessoa boa e estou muito satisfeito aqui. Às vezes quero ir embora para minha casa, ver o meu povo, mas estou satisfeito aqui. 

Me perguntam: “O que te trouxe a morar no Lar?”

Eu cai, me machuquei e estava sem poder andar. Eu estava pagando para cuidarem de mim e estava ficando muito caro. Daí ‘inventaram’ de eu vir para o Lar e eu aceitei.


Vitória

Meu nome é Vitória Santos, nasci dia 17 de outubro de 1933, aqui em Arcos. Sou filha de Francisco de Assis dos Santos e Gorteniza Maria dos Santos. Eu tinha 11 irmãos e, agora, restam seis: um homem e cinco mulheres.

Minha vida foi péssima! Era muita gente, minha mãe gostava mais das meninas do que de mim. Para ela, minha irmã era tudo. Tudo que ela fazia, recebia apoio de minha mãe. Já com a gente ela era contra. 

Eu era empregada doméstica. Já trabalhei em Belo Horizonte e Uberaba. A família de Belo Horizonte foi como ter pais, a patroa era muito boa. Cuidei de três filhos deles, que dormiam ao meu lado na cama. 

Não lembro com quantos anos casei. Primeiro, namorei um rapaz por quatro anos, de quem eu gostava muito. Não casei porque o pai dele não deixou, por eu ser empregada doméstica. Fui para Uberaba para esquecer dele. O homem não percebeu que eu gostava dele e ele acabou casando com uma lavadeira de roupas.

Minha mãe não tinha muita paciência comigo porque eu estava velha e não tinha casado ainda e acabei casando com outro. Ele achava que estava velho para casar. Ele me perguntou se eu concordava com o que ele pensava e respondi que não. Nessa ocasião ele já era pai de seis filhos e era viúvo. Tivemos duas filhas, mas morreram, pois tive aborto.

Depois que eu vim para o Lar. Foi uma benção que eu recebi. Aqui é como uma família. Eu vim fazer uma visita no Lar e resolvi ficar, pois achei muito bom. Eu vim sozinha e Deus. Deu na minha cabeça de vir e eu vim e fui muito bem recebida. Deus me iluminou para estar aqui. Minha família não gostou, mas eu sabia que seria bem tratada.

Desde que moro aqui, o tempo foi passando e eu nunca tinha arrumado namorado. Gostei dele, mas minha família falou que eu estava muito velha para namorar com ele. Eu falei para eles que a vida é minha. A gente casa é pelo gosto da gente, não da família.