Série Bairros de Arcos: Gameleira, um bairro familiar que poderia ser chamado de simpatia

Gameleira é mais um bairro visitado pelo CCO para mostrar e falar dos lugares de Arcos

Série Bairros de Arcos: Gameleira, um bairro familiar que poderia ser chamado de simpatia
Chico, Helena e Flávia

Em continuidade à Série ‘Bairros de Arcos’, o CCO foi ao Gameleira, que fica na zona norte da cidade, na sequência do bairro Niterói com o qual tem uma semelhança: um bairro de uma única rua. É o que contam Francisco Gonçalves Borges (‘Chico’), de 82 anos e Helena Francisca Gonçalves Bretas (80), filhos de Avelino Gonçalves Damasceno e Maria Francisca de Jesus, que tiveram outros oito filhos já falecidos.

As origens

Francisco conta que o bairro Gameleira teve origem nas terras da Fazenda dos Davi e a rua, que hoje dá nome ao bairro, era chamada de rua da Floresta, com o simpático apelido de ‘Rua do Sapo’. 

Helena conta: “minha vó Francisca Honório do Nascimento era ‘dos Davi’. Meu avô Otaviano Justiniano Borges era descendente de escravos e veio de Nazaré (MG) com ‘os Ribeiros’ (família do Coronel José Ribeiro). Ele era como um empregado que participava da família, pois fazia as refeições junto com eles”. Isso aconteceu por volta do início do século passado (1900).

A família é a fundadora do bairro, por herança de terras doadas pelos Davi, primeiro para Francisca (avó de Helena), depois para Maria Francisca (mãe). Chico comenta que até 30 ou 40 anos atrás, só a família deles residia no bairro.

Tempos da infância

Da infância, Chico comenta que tinha uma vida de simples, mas muito feliz. Trabalhavam na roça, havia muita amizade, não só no bairro como em toda a cidade que ainda era pequena. Ele lembra que seu pai era muito estimado e Helena comenta que o pai (Avelino) foi padrinho de casamento de muita gente. Avelino coordenava e fiscalizava grupos 10 ou 15 homens que trabalhavam nos serviços das fazendas. “Os imigrantes ‘nortistas’ que vinham, ‘naquele período da fome’ trabalhar aqui ficavam ligados a ele, arrumavam namoradas e pediam para Seu Avelino ser padrinho de casamento”.

As casas de então, espalhadas pela mata, acompanhavam o caminho sinuoso que hoje é a rua Gameleira. Não havia luz e a água vinha de poços artesianos. Chico conta que o Gameleira, como bairro, surgiu por volta dos anos 50 e recebeu o nome por causa das grandes árvores gameleiras que existiam em quantidade na região. Helena explica que por ser um brejo, havia muitos sapos por isso ganhou o apelido. É bom destacar que cada menção à Rua do Sapo arrancava risos de Chico e Helena, certamente, pelas alegres lembranças da infância.

Ele conta que, no Gameleira, seu pai instalou uma olaria muito famosa, pois os tijolos de boa qualidade eram distribuídos em toda a região, especialmente para Iguatama e Pains. Na olaria, trabalhavam por volta de 30 pessoas. Chico lembra: “No ano 2000, eu parei com a olaria que era do meu pai, por conta das dificuldades impostas pelo ‘meio ambiente’ [legislação ambiental]”. 

Gerações

Chico e Helena são viúvos. Ele tem cinco filhos e Helena três. Dos filhos de Chico, somente um trabalha em Belo Horizonte, os demais vivem em Arcos. Dos filhos de Helena todos os três vivem no Gameleira. Helena diz que que não troca o Gameleira por outro lugar e seu irmão afirma que já foi melhor. Sorrindo, ela lembra de que, lá pelos anos 50, as famílias se visitavam à noite e ficavam conversando, enquanto as crianças brincavam de roda e outras, tais como fazer do cocho um ‘trenzinho’ ou de campanha política imitando políticos da época em que eram crianças.

Já são cinco gerações no bairro e região, pois muitos familiares retornam e se estabelecem, mantendo vivos os laços de família. Atualmente, eles acreditam que 300 pessoas residam no Gameleira e que a maioria ainda são familiares. 

Solteiros contra casados

... depois do jogo

Dentre outras atrações que eram promovidas pela família o jogo de futebol dos casados contra os solteiros era um evento esportivo familiar que reunia centenas de pessoas, anualmente, entre os anos de 70 e 80. Familiares e amigos, inclusive vindos de outros lugares, se encontravam para uma alegre partida de futebol, no campo do União, seguida de churrasco e muita prosa. O jogo era mais uma celebração divertida da família que também comemorava o Boi-bumbá no sábado de Aleluia.

Nesse ponto da entrevista, chega mais uma simpática integrante da família, uma das filhas de Helena: Flávia Gonçalves Bretas que é professora na Escola Estadual Dona Berenice, que rapidamente se envolve na entrevista.

Abastecimento comercial

Na rua Gameleira, que inicia próximo à rotatória do trecho um da avenida Sanitária (trecho 1) e vai até a entrada da Fazenda dos Davi, há somente residências, a maioria pertencente aos descendentes da família. Não há serviços e comércio exceto por um boteco, uma espetaria e um um posto de lavagem de automóveis. As necessidades em alimentação que não são atendidas pelas hortas residenciais e medicamentos, entre outras, são encontradas no bairro Floresta e a Rua Francisco Fernandes, do Niterói e no Centro de Arcos.

Serviços

O posto de saúde que atende o Gameleira é a unidade básica de saúde do bairro Nova Esperança e as igrejas mais procuradas são a Igreja de São Francisco (Cruzeiro) e a Igreja Matriz Nossa Senhora do Carmo.

A rua é atendida pelo transporte coletivo urbano oferecido pela Prefeitura Municipal.

O fornecimento de água atende plenamente, sem faltas de água. Além do que há um poço artesiano da COPASA no terreno da casa do Chico, que tem sido usado pela companhia para abastecer o bairro Pinheiros, já que ali não há carência.

Há coleta de lixo três vezes por semana: duas para o lixo orgânico e uma para o lixo reciclável.

Falando de que está faltando no bairro, Flávia reclama: “A entrada do bairro é muito feia e pouco iluminada. Acho que deveriam construir uma pracinha”. Helena acrescenta relatando que muitos veículos, inclusive caminhões bi-trem já entraram na rua, imaginando ser o caminho para Lagoa da Prata”

Helena: uma artesã reconhecida

Ela conta que seu trabalho como artesã em bordados (ponto-cruz) foi herdado da irmã que, por sua vez, recebeu as orientações de uma empregada ‘dos Ribeiros’. Quando fiz minha exposição solo na Casa de Cultura de Arcos, eu apresentei a primeira toalha que fiz para a esposa de Joãozinho Ribeiro. A exposição foi realizada para comemorar meus 64 anos de bordado.

Flávia comenta que Helena, sua mãe a tia, ensinaram as primas que hoje, também fazem doces e bordados. Ela complementa dizendo que, muitas noivas vinham à rua do Sapo para comprar seus enxovais. “A família é referência em ponto-cruz” – afirma a professora.

Percorrendo a rua-bairro da Fazenda dos Davi até a casa de Helena, passamos pelo ‘Cruzeiro do Gameleira’ instalado à frente do Centro Comunitário. Antes de sair, numa conversa rápida com mais um dos sobrinhos de Helena, José Marciano ou ‘Zequinha’ declarou: “Gosto e defendo o Gameleira. Estou a 63 anos morando aqui.” e explica que procura esclarecer às pessoas sobre o motivo do apelido da rua e explicar sobre a relação da rua com a família.

Bairro Gameleira, rua Gameleira ou ‘Rua do Sapo’: um lugar de gente feliz.

Fotos cedidas por José Marciano

Reportagem: Nando Noronha

Matéria produzida na Redação do Jornal e Portal Correio Centro Oeste. Jornalistas e proprietários de veículos de comunicação que desejam reproduzir nosso conteúdo devem citar a fonte: jornalcco.com.br