Série ex-prefeitos: Dr. Moacir tomou providências para instalação da Comarca de Arcos e telefonia 

Série ex-prefeitos: Dr. Moacir tomou providências para instalação da Comarca de Arcos e telefonia 

Matéria publicada no Jornal CCO impresso em 07/04/2018 (Edição 1943) – com adaptações.  

Natural de Arcos, Moacir Dias de Carvalho nasceu em 1912 e faleceu em 1977. Foi um dos primeiros dentistas com formação acadêmica a atender no município. Formou-se em Odontologia pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). A esposa dele era a pedagoga Célia Paraíso Dias de Carvalho (in memoriam). O casal teve seis filhos: Vera Lúcia Paraíso (in memoriam – era professora); Antônio Carlos Dias de Carvalho, conselheiro administrativo do Sicoob União Centro-Oeste; Moacir Dias de Carvalho Filho (Zuza), cirurgião-dentista em Belo Horizonte; Roberto Dias de Carvalho, que é médico ortopedista; Eduardo Dias de Carvalho (Barroso – in memoriam/também era dentista); Maria Ângela Paraíso (in memoriam – era formada em Biblioteconomia). Dr. Moacir e Dona Célia também ajudaram na criação e nos estudos de José Aparecido da Silva, que foi morar com a família quando criança. O menino se tornou o popular médico veterinário “Zé Neca”.

“Moacir era um homem que não tinha preguiça”

Aproximadamente sete anos depois da emancipação do Município, que ocorreu em dezembro de 1938, Dr. Moacir foi nomeado prefeito de Arcos (foi o terceiro prefeito da cidade, depois de Coronel José Ribeiro e Aderbal Teixeira de Amorim). Era uma época de grandes dificuldades financeiras no poder público municipal. Ainda não havia sido iniciado o intenso processo de industrialização na cidade, o que aconteceu em 1959, de acordo com registros do livro História de Arcos, do autor Lázaro Barreto (editado em 1992).

De acordo com informações de Antônio Carlos, filho de Dr. Moacir, a primeira gestão do pai dele como prefeito de Arcos foi no período de 7/04/1945 a 22/11/1945 (pouco mais de sete meses – últimos meses da Segunda Guerra Mundial, iniciada em 1939 e encerrada em 2 de setembro de 1945). Getúlio Vargas exercia o primeiro mandato como presidente do Brasil, de 1930 a 1945, quando foi deposto.

A segunda gestão de Dr. Moacir foi de 18/03/1946 a 4/01/1947 (aproximadamente 10 meses), quando o presidente do Brasil era Gaspar Dutra. Nesse segundo mandato, conforme consta no livro História de Arcos, Dr. Moacir participou ativamente do movimento para a instalação da Comarca (que foi inaugurada em 06 de junho de 1950), fez parte da comissão encarregada pela reforma e ampliação da igreja Matriz, em 1942, dentre outras iniciativas.

Moacir Dias de Carvalho foi o primeiro presidente do Arcos Clube e permaneceu no cargo por 10 anos, no período de 1967 a 1976. Em 2017, a diretoria do Arcos Clube prestou homenagem a todos os ex-presidentes, em decorrência dos 50 anos da Sociedade Recreativa de Arcos. Na ocasião, o empresário Antônio Cardoso, que estava com 83 anos, falou ao CCO sobre o dinamismo de Dr. Moacir. “Moacir era um homem que não tinha preguiça!”.

 ‘Avenida sanitária’, projetada na década de 1990 na gestão de Dª Hilda, havia sido idealizada por Dr. Moacir décadas antes

Em entrevista ao Jornal CCO (em 2018), Dr. Roberto Dias de Carvalho relembrou fatos marcantes sobre o pai. Dr. Moacir foi um dos primeiros dentistas em Arcos com curso superior; e durante uma época foi o único a prestar o serviço no Município.  
Dinâmico e visionário, participou de vários momentos importantes na cidade. Um deles foi a instalação da Companhia Telefônica no Município, que era filiada à Companhia Telefônica do Brasil Central (CTBC).  

Notícia publicada na Revista Flash Minas em 1960 - Josafá Rodrigues da Cunha (Fafá - de óculos), Dr. Moacir Dias, João Batista Gomes Filho (Dico Padeiro) e Edson Fonseca – “Seu Edinho” (que fez a primeira ligação telefônica em Arcos) - A cópia da revista foi cedida ao CCO pelo “Museu do Eneias”

Dr. Roberto Dias contou que ele chegou a providenciar a construção de uma estrada que ligava Arcos à cidade de Formiga. “Parte da estrada foi feita pela Prefeitura de Arcos sob a gestão dele, no enxadão”, relatou.

Também foi Dr. Moacir o primeiro prefeito de Arcos a idealizar a construção de uma avenida sanitária no Município, o que não foi concretizado na época, porque não havia recursos. “Certa vez ele foi a Belo Horizonte, viu a Avenida do Contorno e ficou deslumbrado, porque é uma avenida que contorna a cidade. Então ele trouxe esse projeto aqui para a Prefeitura de Arcos. É claro que era só um embrião, mas essas avenidas sanitárias foram projetadas e até pouco tempo atrás existia isso lá na Prefeitura, o projeto inicial. Foi ele que teve a visão de realizar esse projeto; ele não fez, mas tinha visão”, relatou o filho.

O projeto da “avenida sanitária” construída em Arcos, que recebeu o nome “Dr. João Vaz Sobrinho”,  foi elaborado na primeira gestão de Hilda Andrade (1989 a 1992). O trecho I foi concluído na gestão de Lécio Rodrigues (2001/2004) e o trecho II foi construído na terceira gestão de Plácido Vaz (2005/2008).

Rivalidade política entre Dr. Moacir e Dr. João Vaz (PSD x UDN)

Um fato curioso sobre Dr. Moacir Dias de Carvalho é que ele e Dr. João Vaz Sobrinho eram opositores políticos, embora se respeitassem. Dr. João foi médico e prefeito de Arcos nas gestões 1º/01/1948 a 31/01/1951 (aproximadamente três anos) e 31/01/1955 a 31/01/1959 (quatro anos). Ele era do partido UDN (União Democrática Nacional) e Dr. Moacir era do PSD (Partido Social Democrático). Cada um deles exerceu dois mandatos à frente da Prefeitura de Arcos.

Dr. Roberto Dias também relatou que o pai dele era amigo de Dr. Maurício Andrade [deputado estadual por dois mandatos e federal por três mandados – entre 1947 a 1969]. O deputado era o marido de Dona Hilda Andrade [prefeita de Arcos nas gestões 1989/1992 e 1997/2000]. “Dr. Maurício era um homem excepcional, com inteligência privilegiada”, comentou.  Dona Hilda faleceu em 2008 e Dr. Maurício, em 2011.
No livro Memórias de um Jovem Centenário [biografia de Dr. Odilon Chagas de Carvalho, 2017, publicado sob coordenação e redação de Clara Bernardes a partir da transcrição de sessões realizadas pela fonoaudióloga Francisleny Cária], o cirurgião-dentista Moacir Dias de Carvalho Filho, “Zuza”, filho de Dr. Moacir, faz o seguinte relato: “Uma parte da cidade era dos amantes da UDN, pacientes do Dr. João Vaz Sobrinho, torcedores do Ypiranga e fregueses do Sr. Donato Rocha. A outra metade pertencia ao PSD, eram cuidados pelo Dr. Odilon Chagas de Carvalho, adeptos da Associação e fregueses do Sr. Ramiro Chagas de Carvalho. Eles, dois superstars, acrescidos do padre Geraldo de Vasconcelos, do Sr. José Laranjeira, do prefeito e do juiz de direito, compunham, na minha imaginação, o poder, o equilíbrio, a paz, a harmonia e o bem-estar da cidade”.

Nas últimas décadas e principalmente nos últimos anos, diante dos escândalos de corrupção, existe uma rejeição em relação aos políticos. Ao falar de seu pai, Dr. Roberto Dias é categórico: “Meu pai era um homem absolutamente correto, competente, trabalhador e pontual. Era muito calado, sempre muito discreto”.

Dr. Roberto Dias foi vice-prefeito nas duas maiores alas políticas de Arcos

Dr. Roberto Dias foi vice-prefeito de Arcos por duas gestões – sendo a primeira ao lado da ex-prefeita Hilda Andrade (1º mandato: 1989/1992) e a segunda gestão com o ex-prefeito Plácido Ribeiro Vaz (3º mandato: 2005/2008). Portanto, Dr. Roberto contribuiu com o desenvolvimento de Arcos durante oito anos, nas duas alas políticas que ficaram à frente do Executivo Municipal por 29 anos consecutivos (1983 a 2012). Naquele período, a sucessão foi a seguinte: Plácido/Dona Hilda/Plácido/Dona Hilda/Lécio Rodrigues/Plácido/Claudenir Melo.  Plácido Vaz [que faleceu em 2023], era filho de Dr. João Vaz Sobrinho.
 
Dona Célia Paraíso: uma mulher à frente de seu tempo

Dona Célia Paraíso foi uma mulher à frente do tempo dela. Numa época em que pouquíssimas pessoas tinham curso superior, ela concluiu a graduação no Instituto de Educação de Belo Horizonte, trabalhou como diretora, inspetora regional e se aposentou como delegada de ensino. Falava fluentemente o francês.

Dr. Roberto disse que não conheceu nenhum relacionamento como foi o de seus pais: “Eu não tenho notícia de um casal que desse tão certo quanto meu pai e minha mãe, que gostassem tanto um do outro a vida inteira, como eles”, concluiu a entrevista.
Redação de Cecília Manuel e Rita Miranda.