Transformar vícios em virtudes: alternativa para quem deseja evoluir
Preguiça e o seu oposto (Diligência)
Inveja, Ira, Preguiça e Gula são comportamentos bastante conhecidos em nosso dia a dia. "Fazem parte da vida…", alguém pode dizer. De fato, fazem; e causam problemas!
A inveja provoca sofrimento e tristeza ao próprio invejoso; a ira nos deixa agitados; a preguiça impede nosso progresso; a gula pode resultar em sobrepeso, doenças e insatisfação com o corpo; e assim por diante.
Para uma abordagem sobre o tema, com a finalidade de propor reflexões aos nossos leitores, produzimos uma série de reportagens sobre cada um dos 7 Pecados Capitais (ou Sete Vícios), assim como as Virtudes opostas aos mesmos: Diligência (em oposição à Preguiça); Mansidão/Paciência (oposição à Ira); Caridade (em oposição à Inveja); Castidade (Luxúria); Temperança (Gula); Generosidade (Avareza); Humildade (Soberba).
Entrevistamos o Prof. Dr. Pedro Jeferson Miranda, tendo em vista um aprofundamento filosófico sobre essas questões. Ele atua na educação básica e superior como professor de física, matemática, química e biologia, além de lecionar filosofia tomista e línguas clássicas - grego e latim (aulas particulares). É Bacharel em Ciências Biológicas, Mestre e Doutor em Ciências - Física; Fundador e Conselheiro Geral da Confraria Tomista, dentre outras áreas de atuação. É paulistano, mas mora atualmente em Ponta Grossa/Paraná.
Professor Pedro relata abordagens filosóficas relacionadas às virtudes e seus vícios opostos: "Em particular na filosofia grega, o tema das virtudes e seus vícios opostos são frequentemente tratados. Uma dessas obras de grande envergadura é a Ética a Nicômaco, de Aristóteles. Essa obra é particularmente importante e relevante devido ao modo com que Aristóteles trata a virtude e o seu oposto - ou seja, o vício. Para Aristóteles, a virtude é um meio-termo entre dois vícios, um pela falta e outro pelo excesso; a virtude, no entanto, é mais semelhante a um dos extremos do que a outro […]".
Nesta primeira reportagem, nosso olhar é para a Preguiça e seu oposto: a Diligência (condição de quem é Ativo). "[…] A preguiça, dessa maneira, está conectada ao amor ao prazer no sentido de nos inclinar a evitar o esforço e o incômodo. Então, é um extremo pela falta de ação, logo é um vício no eixo das ações necessárias à vida humana cujo contrário - virtude - é a diligência (ou disciplina)".
Excesso de ação X falta de ação
Sobre as abordagens filosóficas relacionadas à Diligência/Disciplina, o professor responde: "Assim como existem obras filosóficas de tratamento dos vícios, também temos tratados completos sobre as virtudes. Em particular, a diligência é a virtude oposta aos vícios da preguiça e da indisciplina (cunho meu). A diligência, como exposto acima, está mais próxima a um excesso de ação do que a falta de ação, pois apesar de ser um meio-termo, está mais próxima a um dos extremos. Isso significa que é menos pior errar pelo excesso de ação do que pela falta de ação - preguiça".
O vitimismo pode estar relacionado à Preguiça?
Nosso entrevistado responde: "Com frequência o vitimismo é fruto da preguiça, pois é mais fácil culpar outrem por faltas pessoais do que reconhecer as próprias faltas. No entanto, há também muitos discursos que alimentam ideias de que ninguém realmente tem culpa de nada, tudo é fruto das condições exteriores. De modo geral, o vitimismo é marca da geração atual, uma vez que, quase sempre, vem acompanhada de desleixo, moleza e indiferença - termos associados à preguiça no Compêndio de Teologia Ascética e Mística, Pe. Adolphe Tanquerey. Em particular, no nosso país há uma falsa esperança de que as coisas não vão bem porque o Estado faz más escolhas, ou que o mundo é injusto, ou o "sistema" está errado, seja lá o que a pessoa deseja dizer com esse termo".
Com foco na adolescência e juventude, vamos relatar um comportamento comum na atualidade, que demonstra a relação entre preguiça e vitimismo, resguardadas as exceções, causando sofrimento aos pais e responsáveis:
Jovens que se deixam dominar pela preguiça não têm uma rotina de estudos e muito menos irão procurar emprego; e se forem "pressionados" a isso, não irão se interessar por aqueles trabalhos considerados "inferiores" ou "pesados", mesmo que sejam as únicas opções. Geralmente, esses jovens permanecem vivendo às custas dos pais (ou pior ainda: podem se tornar criminosos). Mesmo diante de tantas oportunidades (possibilidade de fazer curso superior custeado pelo poder público ou por meio de financiamentos) e cursos gratuitos disponíveis na Internet, muitos preferem passar o dia nas redes sociais. Mas chegará um momento em que esses jovens se darão conta do quanto o trabalho é importante para a independência financeira, para a identidade e convívio social. Sem qualificações para conseguirem emprego, passam a culpar a crise mundial e o Governo como únicos responsáveis por não terem sucesso profissional. Aí se instala o risco de se tornarem adultos totalmente dependentes das políticas públicas de assistência social, mesmo não sendo doentes ou incapazes, mas porque não se esforçam para terem seu próprio sustento.
E o que fazer para mudar?
Professor Pedro Miranda sugere que o passo em direção à cura de uma enfermidade é o reconhecimento de que a temos. Ele acrescenta: "O mesmo se dá no campo moral: para que possamos nos curar de um vício, devemos reconhecer que o temos […]".
Ele diz que há muito murmúrio sobre o insucesso, mas nenhuma solução é dada a ele. Detalhando: "[…] Na maioria das vezes estamos focados em reclamar somente. Essa tendência é um pretexto que alguém inventa para não ter que 'colocar a mão na massa' e mudar seu estado de vida. [...]".
Como começar a mudança para atingirmos nossas metas? "[…] A solução está em reconhecer sua contribuição para o seu desenvolvimento e trabalhar sobre ele de todo o coração. Muitas vezes estamos cansados e fracos, e acabamos reclamando. Mas isso não deve se tornar um padrão comportamental, mas uma exceção", enfatiza.
Tem remédio para curar a preguiça?
Doutor Pedro Miranda comenta sobre a importância da disciplina para quem deseja vencer a luta contra a preguiça:
"Quando aprendemos a ser diligentes pelo hábito da ação, os usos do tempo, dos recursos e das atribuições de responsabilidade ficam mais claros. Isso significa também que conseguimos ver melhor as causas dos efeitos de nossos sucessos e insucessos. Dessa maneira, tanto o sucesso quanto o insucesso terão causas mais claras, seja pelo hábito - virtude - da diligência, seja pelo discernimento que esse hábito traz consigo. Interessantemente, quanto mais nos habituarmos a diligência, menos nos importaremos em sermos ludibriados e enganados, pois aquilo não custa muito a ti - aquele tempo que você perdeu, facilmente é recuperado […]".
E quanto ao "remédio"? Nosso entrevistado orienta: "[…] O Pe. Tanquerey nos ensina que para recuperar o preguiçoso precisamos de três remédios: incutir uma forte convicção da importância da necessidade do trabalho; ajuntar a essa convicção um esforço continuado e metódico de ação; e direcionar a ação às coisas boas. Eu me explico: ter um ofício, estudar e praticar atividades físicas. Não somos como outros animais que procuram prazer sensual - alimento, abrigo e sexo -, somos humanos e nossas aspirações são infinitamente superiores, são transcendentais. Deixo-vos com esse pensamento para refletir sobre o papel da ação que temos neste mundo frente essa aspiração", conclui.
O fato é que não basta ter o desejo de melhorar, é preciso se esforçar para isso. No livro A Educação da Vontade, o pedagogo francês Jules Payot (1859-1940) escreve que "o aperfeiçoamento pessoal será uma obra de paciência que abrirá amplamente todas as fontes de felicidade (pois toda felicidade profunda provém de uma atividade bem regrada)" (Ed. 2018, página 41).
Portanto, "mãos à obra!"
Nossa próxima reportagem desta série será sobre a Ira e seu oposto: a Paciência.
Entrevista e Redação: Jornalista Rita Miranda (RP 14.621)
Matéria publicada no antigo site do Jornal CCO, em 23 de agosto de 2022