Zé Vilela: prefeito de Arcos nos ‘anos dourados’

Ele investiu em obras como a construção dos primeiros jardins e coreto da praça Floriano Peixoto, início da nova usina de eletricidade e escolas

Zé Vilela: prefeito de Arcos nos ‘anos dourados’
Foto: arquivo pessoal

José Vilela de Oliveira nasceu em Pains no ano 1904 e faleceu em 1979, aos 75 anos. Para contar a história dele, o CCO recorreu ao livro História de Arcos, de Lázaro Barreto (1992) e ao neto, Ailan Miranda Vilela, que relatou as histórias ouvidas do pai, Jamil Viela de Oliveira Filho.
O casal Afonsina Ferreira Vilela e José Vilela teve nove filhos: José Vilela Filho “Crioulo” (fazendeiro), Alaor (contador e fazendeiro), Jamil (contador e despachante), Juarez (contador), Maria “Nem” (do lar - falecida), Marlene (do lar), Jiva (do lar), Ivalda “Vanduca” (funcionária pública - falecida), Marli (professora - falecida). Os netos de Zé Vilela e Dona Afonsina (falecida em 1983) são 31 e os bisnetos, 57.

Zé Vilela e a esposa educaram os filhos com princípios rígidos, ensinando valores como honestidade e respeito. Também deram o exemplo de religiosidade.

Ailan contou que o avô começou a construir seu patrimônio com a renda do trabalho. Antes de receber herança dos pais, ele adquiriu seus próprios bens. “Meu avô veio de Pains com um pouco de dinheiro. Ele mexia com comitiva, com boiada. [...]. Depois, quando os pais dele morreram (José e Maria Vilela), ele herdou, mas já tinha seus bens e estava, como se diz, rico”, relata o neto, que acrescenta: “Ele mesmo fazia muitos serviços. Minha mãe conta que uma semana antes da morte dele, o Dr. Humberto Ratis avisou que ele tinha que ir para Belo Horizonte se tratar e fazer cirurgia, mas ele não foi e, uma semana antes, encheu um cômodo de milho. Já estava com 75 anos e não parava de trabalhar”, disse Ailan, informando que a morte do avô foi consequência de “problemas no coração”.

Zé Vilela foi proprietário de fazendas na Gracinda, no Corumbá, “Doce” (em Calciolândia) e em Tapiraí (perto de Bambuí). Também investiu na montagem de uma cerâmica na região onde depois se tornou o bairro Esplanada (saída para Formiga). O empreendimento existe ainda hoje.

Filiado ao PSD, partido de Juscelino Kubitschek

De acordo com registros da Galeria dos Prefeitos que fica na Prefeitura de Arcos, ele foi prefeito no período de 02/02/1951 a 20/07/1952 e de 26/11/1952 a 31/01/1955, tendo disputado a eleição com o médico e então prefeito João Vaz Sobrinho (partido UDN – União Democrática Nacional), que pretendia continuar por mais um mandado à frente do Executivo. Ele sucedeu o médico, que também teve novo mandado depois dele.

Zé Vilela era filiado ao PSD (Partido Social Democrático), partido de Juscelino Kubitschek, mineiro que foi presidente do Brasil no mandado 1956 a 1960. Ailan Vilela disse que o avô foi amigo de Juscelino. Outro político de renome nacional com quem o ex-prefeito teve amizade foi Magalhães Pinto (eleito governador de Minas em 1960).

Em Arcos, era amigo do dentista Moacir Dias de Carvalho (também do PSD), que foi prefeito da cidade em duas gestões na década de 1940.

Zé Vilela em frente ao coreto da praça Floriano Peixoto, construído na gestão dele

Principais realizações para a cidade

De acordo com registros do livro História de Arcos, o então prefeito Zé Vilela investiu nas seguintes iniciativas: instalação do primeiro almoxarifado municipal; construção de poços artesianos e dos jardins da praça Floriano Peixoto [os primeiros jardins] e do adro da Igreja Matriz; início da construção da nova usina de eletricidade [na atual região rural de Japaraíba]; construção de várias pontes de madeira e de cimento; reforma e melhoramento de estradas; criou o Distrito de Japaraíba; construção de muitas escolas na zona rural; construção do prédio da escola estadual de Barra do Melo, por intermédio do então deputado estadual Maurício Andrade.

Sobre a construção da “usina nova”, de onde vinha a energia para Arcos, Ailan Vilela contou a história que ouviu: “Parece que foi meu avô que começou, trazendo energia para a cidade; e Dr. João Vaz continuou e fez melhorias”.

Ele disse que além do avô ter providenciado a construção dos primeiros jardins da praça Floriano Peixoto, assim como do coreto e do caramanchão com o obelisco, também foi o responsável pela abertura das ruas Getúlio Vargas e Jarbas Ferreira Pires, no centro de Arcos; e ainda: a instalação de rede de esgoto na região que depois se tornou a avenida Almansor de Souza Rabelo, nas proximidades da avenida Governador Valadares.

Em entrevista ao Jornal CCO em março de 2017, a professora aposentada Nazaré Soraggi (falecida em maio de 2019) falou do tempo em que havia apenas poeira e mato na região da rua Getúlio Vargas, até que o prefeito da época, José Vilela, loteou e mandou calçar as ruas centrais: “Na época, eram apenas a minha casa e outras poucas localizadas do outro lado da parte central da cidade. No local onde é a Casa de Cultura funcionava a cadeia pública, e logo abaixo, um almoxarifado”.

Outra informação importante é que Zé Vilela realizou, com recursos próprios, a primeira exposição agropecuária de Arcos, antes de ser prefeito. “Minha mãe conta que muitas coisas ele fez com dinheiro do próprio bolso, mesmo quando era prefeito”, disse Ailan Vilela, que é servidor público municipal há mais de 27 anos. Ele comentou que mesmo diante de tantas contribuições para desenvolvimento de Arcos em uma época de poucos recursos públicos disponíveis, o avô ainda não foi homenageado em Arcos.

“Eu tinha quase 4 anos quando meu avô faleceu. Tenho lembranças dele chegar de chapéu, com a roupa do serviço, da roça, num fusquinha bege. Cresci ouvindo que ele era um homem trabalhador, destemido, rígido e também amigável, mas firme. Tratava o pessoal com muita firmeza. Se era amigo, era amigo; se está falado, está falado [homem de palavra]. Tinha toda essa história de hombridade, de caráter. Meu pai sempre falou”.

O neto de Zé Vilela, Ailan Miranda Vilela, em frente à casa que pertenceu ao avô


“[...] Cresci ouvindo que ele era um homem trabalhador, destemido, rígido e também amigável, mas firme [...]”, disse o neto Ailan Vilela

Matéria produzida em setembro de 2022. Pesquisa, entrevista e redação: Jornalista Rita Miranda.