A expectativa pela emancipação do Município de Arcos

A expectativa pela emancipação do Município de Arcos

"Quem faz uma visita a Arcos, não deixa de pasmar-se ante a crescente animação que vai em tudo. Pedreiros, carpinteiros, cavouqueiros, ferreiros, carreiros, artistas, etc., cada um com seu instrumento apropriado, dão à nossa urbs um aspecto de lugar em franca prosperidade. [...]"


Arcos foi emancipada em 17 de dezembro de 1938. Até então, pertencia a Formiga. Na edição nº 13 do Jornal O Arco da Velha, da Vila de Arcos, datado em 25 de fevereiro de 1934, foi publicado um artigo com narrativa bem-humorada sobre as expectativas dos moradores pela emancipação do Município. Segundo o redator (que provavelmente foi Jarbas Ferreira Pires), a comunidade se preparava, ansiosa, para o grande momento. Leia na íntegra: 


Independência!

Cada vez mais se avolumam em nossos corações, a fagueira esperança que nos alimenta de que muito breve será sancionada a lei da Nova Revisão Administrativa do Estado, pela qual será favorecido o nosso próspero distrito, que terá, então, vida autônoma, realizando, assim, uma antiga aspiração arcoense. Para isso, o povo prepara-se a fim de receber condignamente a boa nova. Quem faz uma visita a Arcos não deixa de pasmar-se ante a crescente animação que vai em tudo. Pedreiros, carpinteiros, cavouqueiros, ferreiros, carreiros, artistas, etc., cada um com seu instrumento apropriado, dão à nossa urbs um aspecto de lugar em franca prosperidade. 

A nossa Matriz está sendo remodelada e ampliada e muito breve teremos um templo digno da fé que professamos, graças aos valorosos e inquebrantáveis esforços do Rev. Cônego Guilherme.

As construções aumentaram diariamente, e todos procuram reformar suas casas, dando assim uma aparência nova à vila (já podemos dizer assim). Até o nosso cemitério vai ser reedificado, pois ninguém mais quer ser sepultado em cemitério velho, tendo sido por isso suspensos temporariamente os óbitos aqui. 

Dizem os pirotécnicos que no dia da assinatura do decreto de emancipação de Arcos haverá um eclipse total do sol, ainda não previsto pelos astrônomos. É que os comerciantes e industriais estão se abastecendo de fogos e foguetes para serem queimados neste dia memorável em que o nosso céu desaparecerá sobre uma densa camada de fumo. 

Haverá bailes públicos, concertos, passeatas, cantos, vivas, alegria; os estabelecimentos públicos, comerciais e industriais fecharão as suas portas; os sinos repicarão dia e noite; haverá corso, bailes à fantasia, discursos, salvas, representações e cinema ao ar livre; será punido severamente, expatriado e declarado indesejável todo aquele que mostrar-se indiferente a essa grande efemeridade! As ruas e praças serão adornadas com arcos, ramos, flores, bandeirolas e confete; a iluminação será centuplicada, dando um deslumbramento feérico às cousas; tudo será magnificente, indescritível, uma verdadeira apoteose. Em cada praça tocará uma banda de música. As festas durarão três dias.

Que os nossos castelos não sejam de areia e alcem bem alto as suas torres de onde bradaremos, uníssonos: Independência, vida e prosperidade!