Uma descrição da beleza das moças arcoenses, na saída da missa, em 1934
Em mais uma edição do Jornal O Arco da Velha, um morador de Formiga que assina simplesmente como "Petit" (15.2.34), descreve a beleza da Vila de Arcos e de suas damas. "A impressão que me dominou foi a de que presenciava um desfile das filhas de Nereu [*], elevando-se do oceano", compara. Leia o artigo na íntegra.
[*] Nereu é um deus marinho primitivo na mitologia grega.
Arcos, paraíso dos solteiros
Era num domingo estival. Numa dessas manhãs em que o sol, depois de uma noite tempestuosa, em fascinantes revérberos, rutila no azul infinito do espaço, mandando à terra os fluidos que se desprendem do seu bojo, espalhando a vida, a luz, o perfume, o encanto, a poesia e o esplendor sobre todas as cousas. Desembarquei, pisando pela primeira vez aquele solo privilegiado e bendito.
Que hospitaleiro lugar! Que povo amigo! Que terra invejável! Tudo ali é majestoso, deslumbrante, miraculoso. O ar que se respira é balsâmico e nos proporciona a agradável sensação de que é a própria vida que bebemos em haustos deliciosos; as ruas são amplas, alinhadas, elegantes; o horizonte que se descortina é surpreendente. Cercado de cortinas exuberantes de verdura, Arcos, com a sua branca casaria, assemelha-se a um ramalhete de malmequeres num halo de folhagens.
Era a saída da missa. Nesse momento, foi que eu bendisse o ensejo de poder testemunhar o que sobretudo encanta e deslumbra o visitante daquele rincão de Minas: a graça encantadora de minhas patrícias, esses ídolos que são o ornamento e o orgulho daquele povo. Desconheço as maneiras de dissimular, e bem longe vaga qualquer ideia pretenciosa de lisonjear. Nada mais cumpre-me do que fazer jus aos predicados daquelas deitades montanhesas.
"[...] Ali viam-se a Olga, tipo esbelto, com o seu vestido azul-claro, a calhar, faces de moreno-jambo, ao lado da sempre jovial Zilda, de vestes iguais, com as feições iluminadas pelo seu peculiar sorriso brejeiro; seguiam-nas a Sinhá. Lourdes e Sula, portes elegantes, faces rosadas, lábios de papoula, autênticos modelos de escultura; lá estavam a Marta, Candinha e Hilda, envoltas nos seus elegantes vestidos rosa, perfumosas, provocando inveja à rainha dos jardins; a Geralda Pinto, dedicada aos cortes, atraindo a todos com a sua fascinante meiguice. [...] Era a simpatia da América, a figura insinuante da Noraldina, as silhuetas românticas da Adélia e Anália; a faceirice perturbadora da Sianica, o semblante gracioso da Juraci, o talhe esbelto da Odete, os traços impecáveis da Edite, as faces encantadoras da Luci e Isa, o rostinho 'invejável' da Iolanda, a graça tentadora da Iberita...[...]"
Arcos é um lugar fadado. Parece que a natureza o prodigalizou com tudo que de mais belo possuía e que a sua mão mágica tocou em todas as cousas.
Postado de um lado, fiquei, por longo tempo, estático na contemplação, vendo, de momento a momento, aumentar a minha admiração, ante o quadro que se desenhava aos meus olhos embevecidos. Ali viam-se a Olga, tipo esbelto, com o seu vestido azul-claro, a calhar, faces de moreno-jambo, ao lado da sempre jovial Zilda, de vestes iguais, com as feições iluminadas pelo seu peculiar sorriso brejeiro; seguiam-nas a Sinhá. Lourdes e Sula, portes elegantes, faces rosadas, lábios de papoula, autênticos modelos de escultura; lá estavam a Marta, Candinha e Hilda, envoltas nos seus elegantes vestidos rosa, perfumosas, provocando inveja à rainha dos jardins; a Geralda Pinto, dedicada aos cortes, atraindo a todos com a sua fascinante meiguice.
É indescritível! Os meus olhos não se fartavam na agradável contemplação de um quadro tão encantador!
Era a simpatia da América, a figura insinuante da Noraldina, as silhuetas românticas da Adélia e Anália; a faceirice perturbadora da Sianica, o semblante gracioso da Juraci, o talhe esbelto da Odete, os traços impecáveis da Edite, as faces encantadoras da Luci e Isa, o rostinho 'invejável' da Iolanda, a graça tentadora da Iberita...
Era um nunca acabar. Tantas belezas, tantas, que muitos nomes não me acodem agora à memória.
A impressão que me dominou foi a de que presenciava um desfile das filhas de Nereu, elevando-se do oceano.
São essas as assoberbadas razões que me autorizam a afirmar, sem receio, que Arcos é o paraíso dos solteiros.
“O ar que se respira é balsâmico e nos proporciona a agradável sensação de que é a própria vida que bebemos em haustos deliciosos; as ruas são amplas, alinhadas, elegantes; o horizonte que se descortina é surpreendente. Cercado de cortinas exuberantes de verdura, Arcos, com a sua branca casaria, assemelha-se a um ramalhete de malmequeres num halo de folhagens”.
Formiga, 15.2.34 - Petit