A Flor da Morte de Henriqueta Lisboa
Mística Literária, a coluna de Francielle Ferreira

Henriqueta Lisboa (1901-1985), natural de Lambari/MG, foi uma grandiosa poetisa, crítica, tradutora, ensaísta, inspetora federal de ensino, e professora de literatura que faleceu em Belo Horizonte/MG aos 84 anos.
Frisa-se que no ano de 1963 foi a primeira mulher eleita para fazer parte da Academia Mineira de Letras, ocupando a cadeira 26. Além de ter recebido vários títulos honrosos e prêmios, como o prêmio Machado de Assis, em 1984, da Academia Brasileira de Letras.
Seu primeiro livro de poesia – Fogo-fátuo (1925) – foi publicado quando tinha vinte e quatro anos. Cabe destacar algumas de suas obras: Enternecimento (1929); Velário (1936); Prisioneira da Noite (1941); O Menino Poeta (1943); A Face Lívida (1945), Flor da Morte (1949); Madrinha Lua (1952); Azul Profundo (1955); Pousada do Ser (1982); e Poesia Geral (1985).
A obra Flor da Morte foi escrita em decorrência da morte de um grande mentor e amigo de Henriqueta, o renomado escritor Mário de Andrade que faleceu em 1945. Inclusive, os dois trocavam correspondência que até mesmo foi publicada na coleção Correspondência (Correspondência Mário de Andrade & Henriqueta Lisboa. Organização, introdução e notas de Eneida Maria de Souza. São Paulo: Editora Peirópolis; Edusp, 2010).
Em Flor da Morte, Henriqueta aflorou sua escrita sobre a negatividade da morte, expondo seu lado gótico. Os poemas que fazem parte dessa obra foram escritos entre 1945 e 1949. Cumpre expor alguns trechos desses poemas:
O véu
Os mortos estão deitados
e têm sobre o rosto um véu.
Um tênue véu sobre o rosto.
Nenhuma força os protege
senão esse véu no rosto.
Nenhuma ponte os separa
Dos vivos, nenhum sinal
Os distingue mais que o véu
baixado ao longo do rosto.
O mistério
Na morte, não. Na vida.
Está na vida o mistério.
Em cada afirmação ou
abstinência.
Na malícia
das plausíveis revelações,
no suborno
das silenciosas palavras.
Tu que estás morto
esgotaste o mistério.
Acalanto do morto
Em seio propício
dorme.
De olhos sob o musgo,
boca descarnada
E ouvidos de pedra,
dorme.
Nota-se a profundidade na construção dos versos da nobre poetisa que foi contemplada com uma estátua na Praça da Savassi em Belo Horizonte/MG. Veja-se:
Ante o exposto, recomendo a leitura da notável obra Flor da Morte dessa sensível poetisa mineira.
REFERÊNCIA:
LISBOA, Henriqueta. Flor da morte. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004.