Ajuda dos empresários não seria suficiente para equilibrar as contas da Santa Casa

A avalição é do atual provedor da Santa Casa, Ivan Fontes, que também é presidente da ACE/CDL de Arcos

Ajuda dos empresários não seria suficiente para equilibrar as contas da Santa Casa
Foto: recorte da gravação da Câmara Municipal de Arcos

O diretor Administrativo da Santa Casa de Arcos, Carlos Magno Bernardo Rodrigues, ocupou espaço na reunião da Câmara de Vereadores de Arcos, na noite de ontem (11), para falar das ações desenvolvidas, a situação e os resultados obtidos em quase um ano de intervenção judicial. A intervenção judicial foi determinada pela Comarca de Arcos do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), no dia 14 de setembro de 2022, suspendendo a intervenção administrativa decretada pela Prefeitura de Arcos, em 08/08/2022 que durou menos de 40 dias.

O diretor administrativo, Carlos Magno, fez a apresentação das informações e respondeu perguntas e o atual provedor da Santa Casa. O empresário Ivan Fontes participou, respondendo alguns questionamentos referentes à busca de recursos.


Situação anterior e atual

Conforme o relato do diretor, o desequilíbrio mais emblemático nas finanças do hospital e que já havia sido divulgado por Carlos Magno em entrevista ao Jornal CCO, é o déficit mensal. Apesar das duas intervenções e de suas ações, continua na casa dos R$ 300 mil, considerando que, no mês de julho de 2022, antes da intervenção administrativa da prefeitura, havia sido superior aos R$ 280 mil.

Dentre os inúmeros aspectos. apontados, os motivos principais também parecem ser os mesmos: a defasagem entre a tabela SUS e o usto real dos procedimentos e o fato de o hospital realizar procedimentos de baixa e média complexidade. 

Apesar disso o administrador destacou que as ações vêm sendo pautadas pela gestão administrativa em nível empresarial, graças à contratação de um administrador hospitalar. 

Segundo ele, o principal processo desenvolvido inicialmente foi a elaboração de um diagnóstico situacional que apontou as fragilidades e, dentre elas, a necessidade de um orçamento anual, que, segundo ele, inexistia quando iniciou seu trabalho: “Não sabíamos onde nós estávamos, nem onde queríamos ir”. Carlos também indicou outras debilidades, para as quais foram criados processos de correção, tais como: a inexistência do inventário mensal de estoque e o desconhecimento sobre até onde ia a responsabilidade de cada colaborador. 

Outro ponto apontado como crítico pelo diretor foi a perda e atraso de faturamento das contas médicas, representando cobranças que não foram feitas de gastos realizados. “Por exemplo, o SUS tem um prazo máximo de 90 dias para que seja apresentada uma conta”. Ele esclareceu que, não apresentando a conta dentro deste prazo, a cobrança não pode mais ser realizada pelo hospital, resultando em perda financeira para o hospital. “Para os convênios de saúde complementar o prazo fica entre 30 e 40 dias” – complementou.


Avanços

Carlos apresentou projetos que, segundo ele, avançaram neste um ano. São eles: a instalação do sistema de ar-condicionado do bloco cirúrgico (CME e obstetrícia/pediatria) que, iniciado em 2020, foi concluído durante a intervenção; inauguração do bloco cirúrgico, ampliando das instalações de duas para quatro salas cirúrgicas e uma sala de parto normal; instalação da torre de vídeo para o bloco cirúrgico, que havia sido adquirida em 2021; instalação da usina fotovoltaica, com economia prevista de 70% na conta de luz da Santa Casa que entrará em funcionamento neste mês de setembro.

Outros dois projetos que estão em andamento são: acessibilidade à Santa Casa, especialmente para o acesso das ambulâncias e a reforma das enfermarias SUS. Para ambos, com orçamento pronto a instituição busca recursos.

O Jornal CCO produziu e veiculou matéria tratando detalhadamente da situação da Santa Casa, a partir de entrevista com o diretor Carlos Magno, sob o título “Santa Casa de Arcos permanece ‘no vermelho’, com risco de fechamento”. A matéria pode ser em https://www.jornalcco.com.br/santa-casa-de-arcos-permanece-no-vermelho-com-risco-de-fechamento

O destaque final da apresentação aos parlamentares ficou por conta do déficit mensal e que, segundo o dirigente, só pode ser resolvido com aportes de recursos mediante subvenção. Até o final do ano, a subvenção dos cofres municipais prevista para a Santa Casa é de R$ 2,4 milhões (R$ 2.400.000,00).


Questionamentos e respostas

Respondendo sobre alternativas para a busca de sustentabilidade para a Santa Casa, Carlos Magno foi taxativo ao dizer que, enquanto persistirem as condições de um hospital considerado como ‘média complexidade’, pelo qual o SUS paga os menores valores de tabela, não conseguirá alcançar o desejado equilíbrio de contas: “Por mais que a gente tente, melhore os processos, aumente receita, por sermos um hospital de média complexidade, não somos, nem nunca vamos ser sustentáveis”.

O provedor da Santa Casa, Ivan Fontes, respondeu a alguns dos questionamentos dos vereadores, especialmente no que se refere aos recursos necessários ao equilíbrio econômico-financeiro do hospital.

Em sua participação, inicialmente, Ivan esclareceu que o objetivo do relato que a Santa Casa estava fazendo aos parlamentares não tinha qualquer intenção de comparar ou criticar gestões anteriores. 

Ele afirmou que, os empresários estão limitados e não conseguem ajudar a Santa Casa. Disse também que, em conversa com o prefeito, a Prefeitura também apresenta suas limitações. “Estamos numa cidade rica que não tem uma Santa Casa saudável financeiramente”. Ivan explicou que face à alta carga tributária, para empresários de todos os portes é difícil. Ele diz que o comerciante até poderá contribuir, mas não será o suficiente.

Sobre as grandes empresas ele afirmou: “Se uma dessas grandes empresas sair de Arcos hoje, nosso orçamento vai lá embaixo, tal como aconteceu com a Nestlé”.

Em seguida, evidenciou que a Santa Casa necessita dos recursos públicos: “Não sobrevivemos sem o poder público”.