Alagamentos de casas no bairro Brasília em Arcos persistem há aproximadamente 40 anos

A rua atingida é a Tenente Florêncio Nunes, paralela à ferrovia e a uma transportadora

Alagamentos de casas no bairro Brasília em Arcos persistem há aproximadamente 40 anos
Dona Maria José Moreira em frente à sua casa: a marca das águas na fachada.

Durante as chuvas de 13 e 21 de dezembro/2022 (média de 68 mm), houve alagamentos em 13 casas na rua Tenente Florêncio Nunes, bairro Brasília em Arcos.

O fato foi relatado ao CCO pelo coordenador da Defesa Civil em Arcos, Antônio Airton de Sousa, durante entrevista concedida no dia 30 de dezembro/2022. 

Antônio Airton informou que foi feito o monitoramento: “Ali é uma preocupação antiga, a gente vem acompanhando, dramaticamente, já há bastante tempo. Cerca de 20 casas ali são afetadas frequentemente, com uma precipitação um pouco mais elevada”.  

Segundo o coordenador da Defesa Civil, essa é a região da cidade mais afetada em período chuvoso e que gera maior preocupação. 

Problema existe desde a década de 1980

“Na hora que está chovendo, se você olhar a rua aqui é a mesma coisa de olhar para um rio [...]”

Na manhã de ontem (2 de janeiro de 2023), o CCO esteve na localidade para ouvir os moradores.

De um lado da via está um trecho da ferrovia; de outro, os fundos do imóvel que sedia a PUC Minas e o IFMG (Instituto Federal de Minas Gerais) e os fundos de uma transportadora.

Segundo moradores, no início da rua, na parte paralela à PUC, não acontecem alagamentos. O problema ocorre na parte da via que fica paralela à transportadora. 

Entrada da rua Tenente Florêncio Nunes

Dona Maria José Moreira, 80 anos, mora na Tenente Florêncio Nunes há aproximadamente 50 anos. Já perdeu sofá, estante e fogão, anos atrás, devido aos alagamentos.  Ela diz que, ao longo dos anos, já foram feitas algumas intervenções por parte do Governo Municipal, mas o problema não foi resolvido. “Mexeram na rua, fizeram ‘boca de lobo’, um ‘piscinão’ (bacia de contenção), mas a água continua entrando nas residências. Quando eu vejo que vai chover, antes de eu deitar eu coloco um plástico [dentro do cano] e uns tapetes”.  

Ela mostra de onde vem a água: das aberturas feitas em alguns pontos do muro da transportadora em frente e também da rodovia. “Se a gente não coloca uma barreira, as casas inundam. Na hora que está chovendo, se você olhar a rua aqui é a mesma coisa de olhar para um rio [...]”.

“Há uns 40 anos começou esse transtorno...”

O filho de Dona Maria Moreira, Carlito Geraldo Moreira (53 anos), mora na mesma rua. Ele afirma que o problema existe há aproximadamente 40 anos, ou seja, desde a década de 1980.  

Em 2022 a casa dele ficou alagada duas vezes. “Enche a cozinha, a copa e o banheiro. [...] Com toda chuvinha agora, mesmo fraca, também está voltando água no ralo do banheiro. A rede deve estar entupida”.

Mesmo com meio-fio de 23 cm de altura na calçada em frente à moradia, entra água, lama e lixo na residência. “Em outras ruas, onde o meio-fio tem altura de 10 cm, a água não passa, porque o escoamento é bom”, faz a comparação.

Carlito acredita que a solução é refazer a infraestrutura da via: trocar as manilhas por outras maiores (para comportar a grande quantidade de água que desce), rebaixar a rua e refazer o calçamento). “Colocar ‘boca de lobo’ sem trocar as manilhas não adianta...vai encher a mesma coisa”, comenta, baseado em suas observações ao longo de décadas.  

Como se não bastassem os problemas já citados, também há quem culpe os moradores, em redes sociais, comentando que não deviam ter construído casas “no nível baixo da rua”. Ele afirma que as residências não foram construídas no nível baixo da rua; e mostra a altura. “O calçamento desta rua é que ficou alto e é também por isso que a água invade as casas; nossas casas não foram feitas abaixo do nível da rua”.

Carlito se recorda que quando era criança, não existia a transportadora em frente e não havia o problema de alagamento. “Ali era um aeroporto e a rua não era calçada. Então, chovia e não tinha problema nenhum com água aqui. Depois que fizeram a terraplanagem, o muro [da transportadora] e calçaram aqui é que começou o problema das águas invadirem as casas, porque eles jogaram as caídas de água tudo pra cá”, relata. 

Ele faz os cálculos e afirma que os alagamentos começaram há aproximadamente 40 anos. “Há uns 40 anos é que começou esse transtorno nosso. [...] Eu lembro que a gente brincava aqui de bola, tinha campo de futebol, aqui era plano. Como era terra, a água ia embora [não ficava empossada]”.

O morador acredita que a transportadora é responsável por 50% dos problemas, devido às mais de 20 aberturas de onde a água desce. “Quando eles fizeram o muro [sem os buracos], eles viram que encheu de água lá e ia derrubar o muro, então eles fizeram esses buracos”, comenta.

Dona Antônia Rosa de Moura, 74 anos, também tem recordações. “Meu sobrinho [Luciano Elias] completou 36 anos ontem [1º de janeiro de 2023]; e quando ele nasceu, aqui já estava dentro d’água e barro [em período chuvoso]”. Ela também disse que antes da construção da transportadora em frente, não havia esse problema. “A nossa casa era bem baixa, levantou bastante aqui [o nível da rua], porque eles aterraram a rua para calçar; e antes não tinha isso e nunca entrava água dentro de casa”, afirma.

Lombadas – Outro problema verificado é que em algumas partes da rua, nas proximidades da calçada, formaram-se algumas lombadas. “Quando chove fica uma lagoa aí uns três dias, porque a água não desce”. Carlito disse que isso aconteceu depois de uma obra feita pela Copasa, há aproximadamente dois anos. 

Bacia de contenção não resolve o problema – Carlito indicou onde fica a “bacia de contenção” que foi feita no primeiro mandato de Claudenir Melo [2009/2012). “Foi uma ideia muito boa dos engenheiros, só que a água entra, enche e depois vem enchendo a rua também”.

A casa de Dona Antônia Rosa é ao lado da bacia de contenção. Ela diz que quando foi construída, diminuiu um pouco o volume de água, o que não impede os alagamentos quando chove muito. “Os moradores também não têm consciência e jogam lixo na rua, entupindo os bueiros. O rapaz que veio conversar com a gente aqui disse que pretendem aumentar o tamanho da bacia de contenção, mas isso não vai resolver o problema”, opina, também baseada em suas observações há mais de 30 anos.

Apelo ao poder público 

Ao final da entrevista, Carlito fez uma sugestão ao poder público: “Fiquei sabendo que estão querendo fazer um aeroporto em Arcos; então, esse dinheiro que vão investir em aeroporto, podiam investir aqui na nossa rua”. 

Obras necessárias para evitar os alagamentos 

No dia 30 de dezembro/2022, a Defesa Civil informou ao CCO que fez o comunicado ao Governo Municipal e à Ferrovia Centro Atlântica (FCA), relatando os alagamentos. A expectativa é que façam, em parceria, as obras necessárias para o escoamento de água. “É um dos pontos que mais me preocupo, porque afeta diretamente as moradias das famílias, idosos e crianças.  É um problema que tecnicamente se resolve 100%, com a parceria dos dois órgãos”, disse Antônio Airton. Ele explicou que é necessário fazer mais um sistema de drenagem por baixo da ferrovia, para fazer o escoamento. “A água sobe rapidamente, provocando os alagamentos, devido à falta de escoamento por baixo da rede”, comentou. 

Aeroporto construído em Arcos no ano 1970

A título de curiosidade, o hangar do aeroporto citado por Carlito foi construído em 1970 e em 1944 foi fundado o Aero Clube de Arcos, conforme consta no livro História de Arcos, de Lázaro Barreto (1992, pág. 204). 

No final de 2023, um vereador disse que alguns empresários de Arcos estavam dispostos a realizar uma parceria com o poder público municipal para a construção de um novo aeroporto na cidade.

Prevenção

A Defesa Civil mantém o protocolo de notificar o Município também antes do período chuvoso (setembro, outubro), informando sobre a necessidade de alguns serviços como limpeza de bueiro e córregos, para retirada de obstáculos que possam estar retendo água.

O coordenador diz que a colaboração da população é muito importante. Todos devem fazer sua parte para manter a cidade limpa, sem descartar materiais em locais impróprios. Antônio Airton observa que, geralmente, ocorrem alagamentos durante as primeiras chuvas devido aos bloqueios (lixos nas grelhas de bueiros).