Arcoense conta como é viver na Holanda
Guilherme Vilela Ribeiro destaca o valor do dinheiro no país (alto poder de compra) e a boa estrutura em tudo
Guilherme Vilela Ribeiro, 36 anos, é filho da secretária Gisele Laini Vilela e do representante comercial Helton Campos Ribeiro, residentes em Arcos. É engenheiro de produção formado pela Unifor-MG e trabalha atualmente como Order Picker em uma empresa chamada Sligro, na Holanda.
Guilherme sempre teve o sonho de viajar pelo mundo e morar em outros países. Isso foi desde a infância. “Eu sempre deixava isso bem claro para os meus pais”, conta.
Em 2019, ele tinha um emprego em uma indústria de fertilizantes em Pains, no cargo de comprador, mas não estava feliz naquela fase. “A vida que eu estava levando não me preenchia, eu não estava feliz; daí resolvi sair da minha zona de conforto e encarar um novo recomeço”.
Tomou a decisão de viver fora do Brasil em 2019 e, como ele mesmo diz, em janeiro de 2020 “aventurou-se em Malta” [país arquipélago pertencente ao continente europeu e situado no mar Mediterrâneo]. Os planos eram estudar inglês, trabalhar e construir sua vida na Europa a partir de lá. “Foi um início conturbado, pois em apenas dois meses começou a pandemia”.
Ele pretendia estudar três meses e logo após arrumar um emprego, porém, depois de dois meses estudando, a escola fechou. Devido à pandemia, também não conseguia trabalho. Ficou seis meses em Malta sem trabalhar e sem estudar.
O dinheiro estava acabando e Guilherme começou a procurar oportunidades em outros países. Foi quando encontrou trabalho na Holanda. “Foi muito fácil, por sinal”, conta. Mudou-se para o país em agosto de 2020 e ficou até dezembro do mesmo ano. Mais uma fase complicada, em consequência da pandemia, motivo pelo qual ele voltou para o Brasil. Queria apenas passar um tempo em casa.
O planejamento era ficar dois meses, mas vários voos foram cancelados. O retorno para a Holanda foi em setembro de 2021, permanecendo até então.
Mora em uma cidadezinha chamada Heeswijk Dinther e trabalha a cerca de 60 Km, em uma cidade chamada Nieuwegein.
Dá pra viver bem?
Uma característica marcante na Holanda é o poder de compra. “O seu dinheiro aqui vale, o seu poder de compra é muito maior se comparado ao Brasil. Aqui, com um mês de trabalho você compra um Iphone top de linha por exemplo”.
Guilherme observa que a qualidade de vida é muito alta e o país é muito bem-estruturado em tudo. “Aqui você paga muito imposto, mas você vê para onde o seu dinheiro está indo. Tudo funciona perfeitamente. A limpeza chama bastante atenção e a segurança também é incrível”.
Não faltam empregos. “Tem mais vagas de empregos do que trabalhadores”.
Quase não existem feriados, portanto, poucos dias de folga.
A Holanda é uma monarquia constitucional parlamentar democrática. O Chefe de Estado é o rei Guilherme Alexandre e o 1º Ministro é Mark Rutte, do Partido Conservador.
O jeito de ser dos holandeses
Nosso entrevistado relata que a população é “mais fechada ou fria”, ainda mais quando a comparação é com o Brasil; e a língua é difícil. Aliás, o clima também é frio e nublado na maioria dos dias e chove bastante.
Uma curiosidade é que praticamente todos os cidadãos têm bicicletas. “Eles usam bicicletas para tudo, desde ir ao supermercado ou até mesmo ir às festas. O ciclista aqui tem mais preferência que os pedestres”.
Saudades
“Do clima, do meu povo, da comida, dos meus cachorros, das festas, de ir para o bar com os meus amigos, de tudo” (risos).
A alimentação é um problema. “É muita batata frita, linguiça, eles consomem muito enlatado e comem muito um peixe chamado Alenquer, geralmente cru, krokete”.
O arcoense teve bastante dificuldade e por isso decidiu cozinhar. Gosta de preparar arroz, carne, frango ou peixe, feijão (às vezes), salada, batata assada e sopa.
O sonho de uma vida como nômade digital, mas sempre retornando a Arcos
Desde 2020, Guilherme retornou ao Brasil duas vezes. Da última vez que veio para Arcos, ficou um mês. “Ter que vir embora, confesso que foi muito difícil para mim. Eu gostaria de viver alternando entre Brasil e Europa, passar oito meses aqui [na Europa] e quatro meses por aí, por exemplo”.
Ao falar de projetos, conta um em especial: “Meus planos são de trabalhar com home office e poder viver como nômade digital, conhecer o mundo todo e ao mesmo tempo estar trabalhando”.
O retorno periódico a Arcos é uma certeza. “Arcos é minha raiz e eu sempre vou querer estar próximo; eu pretendo viajar muito e, sempre que puder, ir a Arcos. Com essa experiência de morar no exterior, eu aprendi a valorizar muito o meu país e a minha cidade, o que era bem diferente antes de ir embora”.
O que vê pelas ruas da Holanda?
Ao responder sobre a situação econômica da Holanda, a partir do seu olhar, ou seja, o que ele vê pelas ruas e o que ouve, a resposta é a seguinte: “Holanda é um país extremamente rico, o holandês no geral é muito bem de vida”.
Perguntamos se ele percebe desigualdade social extrema e pedintes nas ruas. Ele afirma que a desigualdade social é quase imperceptível, mas existe. “Aqui, só não trabalha quem não quer ou se a pessoa é impossibilitada de alguma forma, por incapacidade, por exemplo; e ainda assim, eles recebem ajuda do Governo. Nas grandes cidades como Amsterdam, Rotterdam e Utrecht, você encontra pedintes sim. Não são muitos, mas tem”.
Serviços públicos de saúde e educação
Guilherme nunca precisou utilizar, mas ele conta que, para trabalhar no país, a pessoa é obrigada a pagar o Seguro Saúde. Se precisar utilizar o serviço médico, pagará uma taxa irrisória. “Teve um caso de um amigo meu, português, que precisou operar o joelho aqui e ele não precisou desembolsar nada. Outro caso é de um amigo holandês que teve câncer e os custos todos foram pagos pelo Governo”.
Sobre Educação, disse que ainda não tem muito conhecimento sobre como funciona no país, mas sabe que tem alguns cursos superiores com preços bem acessíveis. “Tenho um colega de trabalho que pretende cursar Psicologia em Amsterdam e ele me disse que o custo anual seria de apenas $1.300 euros, no caso, o que é, de fato, muito acessível”.
Como os estrangeiros são recebidos aí?
Guilherme tem observado o seguinte: “O Holandês, no meu ponto de vista e na minha experiência, não é um povo xenofóbico; eles são muito educados e eu nunca sofri nenhum tipo de preconceito, mas conheço gente que já sofreu”.
Ele também vê que a mão de obra estrangeira no país é muito grande, porém, a maioria são cidadãos de países da União Europeia, o que lhes permite trabalhar legalmente.
Guilherme só pode trabalhar e viver na Holanda legalmente, porque tem a nacionalidade portuguesa, adquirida do seu bisavô Germano.
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