Bispo Dom Aristeu esclarece sobre bênção para casais homoafetivos 

“Um padre jamais nega uma bênção pedida. Repito, não se trata nem de direito desses casais, mas uma possibilidade, à medida que a quiserem e pedirem. Nada em ato público, é no particular. [...]” – Dom José Aristeu, bispo da Diocese de Luz

Bispo Dom Aristeu esclarece sobre bênção para casais homoafetivos 
Dom José Aristeu, bispo da Diocese de Luz

A autorização do Papa Francisco para que os padres abençoem casais homoafetivos, divulgada no dia 18 de dezembro de 2023, tem gerado dúvidas entre católicos e pessoas de outras religiões cristãs.

Com a finalidade de esclarecimento, o CCO produziu reportagem sobre o tema, a partir de uma entrevista com o bispo Dom José Aristeu Vieira, da Diocese de Luz, na qual Arcos está inserida. Enviamos as perguntas por e-mail e ele nos respondeu nessa segunda-feira, 8 de janeiro de 2024.

Em síntese, o papa autorizou a bênção, mas não se trata de uma obrigação. Dom Aristeu explica:


“As orientações do Papa são preciosas. Sempre nos ajudam. Precisamos absolvê-las na nossa pastoral. Mas há sempre uma necessária adaptação a cada realidade de nossas dioceses. Cada Padre que está na base de sua pastoral, que conhece as pessoas, no encontro com elas, vendo as disposições e demandas delas vai discernir o que pode e deve fazer. Não é uma obrigação nem para o Padre, nem para os ditos casais. Mas vale lembrar que isso não tem nada a ver com Sacramento do Matrimônio. Nem há um ritual para essa bênção, veio, sim, uma orientação de como agir, quando nos vem essa demanda”.

Não se trata de um “direito”. Na análise do bispo, “praticamente, não houve novidade” nesse contexto. “Um padre jamais nega uma bênção pedida. Repito, não se trata nem de direito desses casais, mas uma possibilidade, à medida que a quiserem e pedirem. Nada em ato público, é no particular. Trata-se de acolher as pessoas, não de julgá-las, muito menos sacramentar e aprovar a decisão delas, no meu entendimento”.


“A igreja não louva e nem incentiva [...], mas respeita as decisões das pessoas, que não deixam de ser filhas de Deus [...]”

De acordo com o dicionário Priberam da Língua Portuguesa, abençoar significa: "Tornar feliz, bem-fadar; louvar, glorificar".  A igreja católica glorifica e louva as uniões homoafetivas? Dom Aristeu esclarece:

“Não, a Igreja não louva e nem incentiva uniões afetivas, mas respeita as decisões das pessoas, que não deixam de ser filhas de Deus pelas decisões que tomam na vida. Se essas pessoas são religiosas, sensíveis a Deus, à fé, se buscam uma bênção para suas vidas, um padre não deve negar”.

O bispo explica que, no contexto da igreja católica, “essa bênção significa que Deus as ama, quer o bem delas, mesmo que não estejam na perfeita sintonia com Cristo, que confirmou a união matrimonial, ‘como desde o princípio’, na criação, entre um homem e uma mulher que deixam pai e mãe para ser uma só carne, abertos a novas vidas. Só essa união é e pode ser sacramental”.

A prática homossexual é considerada pecado?

Diante da pergunta, Dom Aristeu responde:

“É muito complicado, tratando-se de moral, afirmar algo no geral, sendo que o julgamento se o que a pessoa praticou é ou não um pecado, considera haver três coisas: assunto grave, liberdade da pessoa em praticá-lo e consciência de que está ofendendo a Deus.  Isso é avaliado no pessoal, no atendimento de cada pessoa por parte do sacerdote. Isso vale para qualquer situação. O que penso, especialmente sobre esse tema, é que, em norma geral da Igreja, a sexualidade é assunto sagrado, se trata do mistério da vida, então tem que ser tratada com muito respeito e responsabilidade. Segundo a norma geral da Igreja, que tem fundamento bíblico, a prática homossexual, como tudo o que pode ferir a dignidade da pessoa, tem que ser evitada. Vivemos num mundo em que tudo é permitido, tudo é liberado, sem se ter em conta a consciência, o que diz Deus em sua Palavra. Ficam umas questões para refletirmos...”.

Até a data de ontem, 8 de janeiro de 2024, o bispo não teve conhecimento de procura pela bênção nas paróquias da Diocese de Luz. Ele agradeceu pela oportunidade de expressar sobre o assunto e deseja a todos “abençoado Ano Novo”.


Na semana passada, o CCO perguntou, nas cinco paróquias de Arcos e na comunidade Os Pequeninos de Deus, se algum casal homoafetivo já solicitou a bênção e se todos foram ou serão atendidos.  

Padre Ígor Valadão, responsável pela Paróquia Nossa Senhora do Carmo, respondeu que até quinta-feira (4 de janeiro/2024) não houve solicitação de bênção. Acrescentou que quando a paróquia for procurada, haverá toda abertura e acolhida. O padre disse que na reunião da Diocese, que acontecerá em fevereiro, provavelmente serão dadas as orientações, “a forma como proceder para o acolhimento de todos esses casais”.

O padre responsável pela paróquia Santo Antônio optou por não se manifestar.

A Paróquia Santa Rita informou que não houve procura e que a paróquia “colocará em prática as determinações do Papa Francisco”.
Ainda não tivemos retorno das paróquias São Cristóvão e de Nossa Senhora do Rosário e da comunidade “Os Pequeninos de Deus”.

Opiniões de padres e bispos  

Circulam, pela Internet, vídeos de padres e bispos que opinam contra a bênção da igreja para casais homoafetivos. Não é possível afirmar se essas manifestações foram feitas antes ou depois da decisão do Papa. Em um deles (postagem de 21 de dezembro de 2023), no qual três bispos, três padres e um frei estão comentando sobre o assunto, sem estarem em um mesmo ambiente, o padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior opina: “Um padre que realiza uma bênção dessas está indo completamente contra o ensinamento da igreja e contra a disciplina da Igreja. Trata-se de uma espécie de simulação de sacramento. Não é possível a igreja abençoar uma união gay, porque as relações homossexuais não são um direito, não podem ser equiparadas ao matrimônio”. Padre Paulo Ricardo é mestre em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma), escritor e professor. Link: https://www.youtube.com/watch?si=x5ujq1Ej3RCCYZ7g&v=FnUUVDk1IPo&feature=youtu.be 

“Concordo com a bíblia, pois sou católico, só não vejo como pecado o amor entre homem com homem e nem mulher com mulher” – Donizetti Bernardes

O CCO ouviu a opinião do arcoense Donizetti Bernardes, que é católico e homossexual. Ele disse:

“O papa liberou a bênção para a união dos homossexuais, mas ele não citou casamento, isso pra mim já é outra proposta. Bênção, você pode receber da sua família, de um teólogo, de uma pessoa que tem fé e que pode abençoar. Daí, o assunto foi estendendo até chegar ao templo de Deus. Concordo com a bíblia, pois sou católico, só não vejo como pecado o amor entre homem com homem e nem mulher com mulher. Já que aconteceu, siga a sua vida sem aliados, vai ser feliz. [...] Acho que nós, homossexuais, não somos erros genéticos, não somos pecados de um casamento entre homem e mulher. Todo ser humano é luz, alguns com erros (Será erro ou aprendizado? Ou segue o curso que o sistema fez?). Enquanto eles ficarem mexendo com a palavra que é a mais sublime, AMOR, mais força ela ganha. Acho que Deus não quer nada de ruim para as pessoas, ele só quer o nosso bem e o nosso amor ao próximo. Essa é a luz que Ele nos deu para vir pra terra. Pra que tanto conflito desnecessário? Isso não vai mudar nada. Às vezes, discutimos muito e amamos pouco. O mundo é assim, temos nosso propósito e a coragem de ser quem somos, ninguém no mundo vai tirar isso. Cada ser humano tem um destino para ser cumprido, independente de situações criadas pelos homens na terra e não por Deus, no céu. [...] Deus é muito mais do que esse questionamento”.

E você, leitor? Qual sua opinião? Um padre que se nega a abençoar o casal homoafetivo está negando a misericórdia divina e sendo preconceituoso ou está apenas evidenciando que a igreja não incentiva a prática homossexual? Comente em nossas postagens desta matéria em redes sociais.