Dificuldade para registrar pedido de aparelho auditivo em Arcos

Acsa Silva, que depende do Município para providenciar sua solicitação, aguarda pelo aparelho há oito meses; faltaram informações para a usuária do serviço público.

Dificuldade para registrar pedido de aparelho auditivo em Arcos

Durante a visita do CCO à Confraria dos Surdos, no dia 25 de novembro, foi relatado que Acsa Ferreira Silva, 23 anos, está tentando, sem sucesso, há oito meses, adquirir o aparelho auditivo do lado direito.

Acsa nasceu com deficiência auditiva, dedicou-se aos estudos e tem sua profissão:  técnica em enfermagem. Trabalha atualmente na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) de Formiga.  Morava em Piumhi, sua cidade natal, passando a residir em Arcos há aproximadamente oito meses, quando se casou. O marido trabalha em serviço operacional na Belocal.

O filho dela, de 4 anos, também tem deficiência auditiva. Ela disse ao CCO que nunca teve dificuldade em conseguir a manutenção dos aparelhos, como está acontecendo agora em Arcos. 

Quando a criança teve o diagnóstico de perda auditiva, foi feito o encaminhamento para Alfenas, onde ela e a mãe - que também tem a deficiência - já faziam o tratamento. "Bernardo conseguiu o acesso com o fonoaudiólogo para ganhar o aparelho e o acompanhamento, também com a fono, para aprender a linguagem e a fala [...]. Todo o acesso de lá eu consegui", conta.

Quando ela veio morar em Arcos, um dos aparelhos (lado direito) já estava estragado. "Já estava lá em Alfenas, para manutenção. Só que nesse tempo que mudei, como pedi a transferência, já não faço mais parte de lá e fiquei só com um aparelho, o esquerdo, funcionando". 

Idas e vindas à Fumusa e ao Posto de Saúde

 Acsa trouxe toda a documentação (inclusive a transferência do acompanhamento de lá para cá) e foi diretamente à Fumusa (Fundação Municipal de Saúde e Assistência Social de Arcos), onde fica a Secretaria Municipal de Saúde, tendo sido encaminhada à Unidade Básica de Saúde (UBS) - Posto de Saúde, onde o fonoaudiólogo iria fornecer um laudo relatando que ela e o filho têm perda auditiva e que precisam fazer o acompanhamento. Segundo Acsa, o fonoaudiólogo a encaminhou para uma unidade de Formiga que trabalha com aparelho auditivo.  

Ao entrar em contato com a clínica em Formiga, foi informada que não poderiam ajudá-la, porque o aparelho dela não era referenciado em Arcos.  A funcionária da clínica de Formiga orientou que ela teria que recomeçar o processo em Arcos.  

De volta ao PSF (Novo Eldorado - Arcos), ela foi informada que "teriam que entrar em um programa para liberar o código para entrar no sistema". Ela retornou à Secretaria Municipal de Saúde /Fumusa.  "Levei o pedido na Fumusa e eu fiquei uns dois meses sem saber se tinha dado esse processo ou não. Fui na Fumusa cobrar e a moça não sabia se tinha entrado ou não [no sistema], ela estava meio perdida...".

Nesse período de dois meses, ela disse que procurou a chefe do PSF e ela informou que já tinha feito as cobranças às pessoas responsáveis e que não estava tendo respostas. 

Acsa foi encaminhada para a APAE (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais), que não realiza esse tipo de serviço. Lá, teve conhecimento da Confraria dos Surdos, onde ela recorreu à Paula Sandra, que está tentando ajudá-la, também com o auxílio da assistente social. 

Usando o aparelho da mãe 

Acsa está usando um dos aparelhos da mãe dela, para conseguir trabalhar. "Tive que pedir minha mãe emprestado, mas mesmo assim estou tendo muita dificuldade, tanto para trabalhar quanto para a vida social. Muitas vezes as pessoas falam e eu não escuto. Fico muito constrangida, porque eu dependo disso. Se eu pudesse, eu compraria e não ficaria dependendo do SUS. Fico triste porque eu nasci assim. Eu não tenho culpa", disse, nitidamente abalada e chorando.

"Sem protocolo de atendimento e documentos não encontrados"  

Nossa entrevistada disse que estranhou o fato de a Secretaria Municipal de Saúde não ter fornecido a ela o protocolo de atendimento, como é feito em Piumhi.

Segundo a assistente social da Confraria dos Surdos, Flávia Paulino, na recepção da Fumusa, onde os serviços estão centralizados, não há nenhuma informação sobre a pactuação e o tipo de atendimento em relação aos deficientes auditivos. Flávia sabe que o Município de Arcos é pactuado - em relação aos aparelhos e exames - com Santo Antônio do Monte, referenciado para Santo Antônio do Monte e Formiga.

"Quando Acsa foi à Secretaria de Saúde, não deram nenhum número de protocolo pra ela. A documentação que eles solicitaram ficou lá. Quando ela voltou, porque não davam retorno, eles não davam notícia da documentação que ela entregou [todo o histórico dela e do filho dela]. E para darem a entrada no processo todo, era necessária a documentação", conta a assistente social, acrescentando que os documentos foram levados novamente, pela segunda vez. Já se passaram mais de oito meses.

Governo Municipal 

No dia 5 de dezembro, o CCO relatou o fato à Secretaria de Saúde e à Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Arcos. Solicitamos que a demanda da Acsa fosse solucionada. Na última segunda-feira (12), o secretário municipal de Saúde, Tiago Carvalho, informou que ela havia passado por consulta e que as etapas seguintes já estavam acontecendo. "Ela já está sendo acompanhada para as próximas etapas, fez a consulta dia 9", disse. Ele acredita que o problema aconteceu por "falta de orientação" e devido ao não encaminhamento para o departamento correto. Afirmou que a solicitação dela está no setor de Tratamento Fora do Domicílio e que estão dando andamento.