Educadora arcoense é autora de 14 livros

Um dos mais recentes traz orientações sobre o método funcional para que o estudante aprenda a escrever

Educadora arcoense é autora de 14 livros
Lázara Teixeira de Sousa ao lado de Rosana Silva, presidente da Academia de Letras Arcoense

A arcoense Lázara Teixeira de Sousa, 86 anos, presidente de honra da Academia de Letras Arcoense (ALARC), escreveu mais dois livros, que foram impressos em 2022 e lançados em setembro deste ano: Poetizando palavras e palavras e Ortografia é parte fundamental da educação.

O segundo livro citado é dedicado aos professores, com orientações sobre a maneira adequada e funcional de lecionar, para que o estudante aprenda a escrever; nele estão 12 sugestões de atividades. [Todos os professores da educação básica deveriam ler].

Já são 14 livros escritos por ela, incluindo os didáticos. Dona Lázara é formada em Letras e especialista em Processo Ensino-Aprendizagem:   Fundamentação Filosófico-Antropológica e Técnico-Pedagógica. Aposentou-se na rede pública estadual e atuou na educação em Arcos por mais de 60 anos. Trabalhou na gestão do Departamento de Educação Municipal (hoje Secretaria de Educação), em duas gestões (1989/1992 e 1997/2000). Há 27 anos, fundou o colégio INPA (Instituto Pedagógico Arcoense). Depois da aposentadoria, passou a escrever, com motivação relacionada a projetos educacionais, assim como demandas da Educação.

Em junho de 2017, lançou “Edificação em verso e prosa”, com textos opinativos. Em 2018, foram três livros de histórias voltados para o público infantojuvenil, que também agradam a leitores de diferentes idades: O nome do gato, Bico na barra da saia, Alfabeto em versos.

A escritora concedeu entrevista ao CCO no dia 3 de outubro (2023). Ela está atenta à necessidade de melhorar a qualidade da educação e anseia pela capacitação dos educadores, a fim de que tenham conhecimento e prática, itens essenciais para que consigam ensinar. Dona Lázara trabalhou também com esse propósito, tendo ministrado cursos para professores de Arcos e de outras cidades mineiras, na época em que trabalhava na rede municipal. Hoje escreve com o mesmo objetivo: ver as crianças aprendendo da maneira correta.  “É exatamente com esse desejo, com essa finalidade, é para alfabetizar”, sintetiza.  

Ao longo das últimas décadas, Dona Lázara tem observado falhas na alfabetização. “Nos últimos 25 anos, as pessoas não pensam na alfabetização, de modo geral”, ela diz, falando de uma necessidade: que todos os profissionais sejam bem-formados e capacitados. Acrescenta: “Formar não é somente receber diploma, formar é tornar-se capaz de acordo com as necessidades daquilo que é feito, mas hoje não tem isso, essencialmente na educação”. Sem generalizar, ela diz que existem os profissionais que se dedicam e se comprometem. 


Formados, mas analfabetos funcionais  

O escritor Olavo de Carvalho (1947-2022) – que foi reconhecido como professor e filósofo, sobretudo pelos seus leitores e alunos que se tornaram admiradores – falava sobre o analfabetismo funcional referindo-se, inclusive, às pessoas com formação acadêmica que não escrevem corretamente, não conseguem interpretar textos com um pouco mais de complexidade e nem realizar operações matemáticas. Vale a pena lembrar que Olavo era autodidata, assim como os primeiros filósofos.    

Essa triste realidade do analfabetismo funcional é vista em diversas áreas e profissões, até mesmo no exercício do Magistério. Ao abordarmos essa temática com Dona Lázara, argumentamos: Se existem professores que não conseguem interpretar alguns textos adequadamente, como é que eles vão ensinar aquilo que não sabem?  Perguntamos à escritora se ela percebe esse cenário. Eis a resposta: “Sou testemunha disso. É verdade!”.

Por outro lado, existem pessoas sem formação convencional, autodidatas, que se dedicam ao estudo informal e à prática, aprendendo com excelência. Dona Lázara falou sobre a mãe dela, Ana Teixeira Borges, que foi professora sem formação. “Comecei a aprendizagem com ela, desde a primeira infância.  Eu nasci e ela já era professora. As aulas dela eram em nossa casa e depois passaram a ser na fazenda que era do meu bisavô, lá no Córrego das Almas, onde comecei a vida”.

Naquele cenário, a pequena Lázara teve a rara oportunidade de vivenciar a “educação em tempo integral”, mas em casa, sob o olhar, os cuidados e os ensinamentos da mãe/professora. Antes mesmo de ser alfabetizada, ela já ouvia e via a mãe ensinando, o que adiantou sua aprendizagem. “Quando minha mãe ganhou os últimos filhos, eu dava aulas no lugar dela. Comecei com 12 anos. Eu não tinha formação, mas eu sabia, porque nasci vendo a mamãe trabalhar”, lembra, com saudosismo. 


Defasagem no aprendizado - responsabilidade de quem? 

Dona Lázara lamenta a realidade de alunos que não aprendem determinados conteúdos e, mesmo assim, seguem para o ano escolar seguinte, ou seja, são aprovados, mas com defasagem. Na opinião dela, esses estudantes não estão sendo beneficiados pelo sistema, mas sim, prejudicados. “A pura verdade, o que mostra claramente, diante dos resultados educacionais, diante da pseudoformação, que ser formado não é ter o certificado; ser formado é ser capacitado”.

A educadora percebe que se tornaram comuns vários hábitos que substituem a verdadeira missão de um educador. Ela enfatiza: “Todas as pessoas que assumem compromisso dentro de uma Casa da Educação estão assumindo compromisso com a sociedade”.

Ao falar sobre os hábitos e referindo-se aos alunos que são matriculados no ano escolar seguinte sem terem aprendido o conteúdo necessário e que seria base para o próximo período escolar, ela diz: “O estudante que não aprendeu e passou para o ano seguinte, isso se tornou uma remediação. É uma remediação diante das faltas na formação de quem se torna educador, ou seja, um pseudoeducador. Fica difícil manifestar isso publicamente, mas é a verdade”.

Então, como deve ser a alfabetização, a educação? Ela responde: “Ali dentro da sala de aula, na exercitação de todas as disciplinas, que tem que ser por escrito. Não é só o professor de Português que ensina a escrever”. 

Sobre o livro didático, orienta: “É necessário, mas nas mãos de um educador que conhece o processo adequado para isso; o livro é um acessório. O aluno vai precisar do lápis, do papel, de ouvir, escrever, analisar, comparar com o próprio livro didático, que é um auxílio”.

Ela comenta que o educador é um profissional fundamental na vida das pessoas e afirma: “Os professores não pensam nessa verdade: que o livro didático não é o principal na aprendizagem do aluno. O principal é ele fazer seu livro, seu caderno, porque livros existem muitos e nos últimos anos, livros cheios de erros, porque quem escreveu são os herdeiros dessa fraqueza educacional”.


As telas não substituem os exercícios 

A pós-modernidade trouxe as “telas” para a sala de aula, os recursos multimídia. É claro que a combinação de texto, áudio, vídeo e imagens tem suas vantagens no ensino. Esses meios são importantes e necessários, contudo, na opinião de Dona Lázara e de tantos especialistas, não substituem a necessidade da escrita e dos exercícios das diversas disciplinas. Ou seja, não basta assistir! É preciso fazer! “O principal são os hábitos de entender, participar, realizar, analisar, concluir ... e as pessoas acham que isso é só no Português”. 

Especificamente sobre a tela do celular, ela diz: “O celular é uma deficiência para as crianças. Uma criança de 3, 4 anos de idade sabe manusear o celular, mas a aprendizagem requer muita coisa que sobrevém do interior da pessoa, somando a quem está com ela no processo de aprendizagem. Não é simplesmente ligar, clicar e escolher onde eu quero”. 

A dica é válida para pais, professores e gestores educacionais. O celular pode ser prejudicial nas mãos de uma criança, o que já tem sido alertado inclusive por neurologistas.


Página 22 do livro Poetizando Palavras e Palavras: 

Ontem, hoje, amanhã

Em todos os dias da vida, uns fatos nos falam do ontem e todas as circunstâncias nos preparam para o amanhã.

Lázara Teixeira de Sousa