Feridinha na sola do pé resultou em amputação de parte da perna

O fato aconteceu com o arcoense Sérgio Garibaldi

Feridinha na sola do pé resultou em amputação de parte da perna

O músico arcoense Sérgio Garibaldi, 57 anos, precisou se submeter à amputação de parte da perna esquerda, segundo ele, devido a complicações em um calo na sola do pé em decorrência de diabetes, quadro infeccioso e “negligência”.     
Inicialmente era apenas uma feridinha. Ele mostrou as fotos ao CCO durante nossa conversa, na casa dele, na tarde de 28 de novembro. 
Na época, quando ainda era uma pequena ferida, ele recorreu ao Programa de Saúde da Família em um Posto de Saúde, tendo recebido atendimento médico, prescrição de antibiótico, pomadas e o serviço de curativos. No entanto, esse procedimento teria se estendido por mais de seis meses. Ele disse ao CCO que, ao longo daquele período, sempre solicitava à enfermeira o encaminhamento para o hospital de Bambuí [Casa de Saúde São Francisco de Assis, hospital de referência regional em reabilitação e atenção ao idoso].  Veja o relato que ele fez ao CCO:
 
“Era uma feridinha e comecei a fazer curativo em um posto de saúde, não vou falar qual e nem o nome da enfermeira e nem da médica. Comecei a fazer o curativo e, dessa feridinha, em seis meses, a ferida virou uma loca e depois necrosou [ele mostrou fotos ao CCO]. Nesse tempo, eu pedi para essa enfermeira me encaminhar para Bambuí quatro vezes”. 
Sérgio disse ao CCO que a enfermeira sempre respondia que havia enviado o e-mail e que responderam que não havia vaga. “[...] Não sei e também e não posso provar se é verdade. Talvez ela mandou o e-mail e ficou na mão de uma pessoa só e outros lá não ficaram sabendo. Mas, a verdade é que quando eu internei lá [no referido Hospital de Bambuí], minha vaga saiu da noite para o dia. Foi minha prima, Mara, que conseguiu pra mim”.
Continuou o relato: “Eu não vou acusar ninguém, mas quero que as pessoas saibam disso, porque perdi minha perna [...]. Quando eu contei o caso para o enfermeiro [em Bambuí], ele disse pra mim que meu nome nunca tinha passado na instituição de Bambuí.  O enfermeiro falou pra mim que se eu tivesse mandado das fotos pra lá (...), tem vaga todo dia”. 
Sérgio informou ao CCO que fez a primeira foto da feridinha em 19 de abril de 2022 e foi internado em Bambuí, já com o pé necrosado, em 21 de dezembro de 2022, portanto, foram aproximadamente oito meses nessa situação. 


Infecção grave

Ele foi para Bambuí já com o pé necrosado. Depois de ser submetido a uma avaliação, logo foi internado. Havia um processo infecioso. Depois de três dias em observação, o médico disse a ele que não havia solução, a não ser amputar o membro, sendo necessário agir rapidamente, porque era grave. 
A partir de então, Sérgio iniciou as tentativas de falar com o prefeito Claudenir Melo, por telefone. “Um dia ele encontrou comigo em um velório e meu deu o telefone dele, dizendo que, no que eu precisasse, eu poderia ligar pra ele. Mas, a partir daí, já não atendia meus telefonemas, não visualizava minhas mensagens. Aí eu passei a ligar para o Secretário”, contou.
Os dias em Bambuí foram difíceis, diante da dificuldade em conseguir encaminhamento para o procedimento cirúrgico. “Eu fiquei em Bambuí nove dias. Em seis dias eu sofri um drama tremendo”, descreve, referindo-se às tentativas frustradas para conseguir encaminhamento para o procedimento cirúrgico de amputação. A equipe do hospital onde ele estava fez os contatos, mas como era fim de ano [2022], período de férias e viagens, não conseguiram. 

Sérgio chegou a pagar uma consulta a um médico que atende em Formiga, que forneceu um laudo a ele sobre a necessidade da cirurgia. Esse médico realizava o procedimento na Santa Casa de Formiga, mas custaria R$ 12 mil. Naquela ocasião, o pé já exalava mau cheiro. “Nem eu aguentava mais, e também doía”, comentou.
Sem os R$ 12 mil para pagar pelo procedimento, retornou ao hospital de Bambuí. Ele afirma que só conseguiu o agendamento para a amputação – realizada em um hospital de Poços de Caldas em 31 de dezembro de 2022 – depois que a ex-cunhada dele recorreu ao prefeito e relatou a situação. “Ela disse a ele [ao prefeito] que eu estava correndo risco de morte e que, se eu morresse, a responsabilidade seria dele, porque eu estava tentando fazer contato e ele estava me desprezando. No outro dia, minha vaga saiu em Poços de Caldas; a Prefeitura comprou a vaga. Comprou no aperto! Fui para Poços, amputei a perna, fiquei um mês lá”. A Prefeitura também forneceu o transporte dele até Poços de Caldas, assim como o retorno. 
Sérgio retornou a Arcos e, como ficou com os pontos por mais de 30 dias, um entrou para dentro da carne e machucou, com risco de necrose. Foi quando ele procurou o atendimento de uma enfermeira particular, que realizou os procedimentos pós-cirúrgicos durante um mês, normalizando a situação. “Se eu tivesse procurado ela antes, eu estaria com minha perna aqui, mesmo com diabetes”, ele acredita. Essa enfermeira o atendia uma vez por semana e passou as instruções necessárias às enfermeiras do Posto de Saúde, para que continuassem realizando o curativo da maneira que ela orientou, com os produtos que ela entregou.


Outras dificuldades e as soluções depois dos relatos na Rádio Cidade  

Sérgio relatou ao CCO que no final de 2021, aproximadamente um ano antes da amputação da perna, ele estava com um pedido de colonoscopia e o mesmo foi entregue na Fumusa.  Disse que sempre cobrava o agendamento, mas nunca saía. 
Neste ano de 2023, precisou se submeter a uma tomografia de fundo de olho, solicitada por oftalmologista em março. Um amigo dele logo levou o pedido de exame na Fumusa. “Carlos levou o exame na Fumusa pra mim, porque eu já estava na cadeira de rodas; levou na sala do Tiago [secretário de Saúde] e o Tiago disse que iria priorizar. Passaram-se oito meses sem resposta”.  
O custo dos dois exames seria superior a R$ 2,8 mil. A renda de Sérgio é de auxílios-doença do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), que não é suficiente para que ele se mantenha e pague por exames e tratamentos de alto custo. Essa é a realidade de muitos brasileiros, justificando a dependência do poder público. 
Diante dessa dificuldade, Sérgio decidiu relatar sua situação em uma postagem no Facebook, marcando o jornalista Tadeu Nunes, da Rádio Cidade em Arcos, que logo o procurou para saber detalhes e publicar. Sérgio enviou os áudios nos dias 9 e 10 de novembro (2023) e a história foi repercutida. 
Segundo ele, no mesmo dia o secretário municipal de Saúde pediu que uma enfermeira do Posto de Saúde fosse à casa dele. “ No mesmo dia, Tiago mandou a enfermeira do Postinho vir aqui em casa pra fazer novos pedidos [dos exames], porque meus pedidos desapareceram. Aí resolveram fazer”.
Ele disse ao CCO que se submeteu à tomografia do olho na semana passada e já foi encaminhado para um especialista em retina. Agora ele está com pedidos de duas cirurgias de catarata. Só reconhece as pessoas quando estão perto dele. “Além do diabetes comprometer, estou com um sangramento no fundo do olho, vou ter que tomar três injeções e fazer aplicação de laser num dos olhos, porque no outro já não consegue fazer mais”. 
A colonoscopia ainda não foi feita, mas ele já está se submetendo aos exames de risco cirúrgico. “Estão me dando assistência, depois que denunciei”, salienta e agradece ao secretário municipal de Saúde, enfatizando: “Agora a situação está sendo resolvida. Mas poderia ter sido resolvida bem antes. Falei pra ele: olhe os problemas das pessoas, com os olhos de Deus, porque tem muita gente precisando”.
Sérgio foi secretário municipal de Cultura, Esportes, Lazer e Turismo em Arcos ao longo de quatro anos: um ano e oito meses com o Roberto Alves e dois anos e quatro meses com Denilson Teixeira. Também trabalhou no setor na Prefeitura de Japaraíba. 


Agendamento de exame quando a mãe dele já havia morrido 

Sérgio disse ao CCO que a mãe dele, Valdete Diniz Garibaldi, também ficou aguardando, sem sucesso, o agendamento de uma tomografia de fundo de olho, por meio do serviço de Tratamento Fora Domicílio (TFD) da Fumusa. 
Ela teria dado entrada ao pedido no final do segundo mandato de Claudenir Melo (18/08/2014 a 31/12/2016) ou no mandado de Denilson Teixeira (janeiro de 2017 a dezembro de 2020). Sérgio não se recorda ao certo. Ela faleceu em 31 de março de 2020. Um ano e alguns meses depois, ou seja, depois de março de 2021, Sérgio disse que recebeu a ligação da Fumusa informando o dia do exame. Era o primeiro ano da terceira gestão de Claudenir Melo. 
A mãe dele também tinha quadro de diabetes, hipertensão e alterações visuais. 

A prótese será colocada em dezembro deste ano

Situação vivenciada por outras pessoas em Arcos 

Depois de ir à Rádio, amigos ofereceram para ajudá-lo, pagando pelos exames, mas Sérgio não aceitou. Sua finalidade, ao tornar o fato público, foi alertar sobre a situação vivenciada por ele e outras pessoas em Arcos. “Não fui para a Rádio pedir ajuda, fui para mostrar o descaso na saúde. Na minha concepção, isso é de responsabilidade do poder público. [...] É um tanto de gente que está na mesma situação. Quis fazer um alerta sobre o que está acontecendo na saúde em Arcos”, concluiu.


Governo Municipal ainda não se manifestou  

O CCO disponibilizou espaço para que o Governo Municipal se manifestasse por meio de Nota. Enviamos e-mail para a Assessoria de Comunicação na manhã de 30 de novembro e encaminhamos cópia ao secretário municipal de Saúde, Tiago Carvalho. Na sexta-feira, 1º de dezembro, ele enviou mensagem por WhatsApp informando que não conseguiria naquele dia, mas concordou em enviar a Nota na segunda-feira, 4 de dezembro, até 15 horas. Até então, não tivemos retorno. O espaço continua aberto.