Infância/neurodiversidade/Arcos: indisciplina, falta de limites ou sinais de transtornos?

Diagnósticos incompletos ou errados, por falta de acesso a todos os especialistas, podem prejudicar a criança

Infância/neurodiversidade/Arcos: indisciplina, falta de limites ou sinais de transtornos?
Pintura de Edwin Thomas Roberts (1840-1917)/site de Julia Medrado: www.juliamedrado.com/pinturas-de-maes-e-filhas-lendo. Site de Julia Medrado: https://www.juliamedrado.com/pinturas-de-maes-e-filhas-lendo

É de conhecimento universal que educar as crianças impondo limites e regras é um desafio. Não é fácil e dá trabalho! 
No dia a dia, geralmente nos deparamos com crianças usando celular para joguinhos ou assistindo a vídeos. São vários os contextos em que isso acontece; um deles é a utilização do aparelho para servir como “babá” das crianças, quando os pais estão ocupados e não podem dar atenção a elas ou mesmo porque não têm disposição. 
Com isso, percebe-se que muitas estão focadas na telinha (um “novo mundo” para elas) e nada mais importa. Não querem fazer atividades escolares e nem mesmo brincar. O celular tornou-se o “brinquedo”. Em pesquisas na Internet, encontramos várias matérias sobre o assunto e alertas de especialistas sobre os riscos. Uma delas: https://saude.se.gov.br/psicologa-alerta-sobre-uso-excessivo-das-telas-por-criancas/

Conectadas ao celular em casa, há aquelas crianças que não fazem as tarefas escolares e nem se dedicam à memorização dos conteúdos, para o aprendizado. Com isso, quando estão na sala de aula, ficam desatentas e desinteressadas, porque não estão entendendo nada. Quem de nós, de diferentes gerações, já não passou por isso? Será que, em certos casos, essa condição pode ser confundida com a de crianças com transtornos? É algo para observação, reflexão e investigação, afinal, felizmente, nem tudo é transtorno. É preciso discernimento, bom senso, técnica e conhecimento científico – avaliação de especialistas em saúde e educação – para não confundir indisciplina e falta de atenção com sinais de transtornos.

Observações da SEMED
 
Diante desses argumentos que apresentamos à Secretaria Municipal de Educação (SEMED), a unidade nos informou que “os professores sempre tiveram olhar atento aos alunos para perceber as possíveis dificuldades apresentadas por algum educando de sua classe” e que “isso é bem comum, visto que as turmas sempre foram heterogêneas, e cada indivíduo tem uma forma de aprender”. 
A SEMED relatou que isso é ensinado aos educadores desde a formação inicial deles e faz parte da formação continuada oferecida nas reuniões semanais. 
“Em relação ao comportamento que pode levar a um diagnóstico, hipótese diagnóstica, ou um comportamento influenciado por meios externos, como o contexto familiar, o excesso de tela, entre outros, é imprescindível que a escola auxilie a família contribuindo para o processo de investigação”. 
A SEMED informa que há, na Secretaria Municipal de Educação, o atendimento da Psicologia Escolar e as Professoras da Sala de Recurso, que atuam tanto na formação continuada dos professores, oferecendo formações e informações em reuniões, acompanhamento nas instituições, quanto no atendimento e nas orientações às famílias. “Esses casos são investigados até que sejam concluídos, no caso de diagnóstico confirmado, é dado o devido encaminhamento”. 
Ressaltam que “todo processo prescinde da família”. “Ainda que os educadores estejam preparados, tenham domínio sobre essas questões, é primordial a participação dos pais, principalmente a aceitação e o acolhimento das orientações dadas pela escola”.

Pais podem auxiliar os especialistas na conclusão de diagnósticos condizentes com a realidade

Os pais ou responsáveis que conhecem verdadeiramente os filhos, que convivem com eles, podem auxiliar os diversos especialistas na conclusão de diagnósticos fidedignos com a realidade, possibilitando que crianças com os transtornos sejam devidamente tratadas e recebam o apoio necessário na escola. 
Do mesmo modo, esses pais irão contribuir para que não haja diagnósticos errados, uma vez que os medicamentos apresentam efeitos colaterais e devem ser usados apenas por crianças que realmente precisam deles.
Sem a proximidade dos pais ou responsáveis, o desafio de educar impondo limites e regras torna-se ainda maior, principalmente quando não há demonstrações de afeto e cuidados.

SEMED faz orientações importantes às famílias

“Amar é querer bem! Portanto, exige cuidado e atenção. A família é responsável por iniciar o processo de desenvolvimento da criança – físico e intelectual, por isso é fundamental a dedicação dos pais no acompanhamento do crescimento de seu filho. Ter o hábito de brincar com ele ainda bebê contribui tanto para seu desenvolvimento quanto para a percepção de algo atípico, além de ser a melhor forma de criar memórias afetivas, fortalecer o vínculo, a confiança e a autoestima. A educação, de acordo com a própria definição da palavra, é um processo contínuo de desenvolvimento do ser humano, possibilitando a formação e integração dele como cidadão na sociedade. Isso começa com os pais, pois eles são os principais responsáveis pela formação dos filhos como pessoa. Educar exige demasiadamente dos pais e é uma missão para a vida toda. Quando o filho tem uma educação pautada em valores, possui vínculos afetivos com a família, a escola torna-se continuidade desse espaço. Ainda que o indivíduo apresente algum transtorno ou deficiência, quando a família se faz presente e assume suas responsabilidades com a escola, com as terapias e o que se fizer necessário para o desenvolvimento dele, os obstáculos são vencidos e as habilidades são desenvolvidas”.

O CCO já publicou matéria abordando a dificuldade na obtenção de laudos, devido à necessidade de mais especialistas na saúde pública municipal:  https://www.jornalcco.com.br/neurodiversidadesarcos-maes-aguardam-providencias-para-obtencao-de-laudos


Na próxima matéria, abordaremos legislações relacionadas ao apoio às crianças na escola.

Leia também:https://educamundo.com.br/blog/tdah/