Serviço público de entrega de pães e leite em Arcos é reativado

Na tarde de hoje, 26 de janeiro/2024, o CCO esteve no imóvel onde funciona o Lactário e a Padaria Municipal Dr. Moacir Dias de Carvalho, no bairro Brasília. Verificamos que está sendo feito recadastramento das pessoas que buscam os alimentos, serviço iniciado há 15 dias.
Francisco Sebastião dos Anjos, 64 anos, foi buscar para a família dele, que mora no bairro São Judas. Ele reside em Guarulhos/SP, mas está de mudança para Arcos. “É bom! Tem que dar o maior apoio, porque nem todo dia eu tenho R$ 1 real pra comprar um pão”, disse ao CCO. 
Há vários anos, sempre no mês de janeiro, a produção fica suspensa, porque é o período de férias dos servidores e é feita a manutenção nos equipamentos, além de uma faxina mais intensa em todas as dependências.  Sr. Francisco disse que os alimentos fizeram falta nesse período. “Nós sentimos falta sim”. Perguntamos a ele se também fez falta o dinheiro usado para a família comprar pão nesses dias. Ele respondeu afirmativamente. “Fez falta sim, porque é um dinheiro que a gente poderia comprar outra coisa, como um pouquinho de café, um pouquinho de açúcar”. Sr. Francisco enfatizou que não critica essa paralisação anual. “Tudo quebra! Toda máquina quebra! Se nós quebramos, imagina uma máquina? E eles têm que ter férias também, né!”.  Finalizou reafirmando a gratidão pelos alimentos. “Da minha parte, eu agradeço demais!”. 
O CCO falou também com José Clementino Teixeira, de 76 anos, morador do bairro Olaria. Ele busca os alimentos para ele e esposa e também guardam para os netos que geralmente estão na casa no fim de semana.  É feita a entrega no bairro dele. “Eles levam lá pra mim. A partir de terça-feira vão voltar a entregar pra nós lá”.  Ele falou que nesse período em que não houve a distribuição, a família “deu um jeitinho”. “É muito bom o pão, gosto muito. Esse prefeito ajuda muito os pobres aqui”.  
A Assessoria de Comunicação da Prefeitura divulgou que a partir da próxima semana, “conforme acontece habitualmente, a distribuição será também nos bairros, a partir de terça-feira (30)”. Também foi informado, na publicação, que são distribuídos, diariamente, 9 mil pães e 4 mil litros de leite.

Paralisação anual 

No último dia 5 de janeiro, o CCO noticiou a paralisação deste ano.  Um funcionário do Jornal esteve lá no dia 03 de janeiro e verificou o fechamento. Ele foi informado que duas pessoas estavam realizando a limpeza.
Na ocasião, o mecânico Eliedson Duarte de Souza (‘Roya do Dunduca’), que trabalha nas proximidades, queixou-se da suspensão anual no fornecimento do pão e do leite à população. Ele contou que observa as pessoas humildes chegando e lamentando o fato de os alimentos não estarem sendo entregues, o que, segundo ele, também acontece nos feriados que geram recessos. “Mas, as pessoas sentem fome. Um dia que fica fechado, o povo reclama” – salientou.

Necessidade de reparos com frequência 

Roya questionou o fato de ter que suspender a produção durante 30 dias, além de ter relatado que as máquinas estão sempre estragadas.  “De 15 em 15 dias se ouve que não há produto, porque a máquina quebrou. Um ou dois dias depois, volta funcionar”, comentou.
Quanto às férias de funcionários, ele argumentou: “É necessário que as quatro pessoas entrem em férias ao mesmo tempo?”. 
Na ocasião, o CCO fez os questionamentos ao Governo Municipal, em busca de informações para esclarecer à população. Perguntamos sobre as quantidades mensais produzidas (de leite e pão); se existe cadastro de beneficiários; o número de pessoas cadastradas e beneficiadas; o número de serviços de reparos/manutenção que interromperam as atividades em 2023, impossibilitando a entrega do pão e do leite; se existe uma empresa de manutenção contratada mediante licitação para realizar as manutenções necessárias; quais os valores pagos anualmente para a manutenção e consertos; quanto a Prefeitura gasta para manter o estabelecimento, considerando a aquisição de matérias-primas, custos de pessoal e demais despesas para o funcionamento  do lactário e da padaria.
A Assessoria de Comunicação, em resposta, enviou a seguinte mensagem por aplicativo (WhatsApp): "Nós estamos em número reduzido de funcionários. Por ora, nós não temos condições de aplicar questionários para nenhum veículo de comunicação". O Jornal CCO tentou falar com o secretário de Desenvolvimento e Integração Social, Sérgio Veloso, mas a ligação não foi atendida. Ele enviou mensagem dizendo que retornaria em breve. Até o fechamento da matéria, não houve retorno. Depois da publicação, também não tivemos retorno.

Em 2019 foi apurado que pessoas que não tinham necessidade estavam recebendo as doações; o então prefeito tomou providências

Em matéria publicada pelo Jornal CCO em 10 de maio de 2019, foi noticiada a paralisação na produção do pão e a substituição por pão francês (compras por meio de licitação). Em entrevista concedida ao CCO naquela época, o então prefeito, Denilson Teixeira, disse que foram feitos cortes na distribuição de pão e leite produzidos no Lactário e na Padaria Municipal. Segundo o prefeito, depois de um estudo realizado inclusive pelo CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e pelo CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), verificou-se uma mudança na realidade social de Arcos comparada a 25 anos atrás e que, naquela ocasião (ano 2019), foi apurado que pessoas que não tinham necessidade estavam recebendo as doações, havendo, inclusive, uma pessoa que foi vista saindo com sacola de pão e levando para cães. Denilson informou ao CCO que a produção do pão seria paralisada e que, para as famílias que realmente necessitam, os pães seriam comprados em padaria (pão francês), inclusive reduzindo custos para o Município. O leite continuaria sendo produzido. 
Não houve a “terceirização” do serviço do lactário. Optou-se pela realização de uma licitação para a compra dos pães. Além disso, iniciou-se, no imóvel do Lactário e da Padaria Municipal, a oferta de cursos de confeiteiro, padeiro e outros, para as pessoas interessadas. Foi uma das medidas adotadas com a finalidade de manter o compromisso social e também economizar. Na gestão de Denilson Teixeira (2017 a 2020) houve queda na arrecadação municipal. Dados do histórico da Secretaria Municipal de Fazenda mostram que em 2017 houve queda em comparação ao ano anterior, 2016, no valor de R$ 6,1 milhões (R$ 6.195.984,00). A arrecadação de 2018 também foi inferior à de 2016.  Já a partir de 2019, penúltimo ano da gestão, houve crescimento, que tem sido mantido. Uma das dificuldades na gestão de Denilson foi quando a repasses do Governo Estadual, que deixaram de ser feitos por um período. 
A produção dos pães foi reativada nos primeiros meses de 2021, atual gestão de Claudenir Melo.