Três moradoras do Lar Pousada dos Berto contam sobre suas vidas

Conheça as histórias de vida de Regina, Geralda e Maria, residentes do Lar Pousada dos Berto

Três moradoras do Lar Pousada dos Berto contam sobre suas vidas
Regina, Geralda e Maria do Lar Pousada dos Berto (arquivo da instituição)

Mais três histórias de vida do Lar Pousada dos Berto. São relatos simples, mas emocionantes, sobre as vidas de três mulheres, residentes no Lar, contados por elas próprias

Regina Luíza, de Pains

Meu nome é Regina Luíza de Souza, tenho 86 anos, nasci no dia 6 de junho de 1936 em Pains – MG. Sou filha da Maria Luísa de Jesus. Ela já está no Céu, por isso estou morando aqui, mas estou doida para ir para onde ela está. Meu pai chamava-se João Pedro de Souza. Meu pai era bom, trabalhador e vivia bem.

Nós erámos 12 irmãos, sete homens e cinco mulheres. Das mulheres, quatro se casaram e todas já morreram. Sobrou só eu, sou a caçula. Os irmãos que se casaram foram todos para Goiás. Nunca tive namorado porque eu não quis. Eles iam lá em casa, mas eu não aparecia nem na sala.

Eu me aposentei na cozinha. Cozinhava para um e outro. Até já quiseram me levar para o Rio de Janeiro, mas eu não quis largar minha mãe. Estudei pouco, só até o 3º ano. Tive que parar para trabalhar porque era pobre demais. 

Eu tenho minha casa em Pains até hoje. Uma sobrinha minha que mora lá. Depois que a minha mãe morreu eu vim para o Lar. Tem 12 anos que estou morando aqui. Eu que quis vir para o lar porque eu não podia ficar lá sozinha. Eu acho bom morar no Lar, gosto daqui. Hoje de família tenho só essa sobrinha em Pains, o restante deve estar espalhado pelo Brasil.


Geralda, de Pará de Minas

Me chamo Geralda Lourenço da Silva, eu tinha um filho, mas Deus o levou. Faz 14 anos que ele faleceu. Ele chamava-se Luís. Eu nasci em Pará de Minas – MG em 10 de agosto de 1929. Tenho hoje 93 anos. 

Meu pai chamava-se João Miguel e minha mãe, Maria Cândida de Jesus. Meu pai era um homem bom e trabalhador. Minha mãe também era boa, era parteira, não fazia pouco caso de ninguém e não insultava ninguém. Tiveram 13 filhos e meu pai ajudou a criar. Nunca tiveram filho no hospital.

Eu morei em Pará de Minas até os sete anos, depois mudamos para Itaúna, para meu pai trabalhar na roça. Eu vim para Arcos tem muito tempo. Meu filho era empregado em Itaúna, foi enviado para Arcos, casou com uma moça daqui, construiu um barraco para mim e eu vim para cá.

Me casei com Sidnei. Ele era de São Joaquim de Bicas, era alto e moreno e não era feio não. Só que não era boa pessoa e sofri muito com ele. Ele era criminoso e eu não sabia. Com sete meses de casados a polícia foi buscá-lo e ele foi enviado para Ribeirão das Neves. Fiquei um ano e tanto lá. Ele adoeceu na cadeia e morreu.


Maria das Dores, da Comunidade da Ilha

Meu nome é Maria das Dores de Almeida. Não sei onde eu nasci, mas acho que foi na ‘Ilha’ mesmo. Eu não tive mãe e fui criada pela minha tia, Esmelinda. Eu tinha uma irmã gêmea, ela foi criada pela minha tia Laura. A minha mãe morreu no dia em que nascemos. Meu pai era vivo, ele foi casado duas vezes. Ele chamava-se Sebastião Corino. Tenho muitos irmãos. 

Eu me casei com Otacílio de Almeida. Ele era muito bom e a gente combinava demais. Não acho outro igual a ele não. Após uma semana de casada nós nos mudamos para o Paraná, para ele poder trabalhar. Lá era muito bom, gostei demais de lá. Tivemos três filhos, Demair, Odair e Amandir. O primeiro morreu no Paraná, o segundo morreu em Minas Gerais. 

Eu voltei para Arcos porque falaram que meu pai tinha morrido, mas chegando aqui me falaram que era mentira. Eu já trabalhei fora e já pelejei demais com a vida. Eu fazia de tudo. Trabalhei no Derli do Jesus por 35 anos. Eu morava lá perto.

Eu vim para o Lar porque meu marido me trouxe, ele morreu aqui. Eu acho bom morar aqui. No princípio eu chorei demais, mas agora já me acostumei.