A rãzinha arcoense em risco de extinção

A rãzinha arcoense em risco de extinção

O Carste do Alto São Francisco é uma extensa região de afloramentos calcários que se distribui predominantemente pelos municípios de Arcos, Pains e Doresópolis. Por milhões de anos passou por variados processos geológicos, levando esta unidade geológica ao aspecto encontrado atualmente. Milhares de cavernas e paredões rochosos se escondem entre as 'matas secas', paisagem já comum para aqueles que vivem por aqui.

Em Arcos, a região cárstica está situada principalmente a oeste, pelas comunidades Boca da Mata, Corumbá e Calciolândia; é popularmente conhecida como 'pedreiras' entre os locais, pelo aspecto marcante da paisagem.

Muito frequentada por aqueles que buscam contato com a natureza, possui uma infinidade de riquezas naturais, dentre elas o famoso Rastro de São Pedro, a 'reserva do Corumbá' (Estação Ecológica de Corumbá) e o Poço das Aranhas.

Legenda: paisagem característica do carste de Arcos

Além disso, o Carste do Alto São Francisco é importante pela biodiversidade que abriga: as matas e cavernas servem de lar para diversas raridades da fauna e flora, contando até mesmo com espécies que são encontradas unicamente por aqui.

Relativo a fauna, as cavernas são importantes ambientes para a sobrevivência de animais que vivem exclusivamente no interior destas, como aranhas, formigas e até mesmo 'peixes cegos'.

Nesse cenário vive um pequeno anfíbio, popularmente chamado de 'sapo-cárstico' (Ischnocnema karst). Descrito pela ciência no ano de 2012, é pouco conhecido até hoje, mais de 10 anos depois.

A única população conhecida desta espécie está em Arcos, em uma área característica do carste, com afloramentos rochosos e matas secas. A localidade está situada no interior da Reserva Particular de Patrimônio Natural da CSN (RPPN-CSN), próxima ao complexo industrial da mesma.

Legenda: sapo-cárstico registrado na única localidade de ocorrência da espécie

No mesmo artigo de descrição da espécie, os autores já chamavam atenção para as ameaças, principalmente a expansão da mineração e o desmatamento para agricultura, destruindo os ambientes apropriados para o sapinho.

Estes fatores levaram o sapo-cárstico a ser incluído na última atualização da lista oficial de espécies ameaçadas de extinção do ICMBio, no ano de 2022. Classificada como vulnerável (VU), os principais motivos foram a restrita área de ocorrência, que se encontra no interior de mineradora; e o declínio contínuo de áreas apropriadas e da qualidade do habitat, pela exploração do calcário e dolomito.

É importante que através dos processos de licenciamento ambiental, os empreendimentos localizados na região possam colaborar para o desenvolvimento sustentável do Carste, fortalecendo o conhecimento acerca da espécie e garantindo que não só esta, mas toda a biodiversidade do Alto São Francisco se perpetue pelas futuras gerações.

O Coletivo Arcos Socioambiental se coloca como um agente mediador dos diversos setores da sociedade arcoense, trabalhando pela conciliação da conservação ambiental e o desenvolvimento econômico, ambos relevantes para o bem-estar de todos.

Pedro Augusto da Rocha Silva

Biólogo e fotógrafo de natureza

pedroaugusto159@hotmail.com 

Ig: @obscuranature