A RIQUEZA LITERÁRIA DE MARIANA/MG: o poeta do luar e a aldravia

Confira os comentários de Francielle Ferreira, em sua coluna Mística Literária, abordando Alphonsus Guimarães e sua obra em visita à casa de Cultura de Mariana/MG

Set 18, 2024 - 11:46
Set 18, 2024 - 14:41
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A RIQUEZA LITERÁRIA DE MARIANA/MG: o poeta do luar e a aldravia

No dia 24/08/24 realizei um grande sonho: conhecer o Museu Casa ALPHONSUS DE GUIMARAENS, localizado em Mariana/MG. Que cidade acolhedora! Fiquei muito emocionada ao aprofundar ainda mais sobre nossa rica literatura mineira.

Eu já escrevi sobre Alphonsus de Guimaraens, o poeta do luar, nesta coluna. Inclusive, expus o seu poema mais famoso: ISMÁLIA. No museu dele tem uma sala com belíssimos quadros que retratam as cenas contidas nos versos desse poema.

Ademais, no local tem uma escadaria preenchida com palavras que mais aparecem em suas obras. O museu é incrível, contém os detalhes biográficos desse ilustre autor, através dos belos retratos (inclusive, o de sua musa inspiradora Constança), móveis, objetos pessoais, primeiros exemplares e de sua biblioteca particular. Cada cômodo exala poesia!

Posteriormente, conheci a Casa de Cultura que é sede da Academia Marianense de Letras e tive a honra de conhecer pessoalmente dois grandes nomes da literatura mineira: Andreia Donadon Leal e J. B. Donadon-Leal. Os dois sabem acolher muito bem os visitantes. 
Andreia Donadon é uma mulher espetacular! Eu nunca havia conhecido uma mulher com tantos dons verdadeiramente poéticos. Ela é escritora, ocupa a 9ª cadeira da mencionada academia, além de ser artista plástica. Tive o prestígio de ver suas pinturas e bordados fantásticos! É graduada em Letras pelo UFOP, Especialista em Artes Visuais, Arteterapia, Mestre em Literatura e Doutora em Educação.

José Benedito Donadon-Leal também é um ilustre escritor, Presidente da Academia Marianense de Letras e Professor Emérito da UFOP. Tanto ele quanto Andreia foram muito cordiais. A nobre escritora me mostrou toda a Casa de Cultura. Inclusive, os delicados bordados das bordadeiras que fazem parte da Academia Marianense de Bordados. Também explicou o contexto histórico de sua construção e me deu uma aula poética exclusiva. Ela me apresentou à ALDRAVIA, cuja definição é a seguinte:

“É um poema curto criado no dia 17 de setembro de 2010 na cidade de Mariana/MG, pelos poetas do Movimento de Arte Aldravista: Andreia Donadon Leal, Gabriel Bicalho, J. B. Donadon-Leal e J. S. Ferreira. É uma poesia curta de seis versos univocabulares, ou seja, seis linhas poéticas de palavras-verso, uma palavra em cada verso.

A poesia faz referência à palavra “aldrava”, nome de um batente de porta antigo. A ALDRAVA era comum na maioria dos casarões antigos de Mariana, Ouro Preto e outras cidades históricas. O neologismo Aldravia, criado por Andreia Donadon, é a junção de ALDRAVA e VIA, numa alusão ao caminho da poesia.

O símbolo da ALDRAVIA é o ipê amarelo que desabrocha em dias secos e cinzentos do inverno.”

Essa definição está contida em um dos notáveis livros de Andreia, intitulado: O ABC DAS ALDRAVIAS: NAS SENDAS DA ALDRAVIA, publicado em 2022, pela editora ALDRAVA LETRAS E ARTES. Esse livro também explica os critérios que o Poeta Aldravista deve observar, cumpre citar ao menos dois:

“Iniciar os versos com letras minúsculas. Em caso de nomes próprios, vale a opção do autor; a divisão em palavras-versos já implica pausa; por isso, não é recomendada a utilização de pontuação. Além disso a pontuação limita [...]”.

A literatura mineira deu o primeiro passo para que a literatura brasileira tivesse uma forma própria de poema, sem copiar estruturas estrangeiras, como sempre fez. Minha eterna gratidão a todos os membros do Movimento de Arte Aldravista! Vocês dão orgulho para o nosso país!
Frisa-se que existe o Jornal Aldrava Cultural que aprofunda a definição de ALDRAVIA, apresenta a biografia dos criadores, projetos, entre outros conteúdos culturais. Esse jornal pode ser acessado pelo site: https://jornalaldrava.com.br/. Adquiri alguns livros da Academia Marianense e também ganhei alguns que vou expor em próximos artigos desta coluna.

Para finalizar, cumpre expor algumas aldravias que arremataram meu coração de poetisa: 
meu                 declama              anjo:
coração             poeta                 uma
rosa                 solitário            borboleta
radioativa          coreto           pousou-lhe
bomba:            repercute              as
relógio!              poesia             costas
           

 (Andreia Donadon)            (Israel Quirino)