Arcoenses pelo Mundo : Denise, uma 'arcoense pelo mundo' em férias aqui em Arcos

Shirlei Denise doas Santos, arcoense que vive em Portugal faz 19 anos, está no Brasil para férias prolongadas.

Arcoenses pelo Mundo : Denise, uma 'arcoense pelo mundo' em férias aqui em Arcos

Shirlei Denise dos Santos (61 anos), nascida em 16 de maio de 1962, é filha de Marcelino Pereira dos Santos e Aparecida Pereira do Nascimento. Ela estudou da Escola Municipal Yolanda Jovino Vaz, Escola Estadual Dona Berenice de Magalhães Pinto e Colégio Dom Belchior.

Ela é cuidadora de idosos, profissão que aprendeu em Portugal, onde vive há 19 anos. Denise conta que saiu do Brasil por curiosidade de conhecer outros países, em 11 de fevereiro de 2004, rumo ao continente europeu. “Escolhi Portugal, por causa do idioma, e me instalei em Póvoa de Santa Iria, nos arredores de Lisboa”. Póvoa de Santa Iria está a menos de 20 quilômetros de Lisboa, a capital portuguesa, e é ligada por trem, ônibus e automóvel.

Denise conta: “Chegando em Portugal, 70 dias depois, comecei a trabalhar, cuidando da senhora Maria Arlete, uma portuguesa nata, e com ela fiquei até seu falecimento em 27/12/2022”. Ela diz que aprendeu o ofício de cuidadora trabalhando, sob a orientação da filha de Dona Arlete que é médica, a Dra. Nazaré. Ela também lembra de que também aprendeu sobre a profissão com amigas brasileiras que conheceu em Portugal e que já trabalhavam nessa área. 

Férias prolongadas

Denise diz: “Depois do falecimento de D. Arlete, fiquei na casa dela até o mês de maio, arrumando as coisas. Daí, decidi dar um tempo e vir ao Brasil, em férias prolongadas. Mas, devo retornar, em novembro ou dezembro. No máximo até janeiro, retornarei”. 

Ela diz que decidirá se continuará em Portugal ou se irá para a Bélgica, ou ainda talvez Londres. “Agora já sou cidadã europeia. Tenho ‘BI’ luso-brasileiro”. Ela explica que BI é o Bilhete de Identidade e que, com a cidadania portuguesa, ela já tem livre acesso aos demais países europeus, exceto o Reino Unido. A explica que a exceção é feita dada a saída do Reino Unido da União Europeia.

Diferenças

“O primeiro ‘choque' foi o clima. Cheguei no início de fevereiro: aqui era verão e lá, praticamente, no auge do inverno, quando fazia 4°C. Mas, agora já estou habituada”.

Ela conta que a segunda dificuldade que enfrentou na sua chergada a Portugal foi o idioma: “Apesar de ser da língua ser a mesma, 'língua de Camões', as palavras não são as mesmas. Então há aquele choque, palavras que aqui eu não conhecia, fui conhecer lá”. Ela conta que a adaptação ao idioma foi rápida. Em seis meses já estava ajustada, pois convivia com D. Arlete 24 horas. Aliás, cuidadora de idosos, ela explica, é considerando trabalho era ‘interno’ (a cuidadora que mora no trabalho). Com isso, ela avalia que a adaptação ao idioma foi fácil e muito rápida.

Denise foi conquistada por Portugal e justifica: “Foi um pouco de cada coisa: a beleza do país, os portugueses que, embora como nós mineiros eles sejam ‘um pouco desconfiados’, me conquistaram. Gosto muito dos portugueses”. Enfim, ela diz que gosta do país, da comida e considera um lugar tranquilo e seguro. Gosta do ‘fado’ [gênero musical tipicamente português], principalmente na voz de Mariza [nome artístico de Marisa dos Reis Nunes, uma cantora portuguesa, nascida em Moçambique que é muito popular no gênero]. “Gosto de tudo naquele país” – afirma entusiasmada.

Saudades

“Quando eu estou lá, eu sinto muita saudade de casa, principalmente da família e dos amigos. Quando estou aqui, sinto saudades das pessoas que lá deixei”. Denise conta que, aqui, tem irmãos e sobrinhos e que retornou ao Brasil algumas vezes, ao longo destas quase duas décadas vivendo nas terras d’além-mar. A primeira vez em que voltou foi já 2007 e daí,  ela visitava o Brasil a cada dois anos. Mais recentemente, tem vindo ao Brasil anualmente, exceto durante a pandemia (2020 e 2021). Perguntada se, quando vem ao Brasil tem vontade de ficar, ela respondeu prontamente: “Ainda não senti esta vontade”, apesar de gostar dos dois países [referindo-se a Portugal e ao Brasil].

Denise junto à 'Sagrada Família' em Barcelona - Espanha

Sobre seu retorno a Portugal ela conta que, neste tempo em que está no Brasil, está refletindo sobre seu futuro: “Neste momento, eu estou aqui justamente para pensar no que farei. Pensar se eu retornarei para lá (Portugal) ou se irei para a Bélgica”. No entanto, ela não descarta voltar a viver no Brasil.

“Mas, retornando para lá (Europa), voltarei na mesma profissão, na mesma área, pois deixei um bom trabalho realizado, com recomendações maravilhosas. Cuidar de idosos uma atividade que eu não conhecia. Conheci lá em Portugal e aprendi a amar. Os idosos precisam de atenção e carinho” - afirma. 

Ela explica porque, se não for para Portugal, irá à Bélgica: “Em primeiro lugar, na Bélgica eu tenho amigos (brasileiros), tenho casa para ficar. Já conheço, já estive e gostei. Em segundo pelo salário, que lá é bem maior”. Mas ela ressalva que, se for para voltar ao Brasil, aqui ficará de bom grado.

Situação econômica

“Lá o dinheiro vale mais. Vale cinco vezes mais. O euro valia R$ 5,40, na última vez em que olhei. Mas, não gosto de fazer essa comparação, porque se trabalho e recebo em euros, também gastarei em euros”.  Além disso, ela afirma que, atualmente, a situação está mais complicada em termos de abastecimento e acredita que seja decorrente da guerra entre Rússia e Ucrânia, que trouxe repercussão também para Portugal. Ela diz que, dependendo dos gastos de cada um, é possível ter uma vida boa e com tranquilidade. 

“Nos 19 anos que estou lá nunca vi pedintes pelas ruas. Mas existe a pobreza encoberta”. Ela explica que, diferente do brasileiro, se o português não tiver o que comer, ele não baterá na porta do vizinho ao lado para pedir ajuda. Ele passará fome. É uma diferença cultural”. 

Ela complementa, reafirmando que existe a pobreza de fato. Mas, ela nunca teve contato, em todo o tempo em que lá está.

Serviços públicos

Sobre auxílio governamental, ela conta que há o salário-desemprego e além deste, existe auxílio para filhos menores, desde que comprovada a carência e a situação de risco socioeconômico vivido pela família.

Sobre a saúde pública, ela conta que não tem reclamações. “Eu tive que fazer uma cirurgia e tudo foi pago pelo Serviço Nacional de Saúde português (SNS). Não tive despesas, nem com análises ou exames. Fui muito bem tratada. Não tenho razão para queixas”. Ela complementa, dizendo que também não há queixas, entre seus amigos brasileiros que também necessitaram do serviço público em saúde português.

Denise também relata que a educação, desde o início até o final do equivalente ao nosso ensino Médio, num total de 13 anos, é universal e gratuita, tanto para portugueses, quanto para imigrantes. Já para o ensino superior, há instituições públicas e privadas.

Ao finalizar e entrevista, ela destaca que já visitou diversos lugares: Reino Unido, Bélgica e Espanha e está realizando seus objetivos para sair do Brasil.

Em Londres, com a London Eye também conhecida como Millennium Wheel (Roda-gigante chamada, em português, de 'Olho de Londres')