Castro Alves: o poeta que combateu a escravidão

Confira o artigo de literatura de Francielle Ferreira, em sua coluna Mística Literária, enfocando a obra do poeta baiano Castro Alves

Castro Alves: o poeta que combateu a escravidão

Conhecido como poeta dos escravos, Antônio Frederico de Castro Alves, era natural de Muritiba/BA e nasceu em 14/03/1847. Ele tratava de assuntos sociais pertinentes, como a abolição da escravatura e a importância da pátria. Além disso, também elaborou belíssimos poemas que contêm temas góticos.

A única obra publicada pelo escritor em vida se chama ESPUMAS FLUTUANTES e é composta por 54 poemas feitos em diferentes períodos. Dentre os assuntos abordados tem-se: a transitoriedade da vida, a morte e o amor. Cumpre destacar dois de seu poemas que tratam sobre a dualidade das trevas versus luz: Pelas Sombras e As Trevas (traduzido de Lord Byron).

“Senhor! Um facho ao menos empresta ao caminhante.
A treva me assoberba... O’ Deus! Dá-me um clarão!”
(Trecho de Pelas Sombras).

“O sol brilhante se apagara: e os astros,
Do eterno espaço na penumbra escura,
Sem raios, e sem trilhos, vaguevam.”
(Trecho de As Trevas).

Alguns dos poemas de Castro Alves também dispõem sobre a morte. Veja-se:

“Morrer... quando este mundo é um paraíso,
E a alma um cisne de douradas plumas:
Não! O seio da amante é um lago virgem...
Quero boiar à tona das espumas.”
(Trecho de Mocidade e Morte).

“Quando eu morrer... não lancem meu cadáver
No fosso de um sombrio cemitério...
Odeio o mausoléu que espera o morto
Como o viajante desse hotel funéreo.”
(Trecho de Quando eu Morrer).

Sem dúvidas, seus poemas são intrigantes, mas ainda falta destacar um de seus poemas mais icônicos que não está no livro Espumas Flutuantes: O NAVIO NEGREIRO. A editora Antofágica confeccionou uma obra belíssima desse poema com imagens artísticas impressionantes! Esse poema profundo nos mostra como a construção social da dominação dos negros desaguou no racismo que se iniciou no período da colonização e, infelizmente, perdura na atualidade. 
É extraordinário como Castro Alves conseguiu unir em um mesmo poema o cenário horrendo de um navio negreiro em meio a uma paisagem paradisíaca. Essa oposição prende sobremaneira a leitura nos fazendo dançar oscilantes – entre a beleza e o horror – como espumas flutuantes. Seguem alguns trechos:

“Bem feliz quem ali pode nest’hora
Sentir deste painel a majestade!...
Embaixo – o mar...em cima – o firmamento...
E no mar e no céu – a imensidade!”

[...]

“Mas que vejo eu ali...Que quadro d’amarguras!
É canto funeral!...Que tétricas  figuras!...
Que cena infame e vil!...
Meu Deus! Meu Deus! Que horror!
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho, 
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...”

 
O autor consegue escancarar como a escravidão é desumana e o racismo deveria ser inexistente diante de todas as atrocidades perpetradas. A começar pela forma como os negros vinham sendo torturados dentro dos navios. Outro poema muito comovente nesta mesma temática é A Canção do Africano:

“Lá na úmida senzala, 
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no chão, 
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão ...”

[...]

“E a cativa desgraçada
Deita seu filho, calada,
E põe-se triste a beijá-lo,
Talvez temendo que o dono
Não viesse, em meio do sono,
De seus braços arrancá-lo!”

Retira-se uma enorme angústia desses versos, pois dói só de imaginar se estivéssemos na mesma condição: escravos em outra pátria sem poder ficar com os próprios filhos. Simplesmente abominável causar dor em outras pessoas por causa da cor e da cultura diferente. Que possamos seguir o exemplo desse íntegro poeta e combater qualquer resquício de racismo!

¹  Medonhas.
² Terra natal.