MAS, AMEI VOCÊ

Confira mais um artigo de Francielle Ferreira, em sua coluna Mística Literária

MAS, AMEI VOCÊ
Francielle Ferreira, colunista de Literatura do Jornal CCO

O amor muitas vezes é invocado para mascarar violências domésticas. Infelizmente, tais violências vão sendo banalizadas e normalizadas pela sociedade. Em virtude da recorrência de assassinatos contra mulheres, principalmente no âmbito familiar, foi até mesmo criada uma lei específica. Trata-se da Lei 13.104/2015 que tornou o feminicídio um homicídio qualificado, além de incluí-lo no rol de crimes hediondos, cujas penas são maiores. 

Esse tema delicado é sempre necessário, tendo em vista que é um problema cultural na sociedade brasileira. Infelizmente, muitos homens são criados com ideias ultrapassadas de que as mulheres são inferiores e devem ser subjugadas. A formação do caráter masculino fica então maculada por um machismo doentio. 

Existe clara objetificação e sexualização das mulheres que está enraizada em várias falas e costumes brasileiros. Para expor essa realidade horrenda e instigar reflexões profundas sobre o assunto, foi criada a antologia de contos MAS, AMEI VOCÊ, que foi organizada por Peterson Azevedo (Dark Books Coletâneas). Tive a honra de contribuir com o conto intitulado O DECLÍNIO

O conto cuida da vida de Dolores, uma mulher que sofria violência doméstica do marido Mauro. Quando chegou no limite de sua dor, ela acaba decidindo tirar sua vida. São relatadas as formas de violência que sofrera ao longo da relação e como isso desaguou em um ponto que ela não conseguia mais existir. Já estava morta em vida, então a morte real acabaria se tornando um presente. Segue um trecho da carta de Dolores:

"O seu olhar era o farol do meu declínio. Era como pular em meu precipício particular. Mas no fim eu sempre me machucava. Eu sabia. Você sabia. Éramos movidos pela dor que um causava no outro. Dois insanos que achavam que voariam acorrentados. Monstros escondidos em melosas declarações. Você sabia. Eu sabia. Um de nós morreria nessa louca agonia de querer dominar com o pretexto de amar. Adeus". 

Cumpre destacar um aviso importante sobre o livro. Veja-se:

“Essa obra em momento algum concorda com as atitudes dos seus personagens, mesmo que sejam fictícios. Essa antologia tem como finalidade, através dos seus contos extremos, chocar a população para fazê-la refletir sobre esse aumento absurdo do feminicídio, infanticídio e a banalidade da violência.

Essa antologia está cheia de gatilhos, dor e sofrimento, não é aconselhável para pessoas sensíveis ou que se impressionam com facilidade”. 

Caro leitor(a) que você possa refletir sobre esse tema e jamais ser conivente ou omisso diante da violência doméstica.

“Para que o mal triunfe, basta que os bons fiquem de braços cruzados”. Edmund Burke.