O Carnaval nos tempos dos blocos de rua e da Escola de Samba Imperatriz Arcoense

O Carnaval nos tempos dos blocos de rua e da Escola de Samba Imperatriz Arcoense
Dalvo Lopes Macedo, o Rei Momo de Arcos

Carnaval sempre está carregado de boas lembranças e histórias. Em Arcos, mesmo com menos de 50 anos de ‘folia’ já tem muita história para contar. Nas memórias de três personagens protagonistas carnavalescos, o CCO vem contar alguns momentos, as histórias dos antigos carnavais, de blocos nos salões das sociedades e nas ruas, da memorável e requintada escola de samba Imperatriz Arcoense.

Enéias: lembranças, fotos e histórias

Enéias Antônio da Cunha é conhecido pelos palcos, como músico, e dono de seu reconhecido museu, que guarda registros da história de Arcos. Por isso, o CCO procurou Enéias.

Ele conta que conhece bem as histórias dos carnavais de Arcos, pois começou tocando no palco do Arcos Recreativo Clube, onde, segundo ele, começaram os primeiros bailes de Carnaval em Arcos, lá pelos meados dos anos sessenta. “O salão era pequeno para mais ou menos cem pessoas e pouca gente podia participar, porque era caro associar-se”. O Arcos Recreativo Clube situava-se na rua Getúlio Vargas.

Enéias ia lembrando, enquanto mostrava as fotos da folia que estão em museu e em seu acervo pessoal. Ele conta que ‘Pelé’ era o puxador de samba na época. Os blocos de que se lembra eram: Grupo Renovação e Vida (Terceira Idade); Colombinas; Cometa Loucura (numa alusão à passagem do cometa Halley), Gente Braba e outros mais, dos quais não se recorda dos nomes.

Conforme o músico, as bandas de carnaval que tocavam nos clubes e na praça eram: Samantha Band, Asa Delta e banda Ness, entre outras.

Mais de 10 anos depois dos bailes de salão é que o Carnaval ganhou as ruas, graças ao incentivo do então prefeito Paulo Marques de Oliveira os blocos de Carnaval desfilavam, saindo e retornando ao clube. Segundo ele, o ano era 1979. Os blocos passavam pela cidade, entravam e saíam dos bares para voltar às ruas.

Dalvo Lopes Macedo, o ‘Rei Momo’

O professor Dalvo Macedo, enxadrista, ex-vereador e realizado do Sopão Solidário, pouca gente sabe, foi e segue sendo o “Rei Momo de Arcos”, possuidor da chave da cidade (símbolo do reinado). “Se houve outro Rei Momo em Arcos, eu desconheço”.

Dalvo diz que sua primeira lembrança carnavalesca em Arcos, Paulo Marques (o então prefeito) mandou construir um barco sobre um caminhão e, na sequência, foi criada a escola de samba Imperatriz Arcoense, com apoio e orientação da família Cavalcante que veio do Rio de Janeiro. “As origens da escola de samba são cariocas”.

Dalvo conta que sua estreia foi marcou sua vida. Dizendo-se uma pessoa tímida, ele diz que foi estimulado a participar, também por ser naturalmente participativo. “Que eu saiba sou o primeiro e único Rei Momo de Arcos e fui motivado por diversas pessoas, Inês, Marlene, os Cavalcante, o prefeito Plácido, entre outras pessoas. Fizeram uma roupa especial, a coroa e a chave da cidade, tudo dentro dos padrões do Rio de Janeiro”.

Ele conta que no primeiro dia ‘seu organismo desandou’. “Tomei muito limão com Coca-Cola. Eu estava sentado num ‘buggy’, contornamos a praça do Vivi e descemos até a praça da Matriz pela Jarbas Ferreira Pires. Ao chegar na esquina do Colégio Yolanda e me deparei com a multidão, me perguntei: ‘Meu Deus, o que eu estou fazendo aqui?’”. Dalvo conta que avistou seus companheiros do bloco carnavalesco ‘Os Imprestáveis’ estavam perfilados fazendo um corredor para ele passar. “A praça inteira levantou e eu me levantei no buggy. Foi uma emoção pela recepção que eu tive. Eu nunca vi tanta gente. Era a primeira vez que a cidade via uma escola de samba e eu estavam na frente. Foi o momento mais emocionante da minha vida. Incorporei a figura do Rei Momo”.

Dalvo desfilou com a escola por quatro vezes. Noutros carnavais, ele saía como Rei Momo ou como participante, noutros blocos, tais como o Viracopos e Super Amigos. A última vez que participei foi em 2019. “Ao todo saí em dez carnavais, como Rei Momo quatro anos na escola, uma com bloco e outras como participante”.



O Rei Momo encerra, lamentando a falta de cuidado com a preservação do patrimônio cultural da cidade, a iniciar pela separação de uma secretaria própria para a cultura.

O destaque Donizetti Bernardes

“O Carnaval de Arcos era maravilhoso. Saímos na ‘Imperatriz Arcoense’ com 400 ou 500 pessoas”. Ele conta que Carnaval estava começando muito bem e os hotéis ficavam cheios.

Donizetti Bernardes (foto: arquivo pessoal)

Ele lamenta que não foi dada sequência, pois hoje, estaria competindo com grandes metrópoles. “Eu sempre era destaque e, além de mim, vinha o ‘Bolão’, um amigo de Belo Horizonte”.

'Bolão' e Sônia, destaques (foto: arquivo pessoal Donizetti Bernardes)


Ele lembra que a escola se concentrava no Parque Poliesportivo, descia pela avenida Governador Valadares e rua Jarbas Ferreira Pires, até encontrar a praça da Matriz. “Era a apoteose. As pessoas amavam e esperavam pelo Carnaval. Eu me sentia muito feliz e participava não só como destaque. Eu ajudava na orientação de fantasias, alegorias, comissão de frente que Manoel e Inês Cavalcante que deram início a este trabalho na Imperatriz Arcoense. Era um Carnaval limpo e bonito”.

Ele afirma que as famílias vinham para assistir. Era muito sadio e todos participavam. Donizetti lembra de que faziam parcerias com os clubes e os blocos também participavam. “Sou a favor de resgatar esta forma de cultura e trazer o lúdico para a avenida”.

Zé da Laíde, compositor e puxador

“Participei de muitos carnavais em Arcos, como cantor, puxador e montava as escolas de samba. O samba-enredo era composto por mim e era uma coisa muito legal, sabe! ” disse José Roberto de Paulo, o Zé da Laíde.

Ele conta que nos carnavais de salão, cantou e canta até hoje. “Eu sou cantor de marchinhas. Devo ser um dos poucos que ainda canta marchinha aqui. Sou da época de 77, 78, quando comecei a cantar marchinha e canto até hoje. Neste Carnaval, cantou na praça da Manoela e praça da Matriz. O Carnaval para mim é tudo! ”

Foto: arquivo pessoal Zé da Laíde


Zé da Laíde lamenta que não é mais a alegria de antigamente, pois a idade vai avançando e perdeu muitos amigos que participavam com ele.

Zé também faz crítica à falta de interesse político. “Se for para fazer, a gente está aí para ajudar. Mas, precisa ter líder para fazer isso”.
Histórias são muitas, lembranças e saudades dos antigos carnavais também. O Jornal CCO agradece a participação de Enéias (músico), Dalvo (Rei Momo), Donizetti e Zé da Laíde.

Veja outras fotos...

Foto: arquivo pessoal Donizetti Bernardes

Escola Imperatriz Arcoense

Fotos da Exposição "Anos Luz de Carnavais de Nossa Cidade" (Prefeitura de Arcos 2019)

Fotos: Museu do Enéias