Projeto Canário-da-terra, salvando um pássaro extinto em Arcos

Projeto do cardiologista e empresário Dr. Sebastião Rodrigues da Cunha foi a salvação da espécie que se encontrava extinta em meados dos anos 80

Projeto Canário-da-terra, salvando um pássaro extinto em Arcos

“Na minha infância, andando pelas fazendas, nos deparávamos com as árvores ‘amarelinhas’ de canários e a gente achava isso muito bonito”. Assim, o médico Sebastião Rodrigues da Cunha começou o relato sobre sua iniciativa de repovoar Arcos com canários da terra. Ele lembra que aquela imagem marcou muito a sua infância em Arcos, pela beleza. 

Com o passar do tempo, Sebastião foi morar em Belo Horizonte e, retornando a Arcos, percebeu que não existiam mais canários, em meados dos anos 1980.


“Maluquice”

“Então (1991), iniciamos um projeto para repovoar a cidade de canários”. Ele conta que as pessoas com quem ele falava achavam que era maluquice e acusavam os pardais, dizendo que teriam dizimado os canários da terra. “Eu questionei essa versão” – disse.

Nesse contexto, ele reafirmou sua ideia: “Como sou admirador de canários, resolvi pegar essa empreitada”, referindo-se à proposta de repovoar Arcos com a espécie. Ele conta que teve sorte ao encontrar companheiros que colaboraram. 

Colaboradores

Os primeiros exemplares foram doados pelo sargento Allan que, à época, era o responsável pela “Polícia Florestal” (atual Polícia Militar Ambiental). “Começamos muito empolgados com o nosso projeto e, para a surpresa das pessoas, logo a Fazenda Paraíso começou a ter vários exemplares (Sebastião é proprietário do empreendimento Águas do Paraíso).

O médico conta que o sargento, para começar o projeto, lhe entregou dois casais de canários e abriu a porta da gaiola. “Mas, é assim, sargento?” – interrogou Dr. Sebastião. Ao que o militar respondeu: “É assim que nós vamos começar e é assim que vai dar certo”. “Então, ele me entregou a guarda dos pássaros já soltos na natureza” – lembra.

O médico instalou as primeiras ‘casinhas’. “No dia seguinte, os canários já encontraram as casinhas, começaram a fazer ninhos e, em pouco tempo, veio uma grande quantidade de filhotes”. 

O médico esclareceu que um casal dá uma cria de meia dúzia de filhotes e de duas a três crias por ano. “O canário é bom de reprodução”.

Foi então que ele começou a contar com outros colaboradores, dos quais destacou dois criadores de canários. “O falecido Sr. Mauro, pai do nosso querido Dr. Cleudir Guimarães, que cedeu, naquela época, mais alguns exemplares do seu criatório, oferecendo grande impulso ao projeto”. Outro criador apoiou a proposta, Sr. Hermano, que cedeu outros exemplares da sua criação. Assim, o projeto foi ganhando corpo.

“Os canários se expandiram e chegaram até as primeiras fazendas. As pessoas empolgadas colocavam casinhas”. Ele comenta que houve alguns tropeços, pois algumas pessoas ainda desejavam capturar os pássaros e acreditavam que valia a pena ter o canário aprisionado. Mas, era muito controlado. A própria população denunciava esse comportamento, lembra o médico.

“Num prazo de dois a três anos, tivemos notícia sobre a chegada dos primeiros casais (de canários) na cidade [região urbana]. As pessoas ficaram muito empolgadas; compraram alpiste, painço e colocavam ovo cozido para fortalecer as aves”. Ele citou exemplo, falando de Levi Bomfim, proprietário de uma fazenda localizada no perímetro urbano, que colocou alimento para os pássaros. 

“Com essa empolgação toda da comunidade arcoense, o canário se expandiu por toda a nossa cidade e, hoje, se faz presente em todas as cidades da nossa região”. Dr. Sebastião destaca que o canário-da-terra havia sido extinto da nossa microrregião. 

O investimento foi pequeno: na aquisição de alpiste e painço, as duas rações prediletas do canário. Porém, ele disse que foi somente nas primeiras semanas, porque esse pássaro tem ótima habilidade para encontrar seu alimento na natureza.

Segundo Dr. Sebastião,  na microrregião há centenas de milhares de canários. “É difícil você acordar pela manhã e não ser recebido pela cantiga de um canário”.

O idealizador e entusiasta do projeto diz que o sucesso se deu graças à participação de pessoas simples da comunidade e que não existe acompanhamento, à exceção de apreciar os canários cantando.

“Conseguimos provar que não foram os pardais os responsáveis pela extinção. Foram os humanos que dizimaram os canários. Quero deixar uma mensagem: "Dizimem menos. Criem mais!” – encerrou o Dr. Sebastião.