Projeto Girassóis em Arcos: aulas gratuitas para pessoas surdas

Também é disponibilizado o curso de Libras para os ouvintes, com mensalidade de R$ 80,00

Projeto Girassóis em Arcos: aulas gratuitas para pessoas surdas
Projeto Girassóis em Arcos: aulas gratuitas para pessoas surdas
Projeto Girassóis em Arcos: aulas gratuitas para pessoas surdas

A professora arcoense Juscelina Vidal, 42 anos, desenvolve no Município, no bairro Santo Antônio, o Projeto Girassóis. Consiste em alfabetizar pessoas surdas, ensinar a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e Língua Portuguesa, atendendo às necessidades específicas de cada um. 

A ideia surgiu em 2017, quando ela estava escrevendo o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), no qual abordou a alfabetização de pessoas surdas. Na ocasião, apurou que, em 2010, de acordo com o IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, havia em Arcos 1.736 pessoas com deficiência auditiva com decibéis em níveis variados de perca.

Juscelina é formada em Magistério, Educação Infantil e Pedagogia; é pós-graduada em Libras, tem 2ª Licenciatura em Letras Libras, 2ª Licenciatura em Educação Especial e outros cursos na área da educação, destacando "Interpretação em foco com os intérpretes", de Marília Mendonça.

Ela conhece a comunidade surda de Arcos e observava que a realidade, em termos de alfabetização, ficava a desejar. "Depois de ter realizado uma pesquisa de campo para findar esse TCC sobre a comunidade surda, fiquei com aquilo sempre em pensamento: por que essa alfabetização defasada?"

Há dois anos, quando ainda não trabalhava nas escolas, surgiu a ideia do projeto para colocar em prática a alfabetização para pessoas surdas, sem cobrar nada. Estão incluídos os cursos de Libras e de Língua Portuguesa.

Já os ouvintes pagam a mensalidade de R$ 80,00 pelo curso de Libras. "É um trabalho demorado, pois requer muita paciência e dedicação", comenta.

Atualmente, Juscelina trabalha na escola municipal Santo Antônio pela manhã, na escola estadual da Vila Boa Vista à tarde e desenvolve o Projeto Girassóis nas noites de quinta-feira.

No Projeto, está lecionando para quatro pessoas surdas e 10 ouvintes, de diferentes faixas etárias. O curso de Libras acontece às quintas-feiras, de 18:30 às 20 horas.

Várias pessoas surdas já foram beneficiadas, inclusive em cidades vizinhas. "Alguns alunos já aprenderam a Libras e colocaram em prática em outras cidades, beneficiando também outras pessoas surdas", relata.

A sede é na residência de Juscelina, na cobertura, em um espaço adaptado. Todos os gastos são mantidos por ela, inclusive com material impresso. 

LIBRAS PARA TODOS

 "Um ouvinte comunica com todos da escola, mas por que o surdo não pode? Na inclusão não pode haver barreiras".

Em março de 2022, quando foi trabalhar nas duas escolas (Vila e Santo Antônio), decidiu divulgar sua ideia para a turma toda, envolvendo todos da sala de aula, inclusive a professora regente, com o curso de Libras. 

Juscelina enfatiza que a inclusão de Libras não pode ser somente para a criança surda. "Não faz sentido! Libras é para todos. [...]. Um ouvinte comunica com todos da escola, mas por que o surdo não pode? Na inclusão não pode haver barreiras".

Ela diz que nessas duas salas de aula nas quais foram ministradas aulas inclusivas para todos, percebeu o quanto as duas alunas foram beneficiadas, com tantos amiguinhos na sala praticando a comunicação em Libras. "A expressão facial delas, de alegria, era visível (...). Antes, crianças tristes; hoje, sorrisos que dão gosto".

A criança que não participava das aulas regulares durante a pandemia e foi alfabetizada no projeto 

Quando perguntamos qual foi a situação mais emocionante vivenciada no projeto, ela respondeu: "Tenho várias, mas dentre elas cito uma que me marcou muito. Na época da pandemia, eu entrei na salinha virtual da professora do meu filho e percebi que uma criança nunca participava das aulas. Encontrei com a mãe da criança, que mora no mesmo bairro que eu, e perguntei o porquê da ausência. Simplesmente com muita humildade, respondeu que não tinha Internet. Eu ofereci o espaço do projeto para ela usar [...], com a Internet, mas essa criança tinha uma dificuldade de aprendizado; não era alfabetizada. A mãe disse que não entendia a criança e disse que achava que ela ouvia pouco, mas que não tinha condições para arcar com o tratamento [...]. Então, nós, do Projeto Girassóis [incluindo alunos], resolvemos fazer uma rifa para arrecadar fundos e pagar esse tratamento para a criança. [...] Descobrimos que a criança tinha perca auditiva. [...] O tempo passou e ela foi alfabetizada por mim, lê divinamente", conta.

Necessidades da comunidade surda em Arcos

Segundo Juscelina, o maior anseio da comunidade surda é o aparelho auditivo, cuja entrega demora anos.

Quanto ao acesso à educação pública especializada, ela disse que “é muito complicado e requer profissionais com entendimento na área da Libras”. “Às vezes é falho, estamos fazendo um trabalho de formiguinha, mas no final, faz uma diferença enorme”.

Outra dificuldade é o acesso a consultas e sessões com fonoaudiólogos. “Quanto à fonoaudiologia, é muito escasso”.

Diante das dificuldades, muitos precisam pagar pelos atendimentos. “Quase tudo tem que pagar; e as famílias são humildes”.

Se você, leitor, quer ajudar no desenvolvimento do projeto Girassóis de alguma maneira, informe-se e conheça o trabalho. Atualmente, estão precisando de um bebedouro.

A sede do Projeto Girassóis é na Avenida Dr. Moacir Dias de Carvalho, 489, bairro Santo Antônio. O contato é: (37) 9 9129-6847.