Quem Sou Eu? Um olhar psicanalítico sobre a autonomia emocional - Parte II
Fernanda Batista – psicanalista

"Eu nasci assim, cresci assim, sou..." Quantas vezes essa frase reflete nossa forma de pensar e agir, especialmente em nossos relacionamentos?
No dia a dia, a rotina pode tornar um relacionamento morno, a ponto de esfriar gradativamente até que um dos parceiros desista de lutar pelo outro.
Hoje, vamos refletir sobre as decisões relacionadas a “quem eu sou”. Decisões que muitas vezes interferem diretamente nos nossos relacionamentos, fazendo com que cada pessoa se torne mais fria ou carente, ou até mesmo queira desistir, buscando novos caminhos — muitas vezes, caminhos solitários.
Como terapeuta de casais, trago uma pergunta fundamental: você está disposto(a) a mudar? Está preparado (a) para transformar uma vida monótona e cansativa em algo diferente, mais significativo?
Para que isso aconteça, é necessário considerar três pontos essenciais:
1. A importância do diálogo e da escuta:
O diálogo é vital, mas não basta falar; é preciso ouvir. De nada adianta conversar se não há quem realmente escute.
2. O perdão como base para o recomeço:
Muitas vezes, nossas dificuldades em perdoar estão ligadas ao que o outro fez ou deixou de fazer. É necessário maturidade para aceitar que o outro pensa, sente e age de forma diferente.
3. A redescoberta da sexualidade do casal:
A sexualidade vai muito além do ato sexual. Pequenos gestos diários, como um toque, um beijo ou até mesmo um simples “bom dia”, fazem toda a diferença na construção da conexão. Quando não falada, discutida e compreendida, a sexualidade pode se tornar um ponto doloroso na relação.
Falar sobre casamento, namoro ou relacionamentos interpessoais é desafiador quando as pessoas não se reconhecem. É diferente dizer “quem eu sou” e afirmar “eu sou assim”. O “quem eu sou” envolve emoção, gostos, trabalho, sensações. Já o “eu sou assim”, muitas vezes reflete egoísmo, a síndrome de Gabriela: “Eu nasci assim, cresci assim, vou morrer assim.”
Estamos em constante busca de conhecimento em várias áreas da vida: no trabalho, nas notícias, na sociedade. Mas, frequentemente, negligenciamos o aprendizado sobre o casamento, sobre a pessoa que está ao nosso lado, seja namoro ou na vida a dois. Isso nos torna, como bem exemplificado, obesos de conhecimento e anoréxicos de amor.
Cada indivíduo tem necessidades específicas que entram no campo do “quem eu sou”. Um homem pode precisar de um momento de desconexão, de uma pausa semanal para relaxar — o que chamamos de “caixa do nada”. Uma mulher, por sua vez, pode desejar mais que uma simples ida ao salão de beleza: ela anseia por conexão emocional, por uma conversa sincera, por 30 minutos de carinho no colo do parceiro.
Os homens muitas vezes não admitem, mas também têm carência de diálogo e atenção. No entanto, é mais fácil recorrer à máscara do “machão” que vai ao happy hour com os amigos.
Diante disso, pergunto a você: é possível mudar? Ou, mais importante, você quer mudar ou prefere desistir?
A terapia de casal existe para ajudar. Seu objetivo é desvendar padrões e construir pontes entre homem e mulher, tornando claro que o conhecimento do “quem eu sou” é muito mais profundo do que a rigidez do “eu sou”. Afinal, a mudança não é uma imposição; é uma escolha que nasce de dentro do indivíduo.
Se você não leu a parte I do artigo, acesse o link:
https://www.jornalcco.com.br/quem-sou-eu-um-olhar-psicanalitico-sobre-a-autonomia-emocional