Recicladores de Arcos precisam de melhor estrutura para prestar o serviço 

Além disso, moradores de alguns bairros não contribuem; em abril, o pessoal da Associação foi surpreendido com uma cobra viva dentro de uma caixa 

Recicladores de Arcos precisam de melhor estrutura para prestar o serviço 

Uma das principais queixas em Arcos, quando se trata de serviços públicos, refere-se à sujeira e poluição visual da cidade. Lotes vagos e “praças” tomados pelo mato, restos de materiais de construção nas calçadas e até mesmo nas margens das ruas, entulhos de todo tipo nos cantos, restos de lixo espalhados nas vias – esse tem sido um cenário comum no Município, atraindo insetos, ratos e até cobras e escorpiões.

No final de novembro/2023, o CCO produziu matéria relacionada ao mato nos lotes, informado que o Município notificou 29 proprietários, porém, não recebemos informação sobre o resultado da ação. Link:  https://www.jornalcco.com.br/os-29-lotes-foram-limpos-apos-notificacao-da-prefeitura-de-arcos

Também publicamos, no dia 15 de dezembro, a queixa de um morador da comunidade rural Boa Vista, mostrando o lixo acumulado na entrada da comunidade. Ainda não tivemos um retorno do Governo Municipal. Link: https://www.jornalcco.com.br/bairros-de-arcos-na-boa-vista-faltam-agua-iluminacao-limpeza-urbana-e-as-criancas-vao-a-escola-por-um-caminho-de-terra

No que se refere à coleta de lixo orgânico (úmido), devem haver justificativas, por exemplo, para a demora no recolhimento de galhos de árvores caídos pela cidade e outros tipos de resíduos. Algumas possiblidades: O número de servidores tornou-se insuficiente diante do crescimento da cidade e do volume de lixo? Faltam equipamentos adequados? Muitos moradores da cidade e comerciantes estão colocando o lixo na calçada nos dias em que não há recolhimento? Enfim, quais são as causas de tanta sujeira em algumas regiões e o que precisa ser feito para reverter esse cenário? E quanto aos restos de materiais de construção? Ficam os questionamentos para o poder público e também para a população.

Agora, vamos falar da coleta seletiva!

Primeiramente, cabe à população separar o lixo seco corretamente. Na área de serviço devem estar disponíveis alguns sacos exclusivos para colocar esse tipo de material e NÃO devem ser colocados lixos orgânicos nesses mesmos sacos. Os materiais recicláveis – que valem o sustento dos recicladores – devem ser levados para as calçadas nos dias e horários corretos da coleta seletiva. É muito importante que materiais de vidro sejam devidamente acomodados em caixas de papelão, para não ferir os catadores. 

Será que toda a população de Arcos está cumprindo essas tarefas adequadamente? Segundo a presidente da Associação dos Recicladores (ARA) de Arcos, Ana Flávia de Rezende (34 anos), moradores de alguns bairros – a exemplos de Santo Antônio, Vila, Esperança (I e II), Floresta, Castelo, Buritis – fazem a separação corretamente sim! Já outros, a exemplo do Esplanada e Brasília, mandam “tudo misturado”.


O CCO esteve na sede da ARA na manhã de quarta-feira (27 de dezembro de 2023). A presidente falou das necessidades da associação, que tinha 22 membros um ano atrás e agora está com apenas 11 (10 mulheres e um homem). Um dos motivos na redução do pessoal é a queda acentuada no preço dos materiais. “Um material que era R$ 4,10 um ano atrás, hoje ele está em R$ 1,50” – 63,4% de queda. Os rendimentos vão diminuindo e as pessoas desistem de trabalhar na área. “O material chega, mas na hora que a gente vai revender, já não compensa”, explica Ana, acrescentando que sempre há muito lixo orgânico misturado, dificultando para os trabalhadores que fazem a separação. Isso prolonga o tempo com essa atividade e gera desgaste físico e mal-estar, devido ao mau cheiro.

“Veio uma cobra viva dentro de caixeta [...]”

Segundo a presidente da ARA, até mesmo fezes, bolsas de sangue e agulhas são enviadas para o setor, evidenciando o descaso com os trabalhadores. O caso mais assustador aconteceu em abril deste ano: “Veio uma cobra viva dentro de caixeta. Na hora que a gente abriu, lá na esteira, ela deu um bote na menina. Ela foi esperta! [não foi atingida]. Foi tão assustador, a gente ficou tão em pânico, que nem tiramos foto”.

Apenas uma prensa e um caminhão inadequado


A ARA tem apenas uma prensa e está na expectativa de ganhar mais uma no final de janeiro de 2024, por intermédio dos vereadores.

Contam com apenas um caminhão para realizar a coleta dos materiais em todos os bairros e o mesmo não é adequado. Nele trabalham: um motorista da Prefeitura, uma associada da ARA e um funcionário de uma empresa que presta serviços para a Prefeitura e que está “emprestado”.

Sempre que há reclamações, a presidente da ARA informa a essa equipe que fica no caminhão. Ela explica que não é responsabilidade deles recolher resíduos secos que estejam misturados com material orgânico. “Se tiver muita coisa misturada, lixo úmido, eles não trazem, porque fica muito difícil pra nós, porque o caminhão é horrível para carregar e para descarregar. Então, se tiver terra, concreto, madeira, mato, comida (...), aí não pegam”, informa.


Ana relatou ao CCO que a Prefeitura irá contratar a associada da ARA que já trabalha no caminhão e também o funcionário terceirizado: “Os dois vão ser fichados pela Prefeitura agora. Vão receber da Prefeitura”. Ela está feliz com a iniciativa, uma vez que falta pessoal na ARA para realizar esse serviço externo.

No entanto, segundo a presidente, seriam necessários dois caminhões de prensa para melhorar a prestação dos serviços, uma vez que aumentou o número de moradores e bairros na cidade. Ela está tentando conseguir pelo menos um, inicialmente.


Diante de tantas queixas, segundo Ana, o prefeito disse a ela que a coleta seletiva da rua será de responsabilidade da Prefeitura e não mais da ARA. “Por isso que ele está fichando a associada daqui [que fica no caminhão]. Eu não vou ter responsabilidade mais com o lixo da rua, vou ter responsabilidade aqui na ARA. A gente vai fazer a coleta, mas a responsabilidade vai ser da Prefeitura, porque eu não estava tendo associado para fazer as coletas”, disse, afirmando que houve semana em que foram feitas coletas em apenas três dias, porque não tinha pessoal suficiente para esse trabalho.  “Aí o Baiano falou pra mim que vai arrumar os funcionários, fichar eles pela Prefeitura e vão ficar por minha conta e trazer o lixo todos dos dias. Isso está me ajudando demais. No momento, foi muito especial pra mim. [...]”, comentou. 
Segundo ela, se conseguirem os dois caminhões de prensa, serão necessários mais três ou quatro funcionários, sendo dois para cada caminhão e os outros de reserva.

“Pelo menos um salário, seria uma bênção!”

Na ARA existe uma dificuldade de manter associados, devido ao baixo rendimento e às condições insalubres de trabalho. “A pessoa trabalha aqui um mês e no outro mês não quer voltar. [...] Se a Prefeitura fechasse com nós pelo menos um salário, seria uma bênção”, diz a presidente, comentando que também tem que retirar uma parte do dinheiro das vendas para pagar pela alimentação dos associados (inclusive almoço) e outra para pagar o INSS, também de todos.

“A solução seria a Prefeitura assumir pelo menos um pouco (...); aí, todo mundo ia querer trabalhar aqui, porque teria um salário e mais o que a gente tirar aqui”, faz o pedido.

Rendimento dos associados em dezembro/2023 foi de R$ 750,00
“A gente vai vivendo do jeito que dá”

No mês de dezembro de 2023, o rendimento de cada um dos associados foi de apenas R$ 750,00. Já chegou a R$ 2.100,00, de 2021 para 2022. “A gente estava tirando R$ 2.100,00; R$ 1.800,00; depois, foi só caindo”.

Os associados também recebem, a cada três meses, a “Bolsa Reciclagem”, mantida pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), em Minas Gerais. Neste mês, a ARA recebeu R$ 660 reais. O valor foi divido entre os 11 associados. Dia 1º de novembro, receberam, referente ao segundo trimestre de 2023, R$ 4.900,00 [valor foi divido entre os 11 associados]. Já chegaram a receber R$ 15 mil, em 2018. De cada repasse, 10% é utilizado para comprar itens necessários para a associação e o restante é repartido entre os associados. Com esses 10%, Ana Flávia mobiliou a cozinha da ARA.

Como se vê, o rendimento é abaixo do mínimo. Mesmo trabalhando bastante, eles dependem do poder público para se manterem. Estão recebendo cesta básica por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Integração Social da Prefeitura. “A gente vai vivendo do jeito que dá. Aqui tem muita gente idosa, mãe de família solteira. Custo tanto a ganhar meu dinheiro, que eu não gasto à toa”. Ela finaliza dizendo que alguns continuam lá por “medo de não darem conta de fazer outra coisa” e outros porque já se acostumaram e gostam do trabalho.