Série Bairros de Arcos: ‘Cruzeiro’, mais do que um bairro, uma grande família

Série Bairros de Arcos: ‘Cruzeiro’, mais do que um bairro, uma grande família
Lançamento oficial do bairro Cruzeiro (1963)

Em continuidade à série ‘Bairros de Arcos’ e aproveitando a proximidade com o ‘Niterói’, que foi o foco da edição anterior, o Jornal e Portal CCO “subiu o morro” para conhecer a trazer para nossos leitores outro bairro vizinho: Cruzeiro.

Para reunir as informações, Geraldo Moisés foi o guia. Geraldo reside no Cruzeiro desde 1986 e é, novamente, presidente da Associação do Bairro Cruzeiro. Ele diz que o bairro Cruzeiro iniciou em 1963, com terras que foram vendidas por dois proprietários:  Gilberto Alves de Faria e João Teixeira Borges (‘Juanico’), eles é que começaram a ‘lotear’ os terrenos. Geraldo diz que, na verdade, não funcionava como um loteamento tal como é feito atualmente. “Quem vendia, abria trilha sem muita preocupação com medições e sem qualquer infraestrutura, havendo ruas que sequer tinham continuidade”. 

Ele conta que, no início, não havia água, luz e nem ruas. O acesso era feito por trilhas para cavalos e os primeiros ‘veículos’ a subirem foram os carros de bois.

A Associação é que impulsionou e fortaleceu o bairro e isso aconteceu 30 anos depois do início – outro aniversário importante neste ano. Geraldo explica que o fortalecimento e as melhorias aconteceram pela sucessão de metas estabelecidas pelos próprios moradores que, por meio da Associação, conquistaram o calçamento de ruas, rede de energia elétrica, entre outros sucessivos melhoramentos. Ele conta que grupos da Associação acompanhavam todas as reuniões da Câmara de Vereadores e, depois, voltavam à Associação para relatar aos demais o que aconteceu e elaborarem ações em busca da satisfação das necessidades da comunidade, como preveem os objetivos estatutário: “buscar a conquista de melhorias para a comunidade”. 

Atualmente, o bairro que completa 60 anos. É formado por trabalhadores, pessoas adultas e idosas. 

Os primeiros moradores

Onofre Dias, mais conhecido como ‘Tinofo’, é filho de Maria Rosa Dias e João Dias (já falecidos). Ele conta que, quando chegou ao Cruzeiro (1965), tinha apenas 9 anos - hoje está com 67. Dos oito irmãos, somente quatro estão vivos. “A nossa foi a primeira casa do Cruzeiro”.  Ele conta que, naquela época, a água era obtida em cisterna e a luz era com lamparina. Lembra de que, se alguém ficasse doente, tinha que carregar. Mas, emocionado, destacou que era a melhor ‘coisa do mundo’ morar no Cruzeiro e que, comparando com os dias atuais, era muito seguro. “Podia dormir na rua que ninguém iria mexer com você”. No Cruzeiro, Tinofo constituiu família: esposa e dois filhos. Dos irmãos, somente duas irmãs moram no bairro. Ele morou em diversas casas do bairro, mas nunca saiu de lá.

Jarbas Batista de Assunção ou simplesmente ‘Cumpadre Jarbas’, 77 anos, veio para o Cruzeiro da rua Augusto Lara, em 1978, Na época, com 45 anos,  estava casado e com três filhos. “Quando chegamos aqui, havia umas 20 casas espalhadas e cercadas de mato, onde se chegava por trilhas esburacadas”. Ele lembra que a luz estava chegando ao Cruzeiro e que era muito bom morar no bairro. Os mantimentos e até as roupas eram comprados no ‘comércio de balcão’ ou armazém. A principal casa de comércio chamava-se ‘Casa Niterói’ – ela ficava na Rua Prof. Francisco Fernandes (bairro Niterói), em frente onde hoje é a padaria. 

'Cumpadre Jarbas' e seus netos, 'Tinofo' junto ao Cruzeiro

Cumpadre Jarbas mora bem ao lado do único que restou, dos três cruzeiros que haviam sido implantados no bairro. 

Um bairro junto a bairros vizinhos

É difícil, para quem não conhece, distinguir os limites dos bairros Niterói, Cruzeiro, Novo Horizonte, Esperança I, pois são quarteirões contíguos e, sendo lado a lado, só os moradores percebem e nem sempre sabem explicar os limites. Isso acontece, diz Geraldo Moisés, porque os bairros foram surgindo como se fosse uma só comunidade – somente o Esperança II apresenta um perfil diferente. Também por isso, no Cruzeiro não há casas de comércio, as necessidades sempre foram e são supridas na Rua Francisco Fernandes (Niterói), onde há de tudo para comprar. 

O próprio Centro Social do Bairro Cruzeiro, construído pela Associação, está localizado no Novo Horizonte – bairro que está ao lado do Cruzeiro. Geraldo esclarece que a intenção da entidade não era construir um Centro para atender exclusivamente ao bairro Cruzeiro, e sim para atender toda a comunidade que é constituída também pelos demais bairros circunvizinhos. Ele destaca: “O Centro Social foi construído pelos moradores, inclusive os 3.800 tijolos usados no muro foram confeccionados pelos próprios moradores”.

Quadra de Esportes do bairro Cruzeiro

Cabe ainda destacar a Igreja de São Francisco que é vinculada à Paróquia de Nossa Senhora do Carmo e que também atende a toda a comunidade.

Enfim, muito mais há para contar das conversas com essas pessoas. São, na verdade, histórias de uma grande família chamada ‘Cruzeiro’, e como disse o Cumpadre Jarbas: “O Cruzeiro dá um livro!” - ... quem sabe, ‘Seu Jarbas’?

Reportagem: Nando Noronha

Matéria produzida na Redação do Jornal e Portal Correio Centro Oeste. Jornalistas e proprietários de veículos de comunicação que desejam reproduzir nosso conteúdo devem citar a fonte: jornalcco.com.br