Envelhecimento cerebral: é possível retardar o processo?

Confira o artigo do Dr. Tarcísio Silva em sua coluna de Saúde, abordando o tema do envelhecimento do cérebro

Envelhecimento cerebral: é possível retardar o processo?
Dr. Tarcísio Narcísio Silva, colunista de Saúde do Jornal CCO

Assim como acontece com todo nosso corpo, o cérebro passa por profundas modificações ao longo da idade. Da mesma forma que nossos músculos, coração e demais órgãos, nosso cérebro tem suas capacidades reduzidas com o envelhecimento. Precisamos ter cuidado para não considerar doença algo que é apenas parte de um processo natural. Se tivermos a benção de vivermos o bastante, iremos experimentar essas mudanças com a idade. E se tivermos alguns cuidados, poderemos agir para que essas mudanças sejam mínimas, trazendo poucas limitações na nossa velhice.

O que é normal durante o envelhecimento do cérebro?

Com a idade nosso cérebro passa por mudanças em sua estrutura, bioquímica e funcionamento. A partir dos 60 anos de idade, nosso cérebro atrofia progressivamente devido à diminuição do número de neurônios em algumas regiões (principalmente as regiões do córtex pré-frontal, hipocampo e cerebelo). Ocorre queda do fluxo de sangue para o cérebro, provocando uma redução do metabolismo cerebral. Alguns hormônios cerebrais, como serotonina e dopamina, têm seus níveis reduzidos e as conexões entre os neurônios (chamadas sinapses) ficam menores e lentas para transmitir informações.

Todas essas alterações logicamente vão provocar mudanças no funcionamento do cérebro. O impacto dessas alterações vai depender da predisposição genética de cada pessoa, das condições de saúde física e mental e hábitos de vida. Os principais prejuízos são:

· Memória declarativa: é a memória para fatos da própria vida e para fatos aprendidos, como datas de aniversário, nome completo dos parentes, fatos ocorridos na época do trabalho ou estudos, notícias lidas em jornais ou assistidas na TV.

·Memória de trabalaho: é a capacidade para guardar informações recentes como número de telefone, senhas ou algum recado mais elaborado. A redução dessa memória é também a responsável pela perda da rapidez para solucionar problemas. Com isso, alguns idosos evitam atender telefones, interfones ou resolver problemas nos bancos.

· Atenção dividida: capacidade de prestar atenção em duas coisas diferentes ao mesmo tempo, como dirigir e conversar. Ocorre também dificuldade de prestar atenção durante uma conversa em ambiente muito barulhento. Muitos idosos se afastam de ambientes sociais por esse motivo.

Um fato interessante é que a chamada Memória de procedimentos não costuma ficar comprometida com a idade, a não ser que o paciente tenha algum problema neurológico. Essa memória é aquela que permite que a pessoa sempre se lembre como tocar um instrumento musical, utilizar ferramentas ou dirigir.

Também interessante é que, a partir dos 30 anos de idade, nossa capacidade de memória costuma ter uma leve queda. Isso melhora de forma importante por volta dos 50 aos 60 anos de idade e depois volta a apresentar uma queda lentamente com o envelhecimento.

Como retardar o processo?

Inúmeros estudos científicos nas últimas décadas são unanimes em afirmar que os hábitos de vida podem retardar ou reduzir as limitações do envelhecimento cerebral. Entre esses hábitos destacam-se: evitar tabagismo, reduzir etilismo, praticar atividades físicas, alimentação balanceada, buscar atividades prazerosas (música, dança e viagens). Leituras, buscar novas habilidades (aprender tocar um instrumento musical ou artesanato) e atividades beneficentes (trabalhos voluntários, caridade) estão hoje entre as principais recomendações porque estimulam a liberação de dopamina e serotonina e melhoram a comunicação entre neurônios.